sexta-feira, 16 de dezembro de 2016

Um cAUso

Dizem que cachorros sentem as nossas emoções e agem de acordo com elas. Ouvi uma pessoa falar sobre isso hoje e lembrei de um episódio que aconteceu comigo, há alguns anos.

Fazia apenas alguns dias que Willy, meu yorkshire, tinha acabado de morrer. E eu fui visitar meu primo, que tinha um cachorro. Por acaso, ele também era um yorkshire e já tinha esbarrado com o meu em algumas ocasiões, na praia. Na mesma hora eu lembrei de Willy e fiquei bem triste. Existe uma espécie de vazio que um bichinho deixa na gente e não é facilmente preenchido.

Eu conhecia o cachorrinho do meu primo e sabia que ele tinha uma personalidade bem diferente de Willy, que era amigável com estranhos. O york dele era manso, mas não era de fazer festinha ou ser carinhoso com quem não era o dono.

Só que, neste dia, algo aconteceu. Eu estava sentada numa cadeira e o cachorro olhou para mim, que tentava fazer um carinho nele, já sabendo que seria ignorada. Então, ele pulou no meu colo. E suportou o carinho por algum tempo, até que desceu. Meu primo ficou confuso, dizendo que não era do feitio do cachorro. Mas ele foi o primeiro a entender:

- Cães sentem quando a gente está triste - ele disse. - Eles entendem.

E é verdade, ele entendeu. Entendeu o vazio que havia e que ele podia aliviar me dando um segundo do carinho dele.

E ele me deu.

Willy

sexta-feira, 2 de dezembro de 2016

O primeiro passo

Há algo de mórbido em se interessar por uma pessoa porque ela parece triste. Mas eu admito que me aproximei dela porque algo na expressão desamparada e nas lágrimas silenciosas me despertou a irresistível vontade de salvá-la. De ser seu protetor, abraçá-la, arrancar tudo o que se passava de ruim dentro dela e levar um sorriso àquele rosto.

Ela estava num bar, tomando o que parecia ser a sétima dose se tequila. Tequila era uma bebida conhecida por ser tomada em comemorações; quando alguém passava em um concurso, quando se formava na faculdade, quando seu melhor amigo anunciava que ia se casar. Mas eu sabia que ela não devia estar comemorando nada, era meio óbvio. Mesmo assim, por algum motivo, ela virou mais uma dose dos copos enfileirados à sua frente e enfiou um pedaço de limão na boca.

Seu olhar estava perdido nas garrafas da prateleira do bar, à sua frente. Não que ela as observasse; era como se o olhar sem cor passasse através dos rótulos amarelados. Ela estava ali e não estava. Talvez não quisesse estar. Mas eu queria. Queria que ela visse o que passava ao seu redor, queria que ela olhasse e realmente enxergasse alguma coisa. Queria chamá-la de volta à vida. Vida que ela estava perdendo nesses instantes de autopiedade.

Queria que ela me visse.

Não sei como consegui dar o primeiro passo, mas depois dele foi fácil chegar até ela. Aquele primeiro passo foi talvez o mais difícil da minha vida. Mas nunca me arrependi.
Imagem: Flickr - Creative Commons
"Don't you cry tonight"

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Essa é uma postagem do Projeto 642 coisas - 210. Eu não me arrependo.

sexta-feira, 25 de novembro de 2016

A última nota

Da música nasci e da música morreria.

Foi em um quartinho dos fundos de uma escola de música que eu fui concebido. Meu pai era professor de piano e minha mãe uma das faxineiras do local. Cresci envolvido em música e fiz dela minha vida. Gostava particularmente de Bach, por suas notas mais dramáticas. Suas peças tinham algo de melancólico que me encantavam desde criança. Sempre achei que havia algo de belo na tragédia.

Com onze anos, já era o melhor da minha turma de violino. Com vinte e um, tocava em concertos e em um restaurante chique na parte alta da cidade. Se antes era um prodígio, a vida adulta me fez perceber que eu era só mais um entre tantos, todos vivendo em busca do pagamento no fim do mês. Mas ainda amava o que fazia e isso me trazia algum consolo.

Casei-me, tive filhos, me separei. Meus pais morreram de tuberculose. Comecei a tocar em um navio porque o salário era razoável e a comida era boa. Ao fim de cada viagem, seguia para casa sozinho. Cheguei a um ponto da vida em que ninguém mais esperava por mim no porto, quando atracava. Isso era bom e era ruim, porque não deixava saudades. Todos viviam suas vidas sem mim e sem mim continuariam vivendo.

E, com aquele sentimento agridoce, de não saber se me sentia feliz ou triste, observei o chão inclinar-se e a água começar a invadir os meus sapatos de verniz. Enquanto o navio afundava e eu tocava a minha última peça de Bach, eu só consegui pensar nisso:

Não deixaria saudades.


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Essa é uma postagem do Projeto 642 coisas: 228. A orquestra do Titanic continuou tocando enquanto o navio afundou.

sexta-feira, 18 de novembro de 2016

Um fim, uma dor

Não sou boa com finalizações. Nunca fui. Não ser boa não significa que eu não consiga, significa apenas que eu não lido bem. É um filme que acaba, um livro que chega à ultima página, uma vida que inexiste. É um amor, um relacionamento, uma partida. Um adeus. Nunca aprendi a dizer esse adeus. Nunca me foi ensinado. Na escola não nos ensinam a lidar com a perda. Não tem no currículo acadêmico, nem no da vida.

Mas a gente vai aprendendo sozinha, autodidata, no passar dos anos, e às vezes se torna mais fácil. Menos dolorido até. Mas sempre é triste, sempre incomoda, sempre o vazio. É o encontro do novo desconhecido, ou a volta para aquele início que é quase uma continuação sem continuidade. O desconhecido, novo ou velho. A nova vida com a ausência. Muito aprendizado, vindo daquilo que agora falta. A falta que dói e fere. E o medo que me faz temer despedidas.

Não sou boa com finalizações, não sei lidar. O fim é mais um início e iniciar é exaustivo. A vida inteira: um fim, um início, um ciclo sem fim. Não tem disposição, falta boa vontade. Falta tudo. Precisa empurrar, pegar no tranco. No tranco, no barranco, ladeira abaixo, caída no asfalto, machucada pela queda e sem coragem de levantar. Para um novo início. Mas sem energia.

Sem coragem de finalizar, com medo da queda. Com medo do recomeço.
"Time telling me to say farewell"

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sexta-feira, 11 de novembro de 2016

Aventuras de verão

Um barulho na janela fez com que ela acordasse do sono leve, recém conquistado. Mas despertou assim que entendeu quem a chamava, pulando da cama e jogando longe os lençóis. Enfiou a cabeça para fora da janela, sentindo o cheiro de maresia vindo do horizonte e estreitando os olhos para enxergar na escuridão do quintal. O branco do sorriso largo recebeu-a e ela apenas pôde imaginar que os olhos divertidos brilhavam tanto quanto ele. Acompanhou o sorriso, sorrindo também.

- O que está fazendo aqui?
- Vim saber se você está a fim de ir comigo lá na praia.
- A essa hora?
- Tenho um plano. Uma aventura. Não pode esperar.
- Mas... Meus pais...
- Vamos voltar antes de amanhecer.

Ela mordeu o lábio, pensativa, considerando suas opções e toda a repercussão de sair no meio da madrugada para participar de um dos planos malucos dele. Estava tarde e os pais dela costumavam acordar cedo. Mas a proposta era muito tentadora para resistir.

- Vamos! - ele incentivou. - A gente só vive uma vez.
- Está bem - ela decidiu. - Espera.

Voltou para dentro do quarto e pescou de dentro do cesto de roupa suja o moletom que usou durante o jantar daquela noite, vestindo-o por cima do pijama. E retornou à janela, hesitando e considerando uma última vez a loucura daquilo tudo. Então, colocou uma perna na passagem estreita e deslizou para fora de seu quarto, equilibrando-se nas telhas e tomando cuidado para não escorregar. Pouco depois, já estava em frente a ele, conseguindo agora ver seu sorriso e seus olhos tão radiantes que iluminavam tudo em volta. Ela não sabia mais se ele estava feliz por sua presença ou se estava animado pela expectativa de pôr em prática o seu plano.

Mas isso não importava para ela. O que importava era o momento. Ele aproximou-se e tomou-lhe a mão, convidando-a a compartilhar de seu entusiasmo. E então, com um aperto mais forte, ele puxou-a em direção ao mar, para a noite quente, cheia de aventuras.

E, com os dedos entrelaçados, eles estavam prontos para conquistar o mundo.

Imagem: Flickr - Creative Commons
 
"And tonight we can trully say
Together we're invincible"

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sexta-feira, 4 de novembro de 2016

Ser ausência

De repente, você está cansado de tentar. De dar tudo, não dever nada, mas não receber o mesmo em troca. Aí você resolve dar menos e o resultado é que recebe menos ainda. Até resolver não dar nada e ter o nada à sua espera, em retribuição. Apenas um estranhamento: "o que houve?"

O problema é esse: nunca houve. E você nem se enganava sobre isso.

De repente, não resta nada. E o que lhe resta é dar sua ausência. Se nada acontece assim, nada nunca aconteceria.

"Ser ausência em vez de insistência"

sexta-feira, 21 de outubro de 2016

Uma curva no tempo

Então, tive que escolher um livro "que faça chorar" para ler. Não tenho o costume de ler livros com essa temática, que me deixa meio down, mas aí foi pedido no Desafio Literário e eu tive que caçar um. Pior, sem nenhuma dica de onde procurar. Não queria ler aqueles que viraram filme "Um dia", "Se eu ficar", "Como eu era antes de você" ou qualquer um de Nicholas Spark. Então, procurei um blog que falasse de livros tristes e escolhi Uma curva no tempo porque gostei da capa.

O livro começa com Rachel, a protagonista, indo a um jantar de despedida do High School com os amigos, antes de todos irem à universidade. É quando acontece um acidente que muda a vida de todo mundo. Cinco anos depois, Rachel ainda sofre as consequências desse acidente e precisa voltar à sua cidade natal, onde tudo aconteceu, para o casamento de uma das amigas. Então algo acontece e ela encontra à sua frente uma vida totalmente diferente, na qual ela pode fazer outras escolhas. Ela só não sabe o que fazer com as lembranças da outra vida.

O livro cumpriu muito bem a sua promessa de me fazer chorar. No começo, apenas me deixou meio melancólica; mas, no final, eu chorei de verdade. É um livro delicado, como sua capa. Depois que terminei, li algumas resenhas e em todas vi os resenhistas dizerem que não esperavam o final. Bem, eu preciso dizer que esperava, desde a primeira pista. Talvez por isso tenha ficado mais, digamos, tranquila. Não sei, eu sempre acho que esperar pelo final tal como ele é me deixa mais focada. Por isso eu sempre digo que não ligo muito para spoilers, porque eles sempre me preparam para o que está para vir e eu posso ler em paz, sem grandes sustos. Mas deste livro, eu não li nenhum spoiler. Foi tudo no feeling.

Se eu recomendo? Não sei. Eu tive bons momentos com ele, mas não diria "leia". Se você gosta de livros que façam chorar e são bastante melancólicos, com um toque de suspense, eu lhe diria para tentar. Mas primeiro que a escrita não me agradou at all, é preciso dizer, e algumas coisas me irritaram. Uma delas foi que quem quer que tenha traduzido não sabe escrever "demais" junto; só escrevia "de mais". Outra é que algumas cenas são cortadas em momentos sem sentido, interrompendo declarações importantes só "porque sim", quando poderiam ter sido melhor desenvolvidas. As cenas mais movimentadas são um tanto confusas e eu tive problemas com as descrições de determinadas cenas, como se não tivessem sido bem idealizadas ou revisadas. Outra coisa foram os sentimentos de Rachel, que muitas vezes não me convenceram. A pessoa vê a realidade perfeita na frente dela e demora um livro inteiro para fazer as escolhas certas? E, convenhamos, podia ser meu noivo ou o que fosse; se eu não lembrasse de nada, nem Rodrigo Hilbert ia me beijar. Enfim, acho que o livro passa com uma nota 6, talvez.

Então, cortamos mais um item do Desafio. Vamos ao próximo.

Vocês já leram esse livro? O que acharam?

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Resenha para o Desafio Literário de 2016, com o tema: "que faça chorar". Para saber mais sobre o Desafio, clique aqui e participe.

sexta-feira, 14 de outubro de 2016

Cedo demais*

Ele era um cara legal. Ela sabia bem disso. Era educado, inteligente, sensível e tudo o que uma garota poderia querer. Mas era cedo, muito cedo para se envolver com alguém ainda, apesar de sua melhor amiga viver dizendo que não era assim tão cedo. OK, já fazia quase um ano. Um longo ano, de sofrimento eterno, dor e frio. Mas o que era um ano, o que era uma década, ou mesmo um século, para curar a decepção de uma vida?

Ele ligara mais cedo e a chamara para sair. Ela tentara recusar, mas simplesmente não tinha mais desculpas. Não era como se não estivesse interessada; sabia que se interessaria bastante, em condições normais. Mas, naquele momento, não tinha vontade de sair com ninguém, não conseguia se animar com nada mais. Não tinha forças para perseguir nenhum sonho, nenhum ideal. Faltava ânimo para sair daquele buraco em que se tinha enterrado.

Mas, então, fizera um esforço e saíra com ele. Era o que todo mundo exigia: um esforço da parte dela, uma tentativa de melhorar. E ela foi lá e fez: jantaram, conversaram, riram e ele a deixara em casa, no final da noite. Ele era mesmo um cara legal. O esforço, porém, esvaíra o resto das suas energias e ela voltara para casa esgotada. Lágrimas silenciosas começaram a deslizar por seu rosto no exato momento em que, depois de dizer adeus, fechara a porta do carro dele. Não era a hora, ela dissera. Talvez nunca seria.

Ele poderia ser o amor da sua vida. Poderia ser o companheiro ideal, o escolhido, o certo; mas era cedo demais. Ela não sabia quanto tempo levaria. E ele não esperaria para sempre.

"I'll be there as soon as I can
But I'm busy mending broken pieces
of the life I had before"

Imagem: Flickr - Creative Commons
*Texto publicado em janeiro/16

sexta-feira, 7 de outubro de 2016

Por hoje, não

Por hoje, vou apenas permanecer deitada na minha cama, sem fazer nada, sem pensar, sem nem dormir. Nem sonhar. Hoje não vou ver séries, não vou trabalhar, nem ler. Não vou fazer planos ou tentar colocá-los em prática. Hoje não quero praticar nada.

Não tem dança, nem música, nem arte. Hoje não é dia de levantar e sair para a rua. Não quero ver gente. Quero apenas ficar aqui comigo mesma, fazendo parte dos meus lençóis e travesseiros. Existindo porque sim. Existindo, por que não? Só não quero ter que fazer nada. Não preciso fazer nada. Nem viver. Nem morrer.

Sobreviver. Apenas por hoje.

"And if the night runs over?
And if the day won't last?"

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Essa postagem faz parte do Projeto 121, com o tema: 70 - "Por hoje não".

sexta-feira, 30 de setembro de 2016

Depois

Os primeiros segundos depois de acordar são sempre os piores. É quando todas as lembranças atacam por todos os lados, de uma só vez, como se tivessem intenção de causar uma parada cardíaca no indivíduo. A sensação devia ser a mesma, porque tudo o que eu queria era arrancar meu coração fora. O ar faltava. O estômago embrulhava. As lágrimas não paravam. Nunca entendi por que precisava ser tão dolorido.

Era difícil. Era pesado. O frio, a dor, a gente pensa que nunca vai passar. A dor é quase física, mesmo que não dê para apontar onde está doendo. A gente só sabe que dói tudo. Dói muito. Vontade de voltar a dormir, sumir do mundo, até ela passar. Mas ela não passa. Pelo menos, não enquanto a gente está prestando atenção.

A primeira resolução era de nunca mais tentar. Nunca mais permitir que sua própria felicidade dependesse de outra pessoa. A única responsável pela minha felicidade devia ser eu. Eu, que tenho o poder de fazer besteira e de me fazer sofrer, mas eu também sou a pessoa que nunca vai embora. Eu nunca vou me perder de mim mesma. Eu posso confiar em mim. E eu confiei. Confiei que ia sair dali mais uma vez.

E, um dia, tudo passou. E a gente levanta, recomeça. Tenta de novo. Porque a gente pode perder tudo, do coração à cabeça. Mas uma coisa que a gente nunca perde é a esperança.

"Hei de ser feliz também, depois"


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Essa postagem faz parte da Blogagem Coletiva de setembro do Blogs Up: "A vida pós pé na bunda".

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sexta-feira, 23 de setembro de 2016

Harry Potter e a Criança Amaldiçoada

Alguém vai me matar se eu disser que achei Harry Potter and the Cursed Child, o oitavo livro de Harry Potter, uma grande bosta? Sério, gente. Não é segredo para ninguém que eu sou uma grande fã da série e todo mundo que me segue aqui sabe disso. E talvez por isso mesmo eu tenha achado o livro tão ruim.

A história é escrita em formato de peça, é claro, isso você já sabe. Para mim, tira metade da graça, mas vamos lá. E se passa logo após o epílogo do sétimo livro, quando o filho de Harry, Albus Severus (ow, nome triiiiste), vai estudar em Hogwarts. Você vai até curtindo no início, até porque é apresentado ao único personagem realmente interessante no livro inteiro: Scorpius. Mas aí alguém menciona um vira-tempo que está perdido por aí, em algum lugar, e você perde totalmente as esperanças.

Fora isso, eles mudaram a personalidade de alguns personagens. Harry faz coisas que não combinam em nada com seu caráter, assim como Hermione e Draco. E Ron é reduzido ao papel de alívio cômico. Acho que ficaram sem saber o que fazer direito com ele. Sem falar que Albus Severus é um personagem tão chato quanto seu nome.

Apesar disso tudo, tenho que admitir que tive algumas surpresas boas. Não dá para contar sem dar spoiler, mas digamos que um personagem que havia morrido faz uma aparição, uma participação especial. Eu fiquei feliz com essas poucas e nostálgicas páginas. Tenho certeza que muita gente ficou também.

Para mim, o livro ficou no nível de uma fanfiction. E depois eu descobri que, na verdade, é realmente uma fanfiction. Não foi J. K. Rowling que escreveu; ela só contribuiu em alguma coisa e aprovou o resultado. O que me leva a questionar por que ela mesma não escreveu, já que até adaptação em filme estão cogitando fazer. Eu sei, ela está rica e não precisa escrever mais nada na vida, se não quiser. Mas que eu gostaria, eu gostaria. Um livro dos marotos ou um livro sobre Dumbledore não seria nem um pouco ruim, né não?

No final, não é questão de recomendar o livro ou não. Quem é fã vai ler. Tem gente que até gostou e deve estar me xingando nesse momento. Bem, foi mal aí, gente. Mas o livro é bem ruim.

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Resenha para o Desafio Literário de 2016, com o tema: "sobre magia". Para saber mais sobre o Desafio, clique aqui e participe.

sexta-feira, 16 de setembro de 2016

Não diga adeus

Não vá embora, amigo. Não agora que o sol acabou de nascer e o dia está apenas começando. Vamos brincar de encher bexigas de água, pular na piscina, ir à praia. Vamos torrar ao sol, fazer castelos de areia, tomar sorvete. Viver aventuras, rir das nossas desventuras. A vida é curta, amigo, mas não precisa acabar agora. Ainda há tempo para estarmos juntos outra vez.

Não vá agora, amigo. Não agora, que o sol está retornando. Olha em volta; não há mais nuvens, o vento que agita as árvores é brisa, os passarinhos brincam nas poças da água salgada. Não há sinal de tempestade. Ainda dá tempo de jogar conversa fora, tomar uma cerveja no bar, gargalhar até cair. A vida é dura, eu sei. Mas é cedo ainda. Tem tanta coisa para ver, tanto para conhecer, tanto para aprender. Há tanta vida esperando logo adiante.

Amigo, não diga adeus, não é hora. Não tome a dose derradeira. Eu sei da sua dor, mas toda dor é passageira. O adeus, ele pode ser para sempre.

"It's just a moment, this time will pass"

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Essa postagem faz parte do Setembro Amarelo, campanha de conscientização sobre a prevenção do suicídio, com o objetivo direto de alertar a população a respeito da realidade do suicídio no Brasil e no mundo e suas formas de prevenção. Ocorre no mês de setembro, desde 2014, por meio de identificação de locais públicos e particulares com a cor amarela e ampla divulgação de informações.

sexta-feira, 9 de setembro de 2016

7 livros para ler ainda este ano

Setembro. E só aí a gente percebe que o ano deve estar apostando corrida contra Usain Bolt. E, apesar de agosto ter empacado um pouco, durando uns 4 meses, 2016 está vencendo.

Mas, então, a quantas anda o nosso Desafio Literário? O meu está indo até bem, apesar de ter se atrasado bastante em meados de março por conta do meu livro. Mas aí dei uma acelerada e, no final das contas, só restam seis livros para ler e concluir o desafio.

Como só faltam seis, vou listá-los pelas categorias do Desafio e selecionar mais um de bônus, para completar a lista de Sete. Então, vamos lá:

1. De distopia: A Torre Acima do Véu - Roberta Spindler

2. Clássico: As Intermitências da Morte - José Saramago

3. Que faça chorar: Uma Curva no Tempo - Dany Atkins

4. Em outro idioma: The Sandman - Overture - Neil Gaiman

5. De ficção científica: O homem do Castelo Alto - Philip K. Dick

6. De suspense: O Nome da Rosa - Umberto Eco

7. Bônus: A Metamorfose - Franz Kafka

Apesar da lista ser quase certa, gostaria de explicar que eu sou extremamente volúvel com livros e essa lista pode facilmente mudar daqui pro final do ano, dependendo do meu humor. Mas estou confiante que, pelo menos, vou conseguir terminar o Desafio dessa vez. Vamos torcer.

E você, gosta de Desafios Literários? Está fazendo algum?

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Essa postagem faz parte do Top 7 do grupo Blogs Up.

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sexta-feira, 26 de agosto de 2016

The Velvets

The Velvets é outro livro que eu encontrei no Wattpad. E que não está mais no Wattpad, porque a autora, Ana Aguiar, já tirou de lá e publicou em ebook, na Amazon. Ele vinha fazendo uma grande sucesso na plataforma, com mais de 300 mil leituras, e agora está alçando voo para outros horizontes. Quem sabe em direção a uma publicação em paperback? Como acompanho o livro há muito tempo, me sinto até um pouco orgulhosa. Hehe. Coisa de gente besta.

The Velvets é um romance adolescente, mas também meio adulto (já que envolve sensualidade e fala bastante em sexo), que se passa em Londres e tem como palco principal um colégio chamado West Newton. Samantha, a protagonista, é uma menina de 16 anos que teve que passar dois anos em outro país devido a um "escândalo" em sua vida. No último ano do High School, ela retorna mais forte e reencontra os amigos e os não-tão-amigos. Até aí, nada de novo. O fato é que ela tinha uma banda de hard rock chamada The Velvets. Com o novo projeto de que sua escola está participando, um reality show de batalha entre bandas, programa que deverá ser exibido no país inteiro, Samantha decide reunir a antiga banda e, juntamente com os amigos Carter e Alex, participar do jogo. Só tem um problema: o antigo guitarrista e também o cara que arruinou a sua vida, David Young, também vai participar e, para desespero de Samantha, a banda dele é muito boa.

Uma coisa interessante que eu percebi ser comum no Wattpad é que, assim como em fanfictions, os autores costumam escolher um dreamcast, ou seja, um elenco de atores reais para o livro. No The Velvets, Samantha é Selena Gomez (antes era Kristen Stewart, mas ainda bem que Ana mudou, acho aquela atriz insuportável) e David é Aaron Taylor-Johnson. Achei legal a escolha do dreamcast de David porque Ana conseguiu usar dois filmes que Aaron fez, Kick-Ass e Nowhere Boy, para montar o personagem. Primeiro como nerd, depois como músico.


O livro é imenso, com mais de mil páginas no ebook. Fico imaginando como ele seria em paperback, se teria que editar muita coisa, pra não virar um tijolão. O segundo volume, que a autora chama de Segunda Temporada, como uma série, ainda está sendo escrito e postado no Wattpad. Por enquanto, eu não posso dizer muita coisa sobre ele, porque ainda não consegui começar de verdade. Sempre termino esperando que se acumule alguns capítulos para poder ler e não ficar na mão, mas neste caso foi falta de tempo mesmo.

Como eu sempre digo, sou a favor de valorizar livros e escritores brasileiros. Ana Aguiar é uma autora que vai longe, com seu talento na escrita e na concepção de cenas e cenários. Quem aprecia romances adolescentes, deveria dar uma conferida nos seus livros. Alguns deles ainda estão em fase de criação, no Wattpad. E eu, que acompanho a maioria deles, recomendo de coração.

E sobre The Velvets: é um livro que não dá para parar de ler. Mesmo para mim, que costumo ler mais fantasia e clássicos. O negócio é não ter preconceitos, é conseguir entrar em vários tipos de cenários diferentes e ter várias idades diferentes. A gente é bem mais feliz assim, sem amarras e sem preconceitos. A imaginação vai longe.

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Resenha para o Desafio Literário de 2016, com o tema: "escrito por uma mulher". Para saber mais sobre o Desafio, clique aqui e participe.

sexta-feira, 19 de agosto de 2016

Escorrendo pelos dedos

Madrugada. Aquele momento surreal em que eu começo a divagar sobre algumas coisas meio sem sentido. Os pensamentos são sempre os mesmos: a instabilidade da vida, a mutabilidade, a inevitabilidade. Explico. São três da manhã e eu não vou dormir. Não posso dormir; amanhã é um outro dia e, quando eu acordar, este momento que eu estou vivendo vai ter acabado. E eu vou tê-lo "gastado" dormindo.

Ninguém entende quando eu digo que tenho ciúme de momentos, não exatamente de pessoas. Minha visão de vida, de uns tempos para cá, virou uma coisa meio carpe diem. Não tem muito a ver com 'colher o dia' porque o amanhã pode nunca chegar; tem mais a ver com 'tudo muda a hora toda' e eu estou mudando neste exato momento. Então, tenho que viver este momento, porque amanhã eu não vou ser eu anymore. Incomoda-me quando minhas pessoas estão se divertindo e eu estou perdendo. Mesmo que eu também esteja me divertindo em outro lugar. Eu quero estar em todos os lugares, ao mesmo tempo, com todo mundo. Tirando o melhor de cada momento, porque aquele momento específico nunca vai acontecer de novo. Porque eu não vou acontecer de novo.

Não é um pensamento estranho, este de que nada daquilo nunca mais vai se repetir? Aquele sentimento, aquelas pessoas, aquela atmosfera? Nós podemos tentar, mas nunca vai ser o mesmo que agora. Nós nunca vamos ser os mesmos que agora. É como as águas de um rio; ele pode estar sempre lá, mas as águas que agora correm nele não são as mesmas de ontem. Não são as mesmas de um segundo atrás. Assim são as pessoas e os momentos.

É por isso que não gosto de desperdiçar momentos. É por isso que às vezes durmo depois de amanhecer. Ou volto para casa às dez da manhã do outro dia. Porque eu olho para aquela cena, aquele momento à minha frente, e percebo o quanto ele é frágil e está escorrendo pelos meus dedos a cada segundo que passa. Aquele momento é único, nunca mais vou vivê-lo de novo. E aquele momento merece ser vivido em toda sua intensidade, sem meios-termos, sem meias risadas, meias verdades. Completamente.

Não posso ir embora, não posso dormir. Amanhã este momento vai ter acabado. E este momento é precioso demais para ser deixado tão facilmente.






"I try to capture every minute, the feeling in it
Slipping through my fingers all the time"

sexta-feira, 12 de agosto de 2016

Wishlist - Harry Potter

Com o lançamento do livro Harry Potter and the Cursed Child, a febre do mundo mágico voltou com tudo. Não que algum dia tenha ido embora, principalmente do meu coração, mas aí a gente se anima de novo, sonha de novo, vive de novo. E é isso, estou aqui de novo olhando trequinhos e querendo tudo. E olha que já tenho alguns, como o vira-tempo, caixa dos feijõezinhos já comidos, caixa de um sapo de chocolate também já comido, um chaveiro de Hogwarts...

Mas, sério, vejam isso:
http://www.harrypottershop.com/product/hybrid+luggage+bag+hpbdbag10.do
Estou simplesmente apaixonada por essa maletinha. E olhem essa também:
http://www.harrypottershop.com/product/hogwarts+crest+mini+satchel+hpbdbag04.do

Como todo mundo sabe (se não sabe, vai saber agora), eu sou da Corvinal (Ravenclaw). Então, encontrei algumas coisas que os meus colegas de casa vão achar legais:

http://www.harrypottershop.com/product/hogwarts+houses+wax+seal+set+-+set+of+5+hpnbwaxset.do

E esse diadema de Rowena Ravenclaw?
http://www.harrypottershop.com/
Por fim, o item que sempre quis, desde que vi pela primeira vez. Também o mais caro e o que eu não ia usar, porque não jogo xadrez. Mas que é lindo, é.

http://www.noblecollection.com/Item--i-CSS-HP-7979

E aí, o que acharam da minha wishlist? Quais são as coisas do mundo de Harry Potter que vocês gostariam de ter?

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Essa é uma blogagem coletiva do grupo BlogsUp, com o tema "Itens geeks mais desejados".

sexta-feira, 5 de agosto de 2016

Lista de compras


Tomate, cebola, cebolinha, coentro... Detergente, desinfetante, sabão em pó... Não era possível, tinha certeza de que estava esquecendo alguma coisa. Conferi a lista duas vezes, mas ainda não conseguia lembrar o que era. Certamente eu tinha esquecido de anotar alguma coisa. Antigamente, isso não costumava acontecer, mas estava cada dia mais frequente.

Tinha mania de listas. O problema é que, desde que abri o meu restaurante, elas estavam ficando mais longas e minuciosas; era impossível fazê-las sem esquecer alguma coisa. E isso estava me deixando um tanto nervosa. Quem era eu sem as minhas listas? Fernando, meu marido, costumava dizer que eu não era tão ruim quando estava na TPM, mas ele adquirira o hábito de sair de perto de mim quando eu perdia alguma lista. Era como perder o rumo da minha vida. Elas me faziam sentir segura, com a cabeça e todos os pensamentos no lugar. O problema era quando nem as listas eram mais confiáveis.

Passei pelo corredor de enlatados direto para a fila do caixa. Já tinha os ingredientes para fazer molho de tomate, então não precisava comprar enlatados. Pensava em fazer massa artesanal para o menu daquele fim de semana, então já pegara cinco sacos de farinha logo no primeiro corredor. Parei o carrinho na fila, atrás de uma senhora, e praticamente enfiei a cara na lista, pela milésima vez. O menu da semana que vem, no entanto...

Meu pensamento foi interrompido por uma sensação incômoda de estar sendo observada. Virei o rosto e vi um homem apoiado no próprio carrinho, na fila ao lado. Ele olhava fixamente para minha bunda. Senti o sangue subir ao meu rosto e ergui as sobrancelhas para ele, indignada. Ele nem pareceu ter se incomodado, ou mesmo percebido, que eu o flagrara me olhando. Continuou fitando a minha bunda, como se fosse um direito dele desfrutar da visão do meu corpo daquela maneira descarada. Era revoltante, ultrajante. No mesmo momento, me senti um pedaço de carne exposta no açougue. Nojento. Alguns homens eram mesmo uns...

Ah! Carne de porco. Era o que eu estava esquecendo, para o menu da semana que vem. Dei meia volta e saí com meu carrinho em direção à área de carnes do supermercado.

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Esta é uma postagem do projeto "642 coisas sobre as quais escrever" - 268: Esperando na fila do mercado.

terça-feira, 26 de julho de 2016

O Cavaleiro Inexistente

Ítalo Calvino é, juntamente com Gabriel García Márquez, um autor de realismo fantástico que eu adoro. Mas eu confesso que empaquei demais neste livro. Não sei por que, talvez porque ele começou a se ater demais a detalhes do dia-a-dia da guerra ou porque eu estava sem tempo; escrevendo demais e lendo coisas referentes ao meu livro. Mas o fato é que eu só comecei a me empolgar na leitura da metade pro final. No fim, acabei demorando mais que o esperado para terminar.

A história fala sobre Agilulfo Emo Bertrandino dos Guildiverni e dos Altri de Corbentraz e Sura. Ele se torna cavaleiro ao defender a honra de uma donzela e decide entrar para o exército francês de Carlos Magno e ir às Cruzadas lutar contra os infiéis. Só tem um porém: ele não existe. O que existe é uma armadura branca e reluzente, mas oca. Agilulfo, porém, é aquele soldado perfeito, que executa todas as atividades com maestria, extremamente metódico, educado, que sabe tudo sobre minúcias militares. O cavaleiro perfeito. Só que não existe.

Quem narra a história dele é uma freira chamada Teodora, que mora em um convento e cuja missão na vida é escrever este livro. As observações dela são engraçadas, às vezes, como quando ela fala sobre Bradamante, uma mulher que luta no exército de Carlos Magno. Bradamante é admirada por todos os cavaleiros e já esteve com vários homens, mas ela se apaixona por Agilulfo, o cavaleiro inexistente. Então, a observação da irmã é de que “acontece que, quando uma mulher já se satisfez com todos os homens existentes, o único desejo que lhe resta só pode ser por um homem que não existe de jeito nenhum…”.

A ironia de Calvino, por meio da irmã Teodora, pode ser vista em várias passagens, como a que eu citei acima. Também quando afirma que Agilulfo, por ser aquele um perfeito cavaleiro, termina sendo antipático ao resto do exército. A perfeição afasta as pessoas, é quase como um defeito. Agilulfo despreza tudo que não é feito minuciosamente, assumindo uma posição de desdenhosa superioridade, o que acaba irritando os companheiros.

A história também é cheia de metáforas. Como a do próprio cavaleiro: um invólucro que existe somente pelo seu objetivo, pelo que faz, pela sua missão, e não por sua essência. Como se fosse uma crítica a muitas pessoas de hoje, que não procuram cultivar o "ser", mas apenas o "fazer". Pessoas que se perdem em seus trabalhos e deixam de viver, de ser alguém, para ser um número na multidão. É interessante fazer esses paralelos à medida que a gente vai lendo.

O Cavaleiro Inexistente é um livro curto e rápido de ler. Divertido, sarcástico, interessante. Para mim, que gosto de histórias belas, achei que faltou alguma coisa para me fazer mergulhar. Mas é um gosto pessoal que não desmerece em nada o livro. Recomendo.

"Até que ponto é possível encontrar um sentido para a literatura a não ser fora dela?"


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Resenha para o Desafio Literário de 2016, com o tema: "de autor estrangeiro". Para saber mais sobre o Desafio, clique aqui e participe.

quarta-feira, 20 de julho de 2016

Ficções que poderiam ser reais

Quando a gente lê um livro de fantasia, sempre acaba imaginando como seria se aqueles cenários realmente existissem. Então, mais que as ficções em si, com seus dramas, profecias e guerras, eu gostaria de falar dos cenários. Não ia ser massa se existissem esses aqui?

1. Hogwarts
(Saga Harry Potter)
Depois de ler Harry Potter, quem não ficou sonhando em receber uma cartinha do Ministério para estudar magia em Hogwarts?

2. Nárnia
(As Crônicas de Nárnia)
Lucy chega a Nárnia pela primeira vez através de um guarda-roupa e encontra este cenário. Depois de um tempo, a neve derrete e vira um reino lindo. Com neve ou sem neve, Nárnia é linda.

3. Acampamento Meio-Sangue
(Saga Percy Jackson e os Olimpianos)
Um acampamento de verão onde semideuses gregos como Percy vão para aprenderem a lutar. Só vale a pena ver os filmes para conferir esse cenário.

4. Valfenda
(O Senhor dos Anéis)
As cidades dos elfos dos Senhor dos Anéis são lindas demais. Essa é Valfenda (Rivendell).

5. Lothlorien
(O Senhor dos Anéis)
E essa é Lothlorien. Foi difícil escolher uma imagem. Cada uma mais linda que a outra. Só fico imaginando que não ia gostar muito de morar no meio das árvores, porque deve ter muito inseto.

Essas são meu Top 5 ficções que eu gostaria que fossem reais. Quais outras vocês sugeririam?


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Essa é uma blogagem coletiva do grupo Blogs Up, com o tema "Ficções que você gostaria que fossem reais".

terça-feira, 12 de julho de 2016

Segunda-feira, pela manhã... [+QP]

James, seu veado idiota, desocupa logo esse banheiro!
— Não enche o saco, Sirius!
Faz uma hora que você tá aí!
— Dá licença? Eu quero tomar meu banho sossegado.
— Eu já lhe digo onde é que você vai tomar, seu…
O rapaz enfezado gritava, praguejava e esmurrava a porta sem pena, causando um barulho que ecoava pelo corredor inteiro. Várias cabeças saíam das portas dos dormitórios mais próximos, para espiar quem estava fazendo aquele escândalo, mas ele não se importava. Era conhecido na escola por fazer badernas muito maiores que aquela, juntamente com James. Podia não parecer, naquele momento, mas eles eram ótimos amigos.
Sirius continuava batendo na porta e proferindo uma série de palavrões. O chuveiro, no entanto, continuava jorrando água e uma cantoria tranquila vinha lá de dentro. Isso só fazia os gritos aumentarem, dando uma impressão quase certeira de serem ouvidos pelo castelo inteiro.
— Sabe, Padfoot, eu não sei por que você ainda se irrita com ele. — De dentro do quarto quase à frente do banheiro, um outro rapaz, já vestido, arrumava uma pilha de livros pesados na mochila. — Todo dia é a mesma coisa. Da próxima vez, por que não faz como eu e acorda mais cedo?
— Acordar mais cedo? Vou perder cinco minutos de sono por causa desse imbecil?
— Bem, eu estou indo. — Ele pendurou a mochila pesada nos ombros, curvando-se um tanto para trás no processo. — Acho bom você descer e tomar café antes, para já ir adiantando.
— Uma ova que eu desço de pijama pro salão! Esse idiota vai ter que sair daí alguma hora.
— Você vai acabar perdendo a primeira aula — o outro advertiu. — Quero ver como você vai explicar pra McGonnagal que se atrasou porque Prongs estava no banho.
Sirius virou-se para o amigo, entrando no quarto com uma expressão aborrecida.
— Sabe, Remus, eu já estou com mau humor o bastante, sem que você me encha o saco também.
O amigo revirou os olhos.
— Tá, você é quem sabe. — Ele debruçou-se para pegar um frasco pequeno de uma poção de cor cinza dentro da gaveta do criado-mudo, cambaleando com o peso da mochila. — Peter não vai para a aula hoje?
Sirius deu de ombros, olhando o amontoado inerte de lençóis em cima de uma das quatro camas do quarto.
— Sei lá.
Remus inclinou-se e puxou o cobertor, descobrindo uma cabeça com fios claros, finos e emaranhados.
— Peter, acorda. Aula de Transfiguração, esqueceu?
Sem abrir os olhos, o rapaz sonolento murmurou alguma coisa incompreensível e depois se virou na cama. Sirius riu, sentando-se na própria cama vazia.
— Ele é que é esperto. Eu também devia ter ficado dormindo. Pelo menos não tenho que esperar a veela ali terminar de se embelezar.
— Eu já lhe digo quem é a veela.
Era James. Ele saía do banheiro já com os óculos equilibrados no rosto e vestindo um roupão que exibia o símbolo de Gryffindor, trazendo atrás de si um denso vapor e o cheiro de sabonete. Sirius virou-se para ele, com expressão de profundo sarcasmo.
— Ah, quer dizer que a noivinha terminou de se enfeitar? O que foi, foi difícil demais tirar o laquê que faz seu cabelo ficar em pé?
— Pelo menos eu tomo banho — James retrucou. — Você não passa cinco minutos embaixo do chuveiro.
Como qualquer pessoa normal.
— Pior que ele acredita mesmo que é normal — James comentou com Remus, enquanto caminhava até seu baú de roupas. — Deve ter até pulgas.
— Sério, eu não vou me admirar se um dia você chegar qualquer dia com uma poção para "hidratar a cútis do rosto". — As últimas palavras foram ditas com certa afetação. — Você precisa conviver mais comigo, sabe? Essa moda metrossexual só funciona pros trouxas. Deve ser por isso que Lilly nem olha para você.
James tinha acabado de alcançar a camisa do uniforme, quando seu rosto ficou vermelho e sua expressão tornou-se irritada, pela primeira vez. A tampa do baú bateu, com um estrondo. Sirius ria, desdenhoso, sabendo que conseguira aborrecer o amigo.
— Tire a Evans dessa história.
O que só fez o amigo rir mais alto.
— Aceite a verdade, Prongs. As mulheres percebem quando os caras são meio assim, afeminados, como você. Não tenho nada contra, vou sempre ser seu cão fiel.
Remus revirou os olhos, exasperado.
— Sirius, francamente. Ele só estava fazendo a barba.
— Conversa! Eu vi um monte de potinhos de poção cremosa na mochila dele, outro dia.
— Era uma encomenda da mãe dele.
— Deixa, Moony — James interrompeu, ainda com o cenho franzido. — Ele só está nervosinho porque teve que me esperar usar o banheiro.
— Nervosinho está você, porque eu falei da Evans — Sirius rebateu.
— Mas que inferno, eu nem gosto dessa menina! — James declarou com exasperação.
A gargalhada de Sirius foi alta e irônica.
— Certo, agora conta aquela do hipogrifo.
— Ah, vá se foder!
— A escola toda já percebeu, amigo — ele comentou. — A ruiva deixa você mais mexido que vitamina de abóbora. Pena que ela te odeia.
James já preparava uma resposta ácida, mas Remus impediu-o.
— Ei, parem com isso, senão daqui a pouco vou ter que apartar sozinho a briga dos dois, já que o inútil aí não abre nem os olhos. — E apontou para a cama de Peter.
James mostrou a Sirius seu dedo do meio e voltou-se para o seu baú outra vez.
— Salvo pelo gongo, pulguento — ele murmurou, pendurando a camisa nos ombros, enquanto tirava uma gravata vermelha e dourada da gaveta.
— Como se eu tivesse medo de você, veadinho — veio a resposta.
Remus suspirou. Esses dois não paravam. Como conseguiam provocar tanto alvoroço antes mesmo do desjejum? Pronto para ir embora, ele baixou-se para recolher algumas meias espalhadas, antes de chegar à porta do quarto. Sirius viu-o equilibrar a mochila.
— Não é à toa que você vive reclamando de dor nas costas, Moony. Com esse saco de chumbo pendurado nos ombros, você parece um testrálio de carga.
— Você não estava atrasado? — ele falou, ignorando o comentário, antes apanhar uma pena preta do chão e guardar num bolso externo.
— Ainda estou.
— Então por que não aproveita e toma logo seu banho?
Sirius, que voltara a deitar na cama, levantou-se num pulo.
— É mesmo! Tinha esquecido.
Remus passou pela cama de Peter e resolveu chamá-lo mais uma vez.
— Ei, rato vagabundo! Levanta e vai estudar... — Ele interrompeu-se. — Ué...
James, que terminava de se vestir, voltou-se:
— O que foi?
— Engraçado... Ele estava aqui neste minuto...
Um palavrão alto e grosseiro veio do corredor. Os dois correram para ver Sirius esmurrando a porta do banheiro mais uma vez.
— Peter, seu inútil! Abra essa porta agora!
A voz vinda lá de dentro veio abafada:
— Peraí, Padfoot! Acho que a torta de pernil de ontem me fez mal...
— Espero uma p...!
James não conteve a risada de escárnio, fazendo Sirius se enfurecer ainda mais e querer partir pra cima dele. Remus pegou a mochila do chão e deu de ombros.
— Bom, boa sorte pra vocês. Eu vou pra aula.

Essa postagem faz parte do Projeto Mais que Palavras.
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