quarta-feira, 12 de maio de 2010

Um mundo em duas palavras

Ele era o tipo de pessoa que só dizia o necessário. Ela, pelo contrário, falava tanto que dizia até mesmo o que não devia. Eram diferentes, ao mesmo tempo em que se completavam. Os intermináveis monólogos dela preenchiam os momentos de silêncio em que ele tentava não pensar nos próprios problemas. E ria das queixas dela, das histórias, do sarcasmo. Sorria, quando devia estar aborrecido com os acontecimentos do dia. Engraçado que nunca tinha sido um bom ouvinte, mas descobrira que a voz dela o acalmava como nenhum outro tranquilizante.
Ela sabia que ele não era de muitas palavras, mas não porque não tivesse o que dizer. Sabia, porque ele opinava algumas vezes, quando discordava de uma colocação qualquer, ou quando falava sobre alguma coisa que precisava ser resolvida. Mas geralmente deixava que ela falasse. Ela nunca tinha certeza se ele estava realmente ouvindo, mas seus olhos eram sempre atentos. Ele sabia que ela descarregava as preocupações falando, que conseguia um alívio momentâneo, mesmo que não pensasse realmente tudo o que deixava escapar. E, por isso, ele ouvia. Sem mudar de assunto, sem interromper.
Às vezes, ela achava que o chateava com a falação constante. Certo dia, encontrou-o com olhar tão distante que, no nervosismo de tentar fazê-lo sorrir, desandou a falar demais. Depois, considerou que devia ter perguntado se ele queria dizer algo. Sabia que ele era uma pessoa de poucas palavras, mas falaria com ela, se precisasse. Certo?
Neste dia, torturou-se tanto que jurou por tudo ficar calada por um mês inteiro. Então percebeu um pequeno bilhete grudado na geladeira, escrito em post it amarelo. Apenas duas palavras:
Elas bastavam.

"More than words to show you feel
That your love for me is real"*
*Música: More than words

14 comentários:

Rob Gordon disse...

Você é boa nisso, hein?

Beijos

Rob.

Rebeca Amaral disse...

o pouco, algumas vezes, é muito.

adorei a citação de 'More than words' aí!

Barbarella disse...

ahhh, que bonitinho....

**

µαri µαtos disse...

=D quem precisa de palavras quando se tem todos os gestos?

Luciano A.Santos disse...

Pois é, ele, calado, falou com o post it muito mais que ela e seu falatório. Como tem que ser.

Grande abraço.

George Marques disse...

Antes de ler a citação já pensei: "Extreme...".
Eu também sou de falar pouco, será que isso funciona mesmo???

Eduardo Trindade disse...

Quando se ama, elas bastam, tudo basta, qualquer coisa basta. E os amantes, em toda a complicação do amor, eles é que às vezes não bastam um ao outro: querem sempre mais.
Quanto a mim, bastam palavras como as tuas para sorrir em dias difíceis.
Abraços!

Bruno Malveira disse...

Tenho inveja da sua incrível capacidade de transcrever o sentimento do texto com um trechinho de alguma música.
Só isso. =P

Anônimo disse...

Duas palavras. E sempre bastam. Você construiu um cenário tão fantástico e perfeito que o 'te amo' é um 'te amo' de verdade.

Bruno

Mehazael disse...

Só eu fiquei pensando em como esse casal 'improvável' se conheceu? heheh
Sei que nao é esse o propósito do texto, mas não pude deixar de pensar nisso.
Como sempre, o texto bonito e fluido são partes da tua escrita.
Beijão, Mari ;-)

Alexandre Olsemann disse...

Fechou bem. Um texto suave, reto. Bom.

Mari disse...

Oi,linda

Que belo!
Basta tão pouco,não é mesmo???

bjus

Ygo disse...

Aaah, adoro essas historinhas mamão-com-açúcar... Hahahahahah! *__* Em partes esse texto me fez lembrar de "Melância". Bju Mary!

Leila disse...

Difícil escolher qual texto seu eu mais gosto, mas este realmente mexeu comigo. Amei! Beijos