Há algo de mórbido em se interessar por uma pessoa porque ela parece triste. Mas eu admito que me aproximei dela porque algo na expressão desamparada e nas lágrimas silenciosas me despertou a irresistível vontade de salvá-la. De ser seu protetor, abraçá-la, arrancar tudo o que se passava de ruim dentro dela e levar um sorriso àquele rosto.
Ela estava num bar, tomando o que parecia ser a sétima dose se tequila. Tequila era uma bebida conhecida por ser tomada em comemorações; quando alguém passava em um concurso, quando se formava na faculdade, quando seu melhor amigo anunciava que ia se casar. Mas eu sabia que ela não devia estar comemorando nada, era meio óbvio. Mesmo assim, por algum motivo, ela virou mais uma dose dos copos enfileirados à sua frente e enfiou um pedaço de limão na boca.
Seu olhar estava perdido nas garrafas da prateleira do bar, à sua frente. Não que ela as observasse; era como se o olhar sem cor passasse através dos rótulos amarelados. Ela estava ali e não estava. Talvez não quisesse estar. Mas eu queria. Queria que ela visse o que passava ao seu redor, queria que ela olhasse e realmente enxergasse alguma coisa. Queria chamá-la de volta à vida. Vida que ela estava perdendo nesses instantes de autopiedade.
Queria que ela me visse.
Queria que ela me visse.
Não sei como consegui dar o primeiro passo, mas depois dele foi fácil chegar até ela. Aquele primeiro passo foi talvez o mais difícil da minha vida. Mas nunca me arrependi.
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Essa é uma postagem do Projeto 642 coisas - 210. Eu não me arrependo.
2 comentários:
Às vezes tudo o que a gente precisa é dar o primeiro passo, mesmo que seja difícil, mesmo que tenhamos dúvidas, mesmo que achemos que vamos nos arrepender depois. A nossa iniciativa de dar o primeiro passo pode fazer a diferença na vida de alguém.
Lindo texto. Como sempre me emociona.
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