sexta-feira, 18 de novembro de 2016

Um fim, uma dor

Não sou boa com finalizações. Nunca fui. Não ser boa não significa que eu não consiga, significa apenas que eu não lido bem. É um filme que acaba, um livro que chega à ultima página, uma vida que inexiste. É um amor, um relacionamento, uma partida. Um adeus. Nunca aprendi a dizer esse adeus. Nunca me foi ensinado. Na escola não nos ensinam a lidar com a perda. Não tem no currículo acadêmico, nem no da vida.

Mas a gente vai aprendendo sozinha, autodidata, no passar dos anos, e às vezes se torna mais fácil. Menos dolorido até. Mas sempre é triste, sempre incomoda, sempre o vazio. É o encontro do novo desconhecido, ou a volta para aquele início que é quase uma continuação sem continuidade. O desconhecido, novo ou velho. A nova vida com a ausência. Muito aprendizado, vindo daquilo que agora falta. A falta que dói e fere. E o medo que me faz temer despedidas.

Não sou boa com finalizações, não sei lidar. O fim é mais um início e iniciar é exaustivo. A vida inteira: um fim, um início, um ciclo sem fim. Não tem disposição, falta boa vontade. Falta tudo. Precisa empurrar, pegar no tranco. No tranco, no barranco, ladeira abaixo, caída no asfalto, machucada pela queda e sem coragem de levantar. Para um novo início. Mas sem energia.

Sem coragem de finalizar, com medo da queda. Com medo do recomeço.
"Time telling me to say farewell"

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4 comentários:

marroco disse...

Li apenas alguns textos mais recentes. Eles me transmitiram de imediato um sentimento de desamparo, de reflexão sincera diante de um mundo naturalmente efêmero, imprevisível e impérvio às nossas expectativas. Veio-me a mente a filosofia do fogo, das chamas constantemente vivas mas impossíveis de se possuir, pois na verdade nunca são as mesmas, eternamente queimando numa dança de/recomposição. Um texto inclusive me lembrou diretamente Heráclito quando diz panta rhei: "tudo flui" ou "tudo escorre" (pelos dedos?). Mas na inconstância há beleza também, há transformação. E estranhas verdades. O caminho de subida e o de descida são, afinal, um único e mesmo caminho. Parabéns pelo blog. Não o lia há muito tempo. Lerei mais.

marroco disse...

Li apenas alguns textos mais recentes. Eles me transmitiram de imediato um sentimento de desamparo, de reflexão sincera diante de um mundo naturalmente efêmero, imprevisível e impérvio às nossas expectativas. Veio-me a mente a filosofia do fogo, das chamas constantemente vivas mas impossíveis de se possuir, pois na verdade nunca são as mesmas, eternamente queimando numa dança de/recomposição. Um texto inclusive me lembrou diretamente Heráclito quando diz panta rhei: "tudo flui" ou "tudo escorre" (pelos dedos?). Mas na inconstância há beleza também, há transformação. E estranhas verdades. O caminho de subida e o de descida são, afinal, um único e mesmo caminho. Parabéns pelo blog. Não o lia há muito tempo. Lerei mais.

marroco disse...

Li apenas alguns textos mais recentes e de pronto me veio um sentimento de desamparo, de reflexão sincera sobre um mundo efêmero e impérvio às nossas dificuldades e expectativas. Fez-me pensar na filosofia do fogo, onde as chamas são sempre vivas, mas impossíveis de serem possuídas, pois nunca se demoram, queimando e dançando numa eterna de/recomposição. Um texto me lembrou diretamente Heráclito quando diz "panta rhei": tudo flui, ou tudo escorre (pelos dedos?). Mas na inconstância também há beleza, há transformação. Assim como estranhas verdades. O caminho de subida e o de descida são, afinal, um único e mesmo caminho. Fazia muito tempo que não lia teu blog. Parabéns pelos escritos. Lerei mais.

Marina disse...

Marroco, o sentimento de desamparo e insatisfação presente tem muito do reflexo do mundo. Mas também porque há uma beleza na melancolia que me atrai, me inspira e me faz escrever.

Espero que volte mais vezes. Beijos. =)