sexta-feira, 19 de agosto de 2016

Escorrendo pelos dedos

Madrugada. Aquele momento surreal em que eu começo a divagar sobre algumas coisas meio sem sentido. Os pensamentos são sempre os mesmos: a instabilidade da vida, a mutabilidade, a inevitabilidade. Explico. São três da manhã e eu não vou dormir. Não posso dormir; amanhã é um outro dia e, quando eu acordar, este momento que eu estou vivendo vai ter acabado. E eu vou tê-lo "gastado" dormindo.

Ninguém entende quando eu digo que tenho ciúme de momentos, não exatamente de pessoas. Minha visão de vida, de uns tempos para cá, virou uma coisa meio carpe diem. Não tem muito a ver com 'colher o dia' porque o amanhã pode nunca chegar; tem mais a ver com 'tudo muda a hora toda' e eu estou mudando neste exato momento. Então, tenho que viver este momento, porque amanhã eu não vou ser eu anymore. Incomoda-me quando minhas pessoas estão se divertindo e eu estou perdendo. Mesmo que eu também esteja me divertindo em outro lugar. Eu quero estar em todos os lugares, ao mesmo tempo, com todo mundo. Tirando o melhor de cada momento, porque aquele momento específico nunca vai acontecer de novo. Porque eu não vou acontecer de novo.

Não é um pensamento estranho, este de que nada daquilo nunca mais vai se repetir? Aquele sentimento, aquelas pessoas, aquela atmosfera? Nós podemos tentar, mas nunca vai ser o mesmo que agora. Nós nunca vamos ser os mesmos que agora. É como as águas de um rio; ele pode estar sempre lá, mas as águas que agora correm nele não são as mesmas de ontem. Não são as mesmas de um segundo atrás. Assim são as pessoas e os momentos.

É por isso que não gosto de desperdiçar momentos. É por isso que às vezes durmo depois de amanhecer. Ou volto para casa às dez da manhã do outro dia. Porque eu olho para aquela cena, aquele momento à minha frente, e percebo o quanto ele é frágil e está escorrendo pelos meus dedos a cada segundo que passa. Aquele momento é único, nunca mais vou vivê-lo de novo. E aquele momento merece ser vivido em toda sua intensidade, sem meios-termos, sem meias risadas, meias verdades. Completamente.

Não posso ir embora, não posso dormir. Amanhã este momento vai ter acabado. E este momento é precioso demais para ser deixado tão facilmente.






"I try to capture every minute, the feeling in it
Slipping through my fingers all the time"

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