terça-feira, 26 de julho de 2016

O Cavaleiro Inexistente

Ítalo Calvino é, juntamente com Gabriel García Márquez, um autor de realismo fantástico que eu adoro. Mas eu confesso que empaquei demais neste livro. Não sei por que, talvez porque ele começou a se ater demais a detalhes do dia-a-dia da guerra ou porque eu estava sem tempo; escrevendo demais e lendo coisas referentes ao meu livro. Mas o fato é que eu só comecei a me empolgar na leitura da metade pro final. No fim, acabei demorando mais que o esperado para terminar.

A história fala sobre Agilulfo Emo Bertrandino dos Guildiverni e dos Altri de Corbentraz e Sura. Ele se torna cavaleiro ao defender a honra de uma donzela e decide entrar para o exército francês de Carlos Magno e ir às Cruzadas lutar contra os infiéis. Só tem um porém: ele não existe. O que existe é uma armadura branca e reluzente, mas oca. Agilulfo, porém, é aquele soldado perfeito, que executa todas as atividades com maestria, extremamente metódico, educado, que sabe tudo sobre minúcias militares. O cavaleiro perfeito. Só que não existe.

Quem narra a história dele é uma freira chamada Teodora, que mora em um convento e cuja missão na vida é escrever este livro. As observações dela são engraçadas, às vezes, como quando ela fala sobre Bradamante, uma mulher que luta no exército de Carlos Magno. Bradamante é admirada por todos os cavaleiros e já esteve com vários homens, mas ela se apaixona por Agilulfo, o cavaleiro inexistente. Então, a observação da irmã é de que “acontece que, quando uma mulher já se satisfez com todos os homens existentes, o único desejo que lhe resta só pode ser por um homem que não existe de jeito nenhum…”.

A ironia de Calvino, por meio da irmã Teodora, pode ser vista em várias passagens, como a que eu citei acima. Também quando afirma que Agilulfo, por ser aquele um perfeito cavaleiro, termina sendo antipático ao resto do exército. A perfeição afasta as pessoas, é quase como um defeito. Agilulfo despreza tudo que não é feito minuciosamente, assumindo uma posição de desdenhosa superioridade, o que acaba irritando os companheiros.

A história também é cheia de metáforas. Como a do próprio cavaleiro: um invólucro que existe somente pelo seu objetivo, pelo que faz, pela sua missão, e não por sua essência. Como se fosse uma crítica a muitas pessoas de hoje, que não procuram cultivar o "ser", mas apenas o "fazer". Pessoas que se perdem em seus trabalhos e deixam de viver, de ser alguém, para ser um número na multidão. É interessante fazer esses paralelos à medida que a gente vai lendo.

O Cavaleiro Inexistente é um livro curto e rápido de ler. Divertido, sarcástico, interessante. Para mim, que gosto de histórias belas, achei que faltou alguma coisa para me fazer mergulhar. Mas é um gosto pessoal que não desmerece em nada o livro. Recomendo.

"Até que ponto é possível encontrar um sentido para a literatura a não ser fora dela?"


--


Resenha para o Desafio Literário de 2016, com o tema: "de autor estrangeiro". Para saber mais sobre o Desafio, clique aqui e participe.

Nenhum comentário: