terça-feira, 31 de março de 2009

Marcador volúvel

Da primeira vez em que peguei meu carro, que era do meu irmão, levei um susto. Não tinha um pingo de gasolina, nem pra chegar ao posto. Normal, isso é típico do meu irmão, não colocar gasolina no carro. Eu, como já parei uma vez em cima de um viaduto — porque o marcador não estava muito a fim de descer —, sou gato escaldado e não deixo o tanque chegar a um quarto. Mantenho sempre cheio.

Peguei o pobre do carro sedento e dirigi sem forçar muito até o posto da esquina. Mesmo que fosse mais caro, era mais perto e parar no meio do trânsito estava fora de cogitação. Certo, entrei no posto e fui verificar minha bolsa, para saber se tinha dinheiro pra colocar combustível. Foi quando passei os olhos pelo painel e o marcador estava na metade do tanque. Hein? Recomecei a andar e o marcador baixou de novo. Freei e ele subiu e depois baixou. Ele só subia até a metade. E ficou assim, descendo e subindo, enquanto eu dirigia pela cidade até a faculdade.

Reparei que o marcador só subia até onde estava, no momento, o nível de combustível. Logo, quanto mais feliz o carro está, mais o marcador sobe. Sobe e depois cai. Posso imaginar vários motivos para isso acontecer, mas só vejo uma solução: será que receitam Viagra para carro?

quarta-feira, 25 de março de 2009

Amiga Psicóloga

Tenho uma amiga que é psicóloga. A parte chata de se ter uma amiga psicóloga é que ela tem o péssimo hábito de analisar todas as suas ações, suas manias e até sua TPM. Outro dia mesmo, fui contar a ela sobre uma briga que tive com meu ex, na época que ainda namorávamos.

— Então, você ficou com raiva dele?

— Eu fiquei chateada. Você sabe, eu detesto essa coisa de ciúme, ainda mais sem sentido.

— Mas será que foi mesmo sem sentido?

— Eu estava abraçando um amigo, Amanda, francamente. Marcelo nem quis saber se era aniversário dele nem nada.

— Mas foi que tipo de abraço?

— Como assim que tipo? Um abraço normal.

— Mas foi tipo forte, rosto colado, levantando do chão, rodopiando?

— Han… Não, foi só um abraço.

— Hum! Logo vi.

— Viu o quê?

— Abraço contido. Mau sinal.

— Mau sinal? Como assim?

— Você não está apaixonada por Marcelo, você gosta mesmo é do seu amigo. Por isso o abraço de aniversário foi tão formal.

— O quê? Tá variando, Amanda?

— Isso é psicologia, cara Júlia.

— É? Quer dizer que, se eu o abraçasse com força, isso significaria que eu não estou nem aí pra ele?

— Não, significaria que você gosta dele e deixa claro o que quer.

— Então, nas duas alternativas, eu sou apaixonada pelo meu amigo.

— É, por aí.

E ela não sabe por que eu reclamo tanto. Diz que é consulta grátis.

domingo, 22 de março de 2009

Dia Inútil

Hoje foi um dia inútil. Prometi a mim mesma que nunca mais deixaria que meus dias fossem inúteis, mas quebrei hoje essa promessa. Hoje foi realmente um dia inútil. Não trabalhei, não saí de casa, não ri, não aprendi, não criei. Não fiz nada. Só fiquei de pernas pro ar; o tempo passando na janela, como diz Chico Buarque. Só que, diferente de Carolina, eu o vi. E nada fiz.

Acontece que existem dias que amanhecem para ser inúteis, como a quarta-feira de Cinzas, domingo de Páscoa e último dia de férias. Hoje não foi nenhum desses dias especiais, mas eu estava estafada. Deve ter sido o trabalho da semana, a insônia, ou mesmo o estresse. Só sei que eu precisei desse dia inútil. Precisei ficar quieta, no meu canto, fazendo nada que requeresse o mínimo esforço dos meus neurônios.

E eu o fiz. Vivi o dia inútil intensamente, fazendo um dos maiores "nadas" da minha vida e tendo prazer nisso. Não foi um dia bom, mas, AH!, como eu precisava ser completamente inútil por um mísero dia!

sábado, 14 de março de 2009

Mais um meme literário

Este meme me foi (quase indiretamente) passado por Gabi, do Gaborin Gaboriela, e eu achei interessante a ponto de gastar um tempinho fazendo. Em geral, não tenho muita paciência com memes (update: fui carinhosamente lembrada de que é o meu 4° meme e eu deveria repensar essas últimas palavras). Neste aqui, você deve citar alguns dos seus hábitos de leitura, manias, curiosidades e esquisitices. Como eu nunca repasso meme, acho que ninguém está nem esperando por isso. Então, vamos lá.

1. Quando compro um livro, raramente leio de imediato. Gosto de saborear o fato de ter coisas legais para ler quando quiser. Tenho pelo menos uns cinco livros esperando para serem lidos. Pelo menos, tenho sempre várias coisas legais para quando quiser ler.

2. Só coloco nome nos meus livros quando vou emprestar. É questão de esquecimento mesmo.

3. Tenho "momentos". Não adianta me dar um livro denso num momento em que estou para livros leves, tampouco leio um livro leve quando estou no "momento livros densos" (não existem só esses dois momentos, foi um exemplo).

4. Sempre dou um tempinho (dois ou três dias e já é muito) entre livros densos. Minha cabeça pesa.

5. Na época de faculdade, só lia livros densos nas férias. Minha média era cinco por férias.

6. Quando termino de ler um livro, releio as partes de que mais gostei e anoto frases legais (já dito num meme anterior). Motivo: minha memória é uma merda.

7. Adoro dar livros de presente. Quando leio algum de que gosto, fico esperando aniversários para comprar pros meus amigos.

8. Adoro ganhar livros de presente! E meu aniversário é em junho. (Mensagem subliminar)

9. Toda vez em que leio Machado de Assis ou algum bom autor brasileiro, fico pensando que é um desperdício recomendar para vestibular. Ninguém gosta de ler por obrigação; isso só da asa pro povo falar mal da literatura brasileira.

10. Fiz cópia de partes de livros na faculdade, sem culpa. Ninguém merece ter que comprar todos os livros de todas as cadeiras para estudar um ou dois capítulos. E de cadeiras que nunca mais na vida vou ouvir falar. Os que me interessaram, eu comprei.

11. Só compro livros pela internet, em feiras ou sebos. Em livraria, anda caro demais. (Eu não sou lisa, só econômica. É a crise.)

12. Não gosto de ler com muita gente por perto. Não consigo me concentrar o suficiente e creio que minha expressão, quando perfeitamente concentrada, deva ser hilária. Às vezes me pego fazendo caretas.

13. Histórias influenciam muito meu humor. Às vezes, tudo o que eu quero é um final feliz. Já fiquei deprimida ou muito feliz por causa de livro. Já chorei com a morte de personagens que eu adorava e passei dias sem me conformar. Se, um dia, eu resolver matar um personagem importante meu, acho que entro em depressão.

14. Faço marcadores de páginas. Ando sem tempo, mas costumava fazer em papel ou em ponto de cruz. Quando não tem nenhum por perto, uso qualquer pedaço de papel ou até uma foto que sirva para marcar.

15. Só pego panfletos nas ruas quando são marcadores de páginas. Tenho montes deles.

16. Jamais uso orelhas de livros como marcadores. Considero um crime, assim como dobrar ou riscar livros.

17. Morri de raiva quando, uma vez, emprestei um livro a uma colega minha e o irmãozinho dela riscou a capa toda. Até hoje não sei como sobrevivi à explosão contida. Acho que implodi.

18. Às vezes, leio romance de banca de revista, mangá e gibi; mas não leio auto-ajuda, mesmo que todo mundo indique, nem livros que fazem análises de outros livros. Nada contra, apenas não leio. Meu negócio são histórias. Ah, e não leio Paulo Coelho (para aqueles que captaram minha mensagem subliminar).

19. Tenho uma prateleira só de livros de fantasia, outra só de Agatha Christie (herança) e outra só de infanto-juvenis. Meu sonho é ter uma só de Neil Gaiman.

20. Se for o jeito, gasto muito dinheiro com livros. É a única coisa que pago sem dor.


Podia passar o dia listando mais manias, curiosidades e afins; mas resolvi parar no vigésimo item para não ficar cansativo — se é que já não ficou. E vocês, o que me dizem?

terça-feira, 10 de março de 2009

Feijoada Completa

Quando éramos pequenos, meu irmão e eu costumávamos nos divertir criando brincadeiras que aproveitassem a imensidão do quintal de casa. Bem, falo por mim; ele se divertia mesmo era com qualquer coisa que incendiasse. Certo dia, ele fez uma fogueira com gravetos e tijolos (e fogo, obviamente) e teve a brilhante idéia de fazer uma feijoada. Como eu era pequena, topava qualquer idiotice que ele sugeria. Peguei feijão na cozinha, ele trouxe a panela e colocamos a água e o feijão, sem esperar ferver. Até que ele se lembrou do tempero.

— Tem que colocar cebola e tomate.

Grande tempero.

— Eu não gosto de cebola — reclamei.

— Tá… — Ele geralmente não aturava as minhas frescurites de pirralha enjoada, mas, como estava querendo minha ajuda ou simplesmente minha cumplicidade na travessura, ponderou. E lhe veio uma idéia: — Então pega jambo. Jambo branco pra ser cebola, jambo rosa pra ser tomate.

— Tá.

Eu aceitaria qualquer acordo pra não ter cebola; mas, na verdade, tinha me animado com a criatividade da coisa. Peguei os jambos e cortei em rodelas, jogando dentro da panela já borbulhante. Até que decidimos que já tinha dado tempo. Ele tirou a gororo… feijoada do fogo, serviu em um dos meus pratinhos de brinquedo e me deu para experimentar.

— Toma.

Olhei o prato com expressão de nojo. Comequié, meu irmão? Eu podia ser jovem e deslumbrada, mas nunca na minha vida fui burra. Eu disse que ele que provasse, mas também não teve coragem. Então, deixamos a gosma esquecida lá e fomos inventar outra brincadeira.

— Poxa… E agora?

— Bora aproveitar a fogueira e fazer pipoca? Ali tem um vidro de maionese.

— Legal! Vou pegar o milho.

Jovens inconsequentes.


"E vamos botar água no feijão."

quinta-feira, 5 de março de 2009

Compre um gato

Há algum tempo eu tenho estado meio estressada. Os motivos não importam; mas penso que não tem como você permanecer com todo o bom humor do meu Brasil, nessas condições. Quem me conhece sabe que eu não costumo ser uma pessoa mal educada, mesmo sob pressão, ainda mais com mais velhos. Mas esta semana eu tive uma vontade absurda de ser.

Minha mãe também anda bem estressada, possivelmente com as mesmas preocupações que eu e um pouco mais. E ela é de falar pelos cotovelos dos problemas dela. Até aí, tudo bem. Ela foi falar com uma senhora que eu sempre achei legal, mas que é cheia dos conceitos de certo e errado. Gente com muitos conceitos costuma ser um pé no saco, quando se intromete na sua vida. Acontece que, quando alguém fala de seus problemas, imediatamente concede direitos aos ouvintes a darem opiniões. Até aí, tudo bem, pois eu não falo dos meus problemas e não concedo direitos a ninguém, então minha vida continuaria intacta. Mas parece que não é todo mundo que pensa assim.

Sim, porque naquele momento a senhora vira-se para mim e pergunta, em tom de indignada censura:

— E por que você não ajuda a sua mãe?

Certo, eu não estava num bom dia. Foi um erro grave dela se dirigir à minha pessoa quando o sol ainda nem estava alto o suficiente pra meu sono estar suportável. Como assim não ajudo? E o que a leva a pensar que eu não faço merda nenhuma nessa vida? O que ela sabe sobre mim para vir me dar lição de moral? Mil coisas me passaram pela cabeça, mas minha educação falou mais forte e eu, ensaiando um ar de desdém, disse o mais brando dos meus pensamentos:

— Porque eu não tenho tempo.

Claro que ela ficou indignada, afinal me mostrei exatamente como ela pensava que eu fosse: desinteressada e irresponsável. Mas, afinal, mesmo com raiva, eu não ia ofender a mulher, por mais que ela me ofendesse com a pergunta.

Depois, conversando sobre isso com meu irmão, acho que poderia ter falado o que ele sugeriu:

— A senhora tem um gato?

— Um gato? — ela perguntaria. Ou responderia "sim" ou "não". Enfim, tanto faz.

— É, um gato tem logo sete vidas pra senhora cuidar.

Meu irmão é um gênio, às vezes.