quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Pela janela


Passarinhos passeiam toda manhã, pela minha janela. Voejando, cantando, beijando as fartas flores cor-de-rosa da árvore ali em frente. Consigo sorrir àquela visão, mesmo sendo bem cedo, mesmo estando bem quente, com bastante trabalho a me esperar. Mas como me privar de sorrir, se eles parecem pedir para que eu sorria?
Vejo-os ali, empoleirados nas fiações do poste, como numa fila, como esperando que cada um tivesse sua vez junto às flores. E voam, um por um, de dois em dois, bando em bando, e todo o resto aguardando nos fios de energia. Numa barulheira animada, de quem espera horas e reclama: "vai logo, ô, tartaruga!", mas sem se incomodar realmente com a demora. Afinal, que pressa eles poderiam ter, se não tem trânsito para pegar, contas para pagar? E se o trabalho deles é apenas beijar aquelas flores? Eu penso… Talvez só estejam reclamando do intenso calor.
O sol que tem feito me levou a desejar chuva. A chuva veio, de fato, e os passarinhos foram-se embora. Não voltaram, nem quando a chuva se foi; a elegante árvore das flores cor-de-rosa foi derrubada, com o temporal. E, agora, toda manhã eu suspiro: onde estarão meus passarinhos?

"Quero ver você voando
Quero ouvir você cantando
Quero paz no coração"*
 *Música: Canta coração

14 comentários:

Marina disse...

O que eu acho mais bacana neste tipo de texto é que deixa todo o 'circo armado' pra nossa imaginação fazer o resto.
Leminski comenta que a poesia tem que estar tanto no emissor quanto no receptor. Quando se lê algo assim, não é pra ser feito de forma subjetiva, sentindo os passarinhos cantando.
ZeH | Homepage | 12.16.09 - 2:23 am

Marina disse...

Os passarinhos estão na sua forma de sentir a vida, Marina! A beleza das coisas não pedem nada além do que somos capazes de ver e sentir.

Beijos ternos,
Inês
Dois Rios | Homepage | 12.16.09 - 8:07 am

Marina disse...

Muito legal e muito bonito, como de costume. Achei que fosse ser uma narrativa bem simplinha (até meio bobinha), mas a revelação da chuva e da árvore transformou o texto em algo bem mais profundo (e até tristes). Afinal, não estamos todos procurando os nossos passarinhos?
Marcelo | Homepage | 12.16.09 - 12:14 pm

Marina disse...

Esse conto faz bastante sentido aqui no centro-sul. Com esse tal de el niño, cada chuva são dezenas de árvores no chão.

Talvez não volte a ver os pássaros tão cedo, mas, plantando uma semente, quem sabe quantas outras pessoas não poderão também vê-los, no futuro?
v.h. | Homepage | 12.16.09 - 9:10 pm

Marina disse...

Gostei muito do texto e espero que veja os pássaros logo,enfim queria saber se esse fragmento no final do texto é uma música,é por curiosidade.
abraço!
Ticoético | Homepage | 12.17.09 - 5:46 am

Marina disse...

Ah, acho que eu quero ser passarinho, na próxima encarnação... sem pressa, sem contas, sem trânsito... e ainda poder voar...
larissa | Homepage | 12.17.09 - 6:59 pm

Marina disse...

Tenho sempre a impressão que você cria uma narrativa do seu cotidiano, como se, aos poucos, transformasse sua vida em uma coletânea de contos. E com que delicadeza!

Este aqui é lindo. Eu leio literalmente e é lindo. E quando imagino que possa ser algo mais profundo, uma analogia pra algum fantasma seu um pouco menos colorido, ele continua lindo.
Bruno Portella | Homepage | 12.19.09 - 4:30 pm

Marina disse...

pássaros não se têm, salvo quando engaiolados. mas ai perde toda graça, né, até porque os possuir não significa que eles realmente sejam seus, ou muito menos que eles estejam cantando por você...

bichinhos complicados, têm mais que voar mesmo =P
beijo.
Rodrigo | Homepage | 12.20.09 - 6:13 pm

Marina disse...

É engraçado, Rodrigo, nunca gostei de ver pássaros presos. Já tive alguns, mas sentia como se me pertencessem menos que estes do texto. Se eles estavam presos é porque voariam se eu os soltasse. Como posso declarar meu algo cuja alma está longe?

Marina | Homepage | 12.20.09 - 6:51 pm

Marina disse...

Amigos, mudei o sistema de comentários do blog e o processo acabou por apagar todos os comentários de antes. Como já sabia que isso ia acontecer, salvei todos e vou adicionando aos poucos, nos respectivos textos. Só perdi os links dos blogs, mas teve que ser.

A partir de agora, não haverá mais problemas. Assim espero.

Vickye disse...

Só mesmo um cara doce e puro como Geraldo Azevedo pra acompanhar um texto desses... =D

Que tal postar mais, hem???

Beijo!

Deise Rocha disse...

Ah! Foram embora é... e dá a sensação de que levaram a traquinagem e a calmaria consigo...

interessante, fofo e triste...

fiquei foi pensando na árvore.

Thiago Dalleck disse...

Ótimo texto para se ler na véspera de Natal! =D

Mas eles voltam sim, talvez não como pássaros, mas como outra forma de te fazer sorrir.

Anônimo disse...

marina, você é uma gracinha, menina! quero te conhecer, aposto que vou te adorar!
ps: excluí meu blog.