quarta-feira, 31 de dezembro de 2014

O que se leva

E neste fim de ano, pensei em fazer uma retrospectiva. Ao contrário do oversharing usual, é mais um "levar do ano o que ele teve de bom". Optei por falar apenas das coisas boas. As coisas ruins aconteceram, fazem parte da vida, do ano, não serão esquecidas. Mas a gente sempre pode escolher não mencioná-las e deixá-las quietas num canto, para morrerem em paz.

Deste ano, eu levo os grandes amigos, que fizeram com que todos os momentos valessem a pena ser vividos, inclusive os ruins, com toda a intensidade. Novas e velhas amizades, que só cresceram. A melhor parte do ano, os melhores momentos, foram todos graças a elas. Vou citar, porque a cada uma delas vale a pena agradecer: Mari, Gaby, Clá, Raissinha, Maria, Renatinha, Dani, Manu, Kanti, Cínthia, Carol, Valeska. Só mulher? Não, tem mais: Bruninho, Dioguinho, Leo, Marillia, Alexandre, Alladin, Cecy, Naty, Mari. Aos meninos da Mojo, que passei a admirar cada dia mais. Ao meu mestre Alexandre e ao pessoal do ballet, pessoas fantásticas, com quem só aprendo mais a cada dia. Também outras pessoas, que não serão citadas, vindas de circunstâncias das quais nada se deveria levar, mas conquistei e levo, doa em quem doer. Aos meus primos, do amor incondicional e apoio inestimável. A Luke, meu pequeno amigo peludo, que chegou este ano para me trazer alegria. Levarei a alegria dele para mais um ano, que espero que seja superior a este. Aos meus irmãos e a Simone e Camila, minhas irmãs de coração (no caso de Simone, agora in-law). Aos meus pais. A Ele, principalmente, tenho motivos de sobra para agradecer. Por me fazer passar por tudo da maneira mais suave.
Levo os bons momentos passados com essas pessoas. Deles: o casamento de Paulinho e Simone, a formatura e o doutorandos de Mari, a festa à fantasia de Maria., o casamento e o chá-bar de Marillia e Rui, o sábado de carnaval em Olinda, o reveillon na praia mais linda do mundo.

Levo também uma nova perspectiva e uma nova esperança. No final do ano passado, não esperei nada do ano que vinha. Mas deste ano que vem, espero uma pessoa melhor. Eu mesma, mas uma pessoa melhor. Entrando nos trinta e com as esperanças e os sonhos de criança. Não sonhos impossíveis, mas sonhos felizes e reais.

De 2014, levo apenas as coisas boas. O que vier junto, bom ou ruim, espero que venha melhor. Que só passe deste ano o que for melhor. Um feliz 2015 para todos nós.

"Hei de ser melhor também, depois"

quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

"We accept the love we think we deserve"


Não li o livro "As vantagens de ser invisível" (The Perks of Being a Wallflower, de Stephen Chbosky) e vi somente uma parte do filme, porque tive que sair. Mas essa frase que todo mundo já comentou e já cansou de ser analisada em várias resenhas ficou na minha cabeça por um motivo bastante pessoal. Não vou discorrer sobre o motivo, por não estar muito interessada em um oversharing agora, mas fiquei pensando... Afinal, como a gente pode avaliar a quantidade ou qualidade do amor que a gente merece?

Recentemente, eu li a história de uma dona de casa pobre e negra que se casou com um homem e apanhava dele por nada. Logo da primeira vez que isso aconteceu, ela foi à delegacia e denunciou o marido. Conheço também a história de uma mulher rica, casada, que descobriu que o marido tinha uma outra família além da oficial, com um filho de três anos. Apesar disso, ela considerou que ele era bom para ela e para os filhos, nunca deixando nada faltar, e o aceitou de volta. E a história de uma mulher jovem cujo companheiro agia com grosseria com ela, intimidando e diminuindo tudo o que ela fazia. Ela tolerou por um tempo, mas acabou o relacionamento quando decidiu que não aguentaria o resto da vida. E há outra mulher, beirando os trinta, que acabou um relacionamento somente porque não havia nenhuma perspectiva de futuro. Outra bastante jovem que acabou porque não tinha tanta atenção e carinho quanto desejava. A mulher desprezada, que aturou um relacionamento sem graça por mais tempo do que deveria e terminou traindo o companheiro com um amigo dele. Outra mulher casada, de classe média, que foi traída uma vez, o companheiro contou no mesmo dia, pediu perdão, mas ela não aceitou. Acabou tudo.

Conheço também o caso de um homem bem sucedido que se casou com uma mulher ciumenta ao ponto de ela controlar até suas ligações, ter senhas de redes sociais e e-mail. Apesar disso, são felizes e ela espera seu primeiro filho. E a história de um homem que estava noivo e acabou tudo porque se interessou por outra, depois de vários anos juntos. A história de um homem, bonito e sensível, que viu um relacionamento definhando e não fez nada para mudar, conversar ou resolver. Casou-se sem amor, sem vontade, por pressão. E arranjou uma amante. O caso de um homem jovem que conheceu a mulher perfeita, mas não conseguiu ser o homem perfeito. Ela o deixou, pouco tempo depois. E o caso de um homem comum, que conheceu a mulher perfeita e conseguiu ser o homem perfeito para ela, ao perceber que ninguém é perfeito. Hoje, são felizes, têm trinta anos de casados e três filhos adultos.

Todas essas histórias, reais ou não, ilustram o pensamento que eu tive quando ouvi a frase acima: "Nós aceitamos o amor que achamos que merecemos". O pensamento de que, independente de classe social, intelecto ou tipo físico, as pessoas têm ideias definidas sobre aquilo que esperam do amor e aquilo que podem suportar. E pesam os prós e os contras sem perceber, avaliando o que merecem e o quanto desejam da vida. Muitas vezes, essas ideias nos confundem, quando pensamos que somos de um jeito e descobrimos que podemos aguentar mais; ou mesmo, que podemos aguentar quase tudo. Que podemos virar outra pessoa. Mas sempre existe, para todas as pessoas, aquele ponto, aquele limite, que, se atravessado, não haverá mais volta. Acredito que esse ponto defina o início do nosso amor próprio e dos nossos valores. Para algumas pessoas, esse terreno é bem pequeno e, para outras, é imenso.

E esse limite define o momento de impacto, o momento em que passamos de amor eterno a amor passado. Às vezes, a ódio, rancor, mágoa e depois esquecimento. O momento em que o outro passa de melhor amigo a desconhecido. Para uma pessoa, esse momento pode ser por causa de um tapa na cara; para outra, um simples olhar para o lado, ou um amigo inseparável que causa ciúmes. Grandes ou pequenos, os limites de cada um. E esses momentos de impacto definem o fim. E o fim define quem somos.

É claro que eu sou uma dessas pessoas. Ou várias. Talvez, algum dia, seja outra. Muitas pessoas que eu conheço poderiam ser personagens dessas histórias. E quem sabe não sejamos todos? Personagens de nossas próprias histórias; fazendo escolhas, fazendo besteiras, jogando nossas vidas, vidas de outros e sentimentos no lixo. Ou lutando por eles.

Ou apenas vivendo, aos tropeços, sempre em frente.