De todas as pessoas que esperaria ver ali, ela era a última. Ela, a quem tanto fizera sofrer. Ela, a quem ele tanto amou. Ela, dos olhos escuros e misteriosos, calmos, quase frios. Quase. Em alguns momentos, ele sabia, podiam ser aço fundido, cor-de-fogo, incandescente. Cor de chocolate quente meio amargo.
Podia vê-la agora, apertando os lábios, torcendo as mãos. Ela, das mãos nervosas, quando tentava dizer alguma coisa importante. Nunca foram bons com as palavras, entendiam-se melhor sem elas. Agora, não tentava dizer nada; ao menos, não com palavras. Ao menos, não com a voz. Gostaria de poder ouvir aquela voz mais uma vez, não a de todas as outras que ali estavam.
Imaginava que suas outras mulheres iriam. E foram, em sua maioria. Inclusive antigas namoradas, velhas amigas, ex-esposas, a viúva… E ela; ninguém lhe notava a presença, ali no canto da sala, por trás da aglomeração. Estava um pouco afastada, mas não se escondia. E, o mais incomum: não sorria. Ela, do sorriso fácil e do choro difícil. Das lágrimas que inchavam os olhos antes de cair. E agora caíam. Por sua culpa.
De todas as pessoas que esperaria ver ali — de todos os amigos, parentes, amantes, ela era a última. Ela, com quem nunca se casara. E ninguém parecia sofrer mais que ela; aquela a quem ele somente amou, todos aqueles anos. Sempre soubera, apenas nunca lhe dissera. Agora, era tarde demais.
"And there's nothing but silence now"*
Imagem por: stock.xchng
Música: Our farewell
17 comentários:
caramba... é só isso que eu consigo pensar agora...
caramba...
Tarde demais, tarde demais... isso sempre me deixa tenso...
beijão
Maravilhoso, Marina! Lindo! Não é a primeira vez que você fala de quem parte, mas sempre surpreende, pois traz importantes reflexões. Essa história do "tarde demais"...
Beijos!
Magna
realmente muito poético, mas não entendi
rs
abraços libertários
Nossa! Creio que é a primeira vez que um texto me toca dessa maneira. Tenho uma avalanche de recordações a partir da sua narrativa, e a sensação é sempre a mesma.
abraços.
Foda! Hahaha. No meinho eu suspeitei que era o morto narrando (se é que era pra suspeitar de qualquer outra coisa). Mas mesmo assim. Como você escreve bem, Marina.
Parabéns!
Primoroso texto, minha querida amiga... Bonito, tocante e bem construído.
Voltamos ao tema: será tarde demais? Talvez às vezes. Mas teu miniconto, para mim, serve para refletir, principalmente, nas vezes em que talvez ainda tenhamos chance.
Adorei. Abraços e boa semana!
Ê Marina, tem que escrever sob a óptica masculina.
Se ele tinha tantas mulheres, ele não poderia ter esse ressentimento todo ao partir ;P
Brincadeira, o texto está belo. Quem sabe você não nos conte um dos momentos entre esses dois amantes, enquanto o varão vivia?
Confesso que esperava o desfecho pelo título, mas isso, em momento nenhum, diminui seu texto, muito pelo contrário. Me deu é mais angústia pelo tempo perdido, pelo "tarde demais" e por enchergar que, quase sempre, fazemos isso, colocamos pessoas não tão importantes em pedestais e não esperamos nada de quem realmente importa. Lindo texto, muito sensível! Beijão Marina
Adorei o texto Marina.
Emocionante.
Grande Beijo.
É sempre assim...
O orgulho é demais para agirmos enquanto ainda há esperança.
e quando o fazemos, já é tarde.
bjo
o texto está excelente...triste, mas lindo. E sobre o "tarde demais"...será que realmente era? sempre me pergunto isso...perdemos algumas coisas para aaprender a valoriza-las...seres humanos? sim, também! Daí é jogado na nossa cara que não davamos o valor que merecia...divagações...abs!
Oi,linda
Arrepiou! Demais o seu texto!
Grande beijo
Triste constatação de que o tempo parou no "tarde demais"; triste.
lindo dia flor
beijos
Uau. Realmente suas palavras arrepiam.
=)
Comovente, Marina!
Isso nos faz pensar que jamais devemos "economizar" amor. Se ele existe, que o vivamos, então, até o último suspiro.
Beijo,
Inês
Marina vc faz poesia como se fosse música! parabéns!
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