sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Herbie returns

Meu carro, pelo menos o atual, nunca deu problemas. Nunca parou no alto de um viaduto, nunca emperrou o medidor de gasolina, nunca demonstrou a mínima revolta para com a vida. Até esse fim de semana, quando ele começou a mostrar um pouco da sua personalidade explosiva em situações de estresse. Não sei ainda o que houve, mas já o coloquei, sem pensar muito, na minha longa lista dos aparelhos voluntariosos.

Aconteceu que eu fui viajar com meu irmão para a praia, num município a uma hora de Recife. Já fiz esse percurso milhares de vezes e conheço bem a estrada, por isso a primeira metade da viagem ocorreu sem maiores intercorrências, a não ser pela chuva (que me fez pensar em algumas coisas depois. Primeira: que foi sorte o carro ter dado chilique só depois que estiou. Segunda: que diabos eu ia fazer na praia num toró daquele?).

Alguns quilômetros depois, o carro simplesmente estancou a 120 km/h. As luzes do painel se acenderam, o freio motor ficou impossível de pisar e era uma vez direção hidráulica. Sem entender nada, parei no acostamento e liguei o carro de novo. Nenhum problema. Andei alguns metros e ele parou outra vez. Liguei e fui acelerando loucamente, para não estancar, até um posto de gasolina mais próximo. Olhei a água, OK; óleo, OK; gasolina, OK. E — me poupem dos comentários machistas — acabou-se aí o meu conhecimento sobre motor de carros. Meu irmão entendia mais, como deve ser, mas não conseguiu fazer muita coisa, a não ser dar apoio moral e chamar alguns homens para olhar o motor do dito-cujo.

Depois de falar com um monte de "entendidos", que acabaram por não resolver porcaria nenhuma, decidi continuar a viagem acelerando o carro. Já mais consciente do problema, fui mais devagar, na faixa da direita, forçando absurdamente cada marcha. E ele foi empacando, coiceando, agonizando na pista. E lá se vai a viagem tranquila que eu tanto esperava.

Umas vinte estancadas, centenas de olhares de desprezo por parte dos carros que passavam ("só podia ser mulher!"), e trezentos palavrões depois (meus, não contei os dos outros), percebi que a enfermidade do carro tinha várias etapas, assim como qualquer doença que vai progredindo. De primeira, ele só estancava. Depois, dava uns sopapos, tossia, ameaçava parar; eu conseguia fazer andar assim mesmo, mas inevitavelmente parava algumas vezes. Então, ele começou a acelerar sozinho; eu tirava o pé do acelerador e o ponteiro de RPM chegava a 4. Na outra etapa, ele parou de acelerar, mesmo quando eu pisava fundo. No último estágio, o ponteiro do velocímetro começou a subir sem que a velocidade aumentasse. Só o que aumentava mesmo era o meu estresse.

No final, mesmo esperneando numa aceleração sem fim, o carro nos levou ao nosso destino. Terminamos voltando no outro dia, nas mesmas bizarras condições. Essa história toda me lembrou Herbie, o fusca voluntarioso. Se meu carro falasse, não sei o que me diria. Mas o que quer que fosse, eu o teria mandado para a PQP como resposta.


"Baby, you can drive my car
And maybe I'll love you..."

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

Em branco

Tanto para dizer e uma página em branco. Que continua em branco, mesmo que eu escreva mil palavras. Que escreva e apague. Ou não apague, mas tenha vontade. Continua sendo uma página em branco, porque não diz nada. Ao menos, nada do que eu gostaria de dizer.
Poderia falar das paisagens, que tão bem conheces; das casas, das árvores, das flores. Sim, falarei das cores, das tantas combinações, tão exatamente aquelas que sempre vimos. Até mesmo do tom cinza das construções, das pontes, dos enormes edifícios. Tu lerias, reconhecerias, quem sabe até esboçarias um sorriso. Ou talvez não; talvez amassasses tudo e lançasses ao lixo. Afinal, quem quer saber das cores?
E se eu falasse dos sons, do burburinho das ondas, dos pássaros, do vento? Ou do aroma das especiarias, dos dias ensolarados, da chuva muda que batia à nossa janela? Será que tu lerias com aquela mesma atenção com que me fitavas os olhos, naqueles dias? Será que te lembrarias?
Como posso saber? Queria te ver, ver teus olhos, teu sorriso e tuas lágrimas. Mas tudo que eu vejo é uma página em branco.

"Reach out to me, call out my name
And I'll bring you back again
Today"*
Imagens por: stock.xchng
*Música: Home to stay

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Retrospectiva 2009

Vão se passando os dias, os meses… Um ano. Sessenta e oito posts, escritos durante um ano. Cada texto depositado aqui neste blog representa um riso meu, uma lágrima, uma dúvida. Nem todos são textos autobiográficos, porém cada um deles foi produto de momentos de busca em mim mesma, busca por sensibilidade, sentimento, magia. Posso não ter conseguido o que pretendia, não ter cumprido todas as resoluções que fiz no fim do ano passado, mas acredito que foi suficiente para mostrar uma parte de mim.

Durante os meses, tivemos contos, casos, desabafos, pensamentos pintados quase exatamente como pude visualizá-los na tela da minha imaginação. Em janeiro, publiquei dois dos contos, escritos por mim, de que mais gosto: Café e Biscoitos. Até mesmo o modo como se completam faz deles únicos e especiais.

Então veio fevereiro, com o tradicional texto sobre o Carnaval de Recife e, para quebrar um pouco o bairrismo, publiquei o Baile de Máscaras, que falou de blogs e carnaval, num texto que me divertiu muito escrever. Falou um pouco das minhas experiências no mundo dos blogs, das amizades, das máscaras.

Para quem gosta (e sempre espera encontrar aqui, mas é um pouco raro) de textos autobiográficos, publiquei em março o Compre um Gato. Não é um grande texto, mas há quem ria com o mau humor alheio. Abril veio o com conto Janela, cuja imagem eu mesma editei para falar um pouco mais dele. Às vezes, palavras demais são desnecessárias.

Um dos textos que mais me emocionou, até mesmo pelos comentários que teve — um em especial —, foi o texto Lembranças, de maio. Consigo ler cem vezes e me emocionar em cada uma delas. Já comecei a escrevê-lo debulhada em lágrimas.

Junho é o mês do meu aniversário. Por este motivo, escrevi o texto Uma vela apagada, que fala um pouco do que este dia significa para mim. E do que importa realmente. Em julho, publiquei um dos textos mais comentados do blog: Apenas palavras. Alguns falaram na poesia de cada frase, outros da música que conseguia ouvir. Fiquei muito feliz e lisonjeada com cada homenagem feita nos comentários. Um dos posts mais inesquecíveis.

Havia começado uma série de contos com a mesma personagem e acabei escrevendo, em agosto, o conto Flores, considerado por muitos um dos mais delicados. Depois, no mesmo mês, publiquei um divertido texto sobre meu talentoso Willy: o Poliglota.

Em setembro, mês de textos bem humorados, eu acabei por escrever a história verídica No meio do caminho tinha um galo, em que conto uma das divertidas passagens da minha infância, na casa em que morava. Já em outubro, escrevi bem pouco e publiquei um conto antigo, longo e todo dialogado: Ao telefone. Fiz também uma pequena homenagem, no texto O Pequeno.

Ano acabando, inspiração também… Novembro foi um mês de poucas postagens, assim como outubro. Notas de Adeus, conto não autobiográfico, chegou como um bálsamo, como que para salvar dois meses quase nulos.

Dezembro veio com aquele gosto inconfundível de fim de ano. O texto Pela Janela é meio melancólico, mas delicado e sincero, exatamente como me sentia quando o escrevi. Depois veio o Sempre em Frente, para encerrar o ano de cabeça erguida.

Valeu a pena cada palavra.


"São apenas palavras. Textos. Versos. Tudo o que eu tenho. Parte de mim, do meu ano, da minha cidade, dos meus amigos. Sim, é bom lembrar. Porque ainda há coisas boas a serem guardadas."

trecho do final da retrospectiva 2008


Imagem por: stock.xchng