sábado, 5 de outubro de 2013

Passando


Os dias vão passando. Fazemos vários planos, constantemente pensando e bolando alternativas, ideias, soluções. Juntos. Mas fico vendo os dias passando. Tinha me animado e gostaria de permanecer animada, sem fraquejar, continuar fazendo planos e colocando-os em prática. Mas os dias vão passando e eu percebo que não sei fazer nada disso, nunca aprendi e não há nenhuma garantia de que vamos conseguir. Só que precisamos conseguir. E é só isso que não me deixa desanimar por completo: a certeza de que os dias passam, mas que continuar é nossa única alternativa. Juntos.



"We can face it together
The way old friends do"

Imagem: Fotolia

quinta-feira, 19 de setembro de 2013

Egoísta

Hoje comecei a me perguntar se estou fazendo as coisas pelos motivos certos. E percebi que, depois de a vida me dar tanto caldo, terminei ficando um pouco egoísta. Ou melhor, terminei me dando o direito de ser egoísta. Porque eu já era, mas tinha vergonha. Agora, sinto que não é errado pensar em si, em ter uma boa vida, se você lutou tanto por isso. Não falo em passar por cima de ninguém; apenas de cuidar da própria vida, pensar em ter um bom salário. Em não ter vergonha de cobrar um preço que valha o seu esforço, seu estudo. Sem viver fazendo caridade, pensando que receber dinheiro por um trabalho é errado.

É muito desse pensamento que existe nas profissões de saúde. Você é ensinado a fazer bem um trabalho, a trazer saúde para alguém; mas nunca ensinam a receber com orgulho por isso. As faculdades nos ensinam a ser idealistas e fazer saúde pelo prazer de curar. É lindo isso e não censuro. Mesmo porque vejo que, mesmo com esses belos ensinamentos, muitas pessoas saem de lá pensando em ficar ricos.

O problema está em não ensinar nada sobre gerenciamento, impostos, gastos. Saímos da faculdade achando que vamos mudar o mundo e acabamos sem um centavo, pensando no que podemos ter feito de errado. Porque cobrar é errado e cobrar acima da concorrência é mais errado ainda, mesmo que sua estrutura seja de primeira qualidade, que os materiais sejam os melhores, que você gaste pequenas fortunas em tecnologia e funcionários. É errado trocar saúde por dinheiro. Você diz o preço de um trabalho com a cabeça baixa, já pensando no desconto que pode fazer, com vergonha de precisar receber por isso. Levei muito tempo — um curso de gestão e muito tempo — para entender que isso daí é que é errado. Tive que refazer totalmente a minha cabeça para entender que é justo receber por um trabalho. Que eu tenho dívidas, contas, como todo mundo. Uma vida, como todo mundo.

Faz alguns anos que decidi assumir meu lado egoísta. Eis que hoje, sei lá por que, me peguei pensando se faço isso pelos motivos certos. Se é que existe um motivo certo, ou minhas ideologias é que o fazem ser certo. E acho que vem aí toda uma reflexão pela frente, que não consegui ainda colocar em palavras, porque me preocupei mais em justificar o meu egoísmo. Reflexão que eu tinha a esperança de colocar neste texto, mas não tive sucesso. Talvez no próximo.

Imagem: GettyImages

terça-feira, 3 de setembro de 2013

Não aprendi a dizer adeus

Cada partida, um parto. Nunca fui boa com despedidas, desde a época em que minha mãe me deixava na escola. Cada uma daquelas partidas, todos os dias, dois corações partidos: o meu e o dela. Logo esquecidos pelos afazeres de estudante, ou pelo estresse do trabalho. Com o tempo, tornou-se mais simples e menos doloroso.

No decorrer da vida, são várias as partidas. Algumas para sempre. A gente aprende a conviver, esperando pelo dia em que elas se tornem mais fáceis. Ou, pelo menos, distantes. Ou menos dolorosas. Porque a volta quase nunca é tão certa como o adeus. E a única certeza que temos é que sempre haverá mais um. O último.

E sempre que ele vai embora, uma dor nova, logo esquecida. Ou substituída pela saudade.

"Mas deixo você ir sem lágrimas no olhar..."
Imagem: GettyImages

quinta-feira, 22 de agosto de 2013

Opinião

O problema não é as pessoas discordarem de mim. É as pessoas dizerem absurdos baseados em preconceitos, xingarem até a sua mãe e acharem que estão certas. Tem hora que discutir é inútil, de tão absurda que seria a discussão; ao mesmo tempo em que a coisa toda é tão absurda que você não consegue ficar calada. Aí a gente até tenta não ser chata, mas não tem jeito. Pago até de arrogante, se for necessário.

Gostaria, às vezes, de estar alheia a tudo. Talvez sair do facebook, das redes sociais, não ler as notícias, nem os comentários. Os comentários são os piores. Não ligo de ter opinião diferente. Perco tempo me informando para poder ter essas opiniões. Perco tempo para ser a pessoa que eu sou, perco tempo estudando e me especializando para ter a formação que eu tenho. Acho que todo mundo perde esse tempo com o que quer que seja, se quiser ser alguma coisa na vida. Então não me peçam para ser alguma coisa que eu não sou, ou que dê alguma informação que eu não acredito. Se me perguntam, eu dou meu preço. O preço define o que eu penso de mim e da pessoa que me tornei. Pague, se quiser. Ou se despeça e vá embora.

Eis que a minha resolução de não entrar em discussões inúteis falha. Mas, nesse caso, não ligo.


Imagem: GettyImages

sábado, 17 de agosto de 2013

Resenha: 1933 foi um ano ruim

No início, achei que este livro era igual ao Vinho da Juventude, ou ao Espere a Primavera, Bandini, e fiquei meio abusada para ler. Afinal, já tinha lido dois livros sobre a infância de Fante, disfarçados de ficção ou não, e meio que cansei das mesmas histórias. Pobreza, casebre humilde, pai pedreiro, mãe cansada e maltratada pela vida, família italiana, colégio católico, freiras, um menino, muitos irmãos, um sonho, inverno. Às vezes, acho que a infância inteira de Fante se passou no inverno.

Como estava sem paciência, deixei o livro encostado e fui ler outras coisas, até tomar coragem e recomeçar. E descobri que tudo o que eu achava que seria o livro era aquilo mesmo. Mas eu não me importava. Porque aquilo era Fante. Foi a escrita dele o que, primeiramente, me fez gostar dele de cara, nos outros livros que eu li antes. Fante desce fácil. Era isso que eu tinha esquecido; o quanto, mesmo com a mesma temática, eu adorava a verdade das palavras dele. O quanto ele sentia aquelas palavras.


Depois de reclamar, dar chilique e abandonar o livro por dois meses, acabei começando de novo e lendo em poucas horas. E ele é o cara. Não é à toa que Bukowski era fã dele.

domingo, 11 de agosto de 2013

Resenha: O Oceano no fim do caminho

Faz muito tempo que leio os livros de Gaiman só porque são de Gaiman. Este livro, em particular, depois de conhecer tanto as obras do autor, terminei lendo sem nem procurar saber de nada, sem ler resenhas, críticas, comentários; nem mesmo a sinopse eu li. Apenas comprei e comecei a ler. E acho que Gaiman só fica ainda melhor com o tempo. Somente um dos melhores livros da minha vida.

Este livro é a história de um homem, que chega a um lugar muito importante da sua infância, à beira de um lago, e este lugar começa a lhe trazer lembranças, que começaram com a morte de um inquilino que alugava o sótão da sua antiga casa. E essas lembranças começam a sair da normalidade que a gente conhece e entram num mundo diferente e totalmente inacreditável. E ele fica sem saber se tudo que ele está lembrando são mesmo lembranças ou apenas fantasias.

E... não dá mais pra contar nada sem ser spoiler. Então, vou fazer algumas considerações aleatórias minhas:

1. O homem, o narrador — que é um menino quando narra as lembranças do passado —, seu nome jamais é mencionado em nenhuma parte da história. O que é bem curioso e dá margem a algumas divagações. 
2. Em todas as histórias de Gaiman em que gatos aparecem, eles são sempre seres incomuns, sobrenaturais, super-heróis ou coisa assim. São sempre os melhores. 
3. Algo nessa história lembrou Coraline. Gaiman tem uma coisa com vilões desconcertantes. 
4. Eu disse ao meu namorado que imaginava o final da história, quando ainda estava lendo. Mas me enganei. 
5. Muita gente reclama do pouco que Gaiman explora os seus mundos fantásticos, mas eu discordo. Já ouvi essa crítica à Londres de Baixo, do livro Lugar Nenhum. Acho que é o jeito dele, bastante peculiar, de tratar todas as coisas estranhas que ele cria como normais. Sem explicar muito e deixar a cargo da imaginação. 
6. Vi gente dizer que não entendeu o livro. Isso é sério?

sábado, 3 de agosto de 2013

Auto-estima


Acho que o pior de tudo é essa baixa auto-estima que se instalou por aqui, ultimamente. É muito fácil sair das situações difíceis quando você acredita em si mesmo, quando tem consciência do seu valor. Mas, a partir do momento em que perde a fé em si, perde até as palavras.

Talvez eu nunca tenha sido uma pessoa de grande auto-estima. Talvez sempre tenha tirado força das pessoas ao meu redor. Ou talvez seja apenas uma fase. Uma fase bem ruim.

Imagem: GettyImages

terça-feira, 30 de julho de 2013

Sobre equilíbrio

Chegou a um ponto que eu não consigo mais entrar em uma rede social sem afogar em mil discussões sobre algum assunto polêmico e esbarrar em pessoas polêmicas opinando sobre tudo que não entendem. Não que isso seja necessariamente uma coisa ruim; é bem legal ver as pessoas saírem um pouco do seu ambiente de conforto e alienação e pensar um pouco no país, se interessar por política, saúde pública, educação, homofobia e coisa e tal. O problema é quando sai do equilíbrio. E parece que já saiu faz tempo.

Essa falta de equilíbrio não está nas discussões em si, mas nas pessoas. É massa quando você vê um assunto interessante, oferece a sua opinião, alguém oferece outra e lhe manda um link, você lê, discute, muda (ou não) de ideia — porque não há nada errado em mudar —, aceita a opinião do outro, considera outras opiniões e por aí vai. Isso tudo é um aprendizado e eu dava muito valor, até encontrar os “donos da verdade”.

Os donos da verdade acham que existe uma verdade universal e que, se você não concorda com ela, é porque é burro ou alienado. Talvez eu seja alienada, mas não sou intolerante; não acredito em xingar a pessoa porque ela falou besteira. Sou adepta das discussões saudáveis com gente civilizada, apesar de ser difícil encontrá-las, hoje em dia. Já vi críticas de gente mais cansada disso tudo que eu, dizendo que nos encontramos na era dos “especialistas sobre tudo”. Não acho uma coisa ruim as pessoas opinarem sobre tudo, mesmo que eu concorde que é bem irritante ver gente falando besteira sobre algo que lhe é familiar. Mas difícil mesmo é lidar com a intolerância de quem tem uma ideia qualquer e insiste em fazer você mudar a sua, custe o que custar. Custe até a amizade.

E nessa época de protestos e revoltas que estão acontecendo no país, a coisa piorou. Já entrei em cada emaranhado de discussões que até hoje não sei como entrei e nem como saí. Até que decidi não entrar mais em nenhuma (não estou tendo sucesso nessa resolução, mas vou tentando). Não me entendam mal, ainda há pessoas saudáveis com quem discutir e eu sei quem são elas. Mas, quem me garante que os donos da verdade não vão aparecer ali mesmo, revirar a discussão de cabeça pra baixo e acabar com a paz de espírito de todo mundo? Porque tem gente que esquece o equilíbrio e consegue ser uma porta. Agora, cheguei a um ponto que não pretendo contribuir para essas discussões desequilibradas acontecerem. Nem que batam com elas na minha cara. Prefiro cultivar paz a gerar celeumas. Vou aqui lavar minha trouxa de roupa. Sugiro que todo mundo faça o mesmo.

Equilíbrio
Imagem: GettyImages

quarta-feira, 24 de julho de 2013

Resenha: O Velho e o Mar

Já tinha lido um livro de Hemingway, antes de ganhar este de presente de dia dos namorados do abuso da minha vida, no ano passado. É daqueles livros que você termina em um dia e, diferente d’A Obscena Senhora D, eu acabei em um dia mesmo. Mas também, apesar do livro de Hilst ser meio “vomitado”, o de Hemingway, assim como todos os livros dele, tem a característica única de ser incrivelmente fluido.

O velho e o mar conta a história de uma única pescaria, na vida de um velho pescador. Não conta a história da vida do pescador, mas de um dia específico em que ele sai para pescar e esta se torna a pescaria mais importante da vida dele, em que ele passa dias lutando contra um só peixe. Depois de vários meses voltando para casa sem peixe nenhum, o velho e experiente pescador tinha ficado desacreditado no vilarejo e apenas uma única pessoa, um menino, ainda acreditava nele. E, sempre com o pensamento em não desapontar o menino, o velho partiu em sua pescaria, prometendo a si mesmo — e ao menino — pegar o maior peixe jamais visto.

Se qualquer um fosse escrever essa história, não conseguiria encher duas páginas, além do que aposto que ficaria uma porcaria. É o que eu pensei, antes de começar a ler: sério que o livro inteiro é a narração de uma única pescaria? Inexplicavelmente, Hemingway leva 126 páginas discorrendo sobre a pescaria, os temperamentos do mar, o sofrimento físico do velho, a solidão no barco, algo sobre beisebol... E só. E até agora, não sei como eu cheguei ao final do livro sem que ele tenha ficado entediante. Ele não foca na personalidade de ninguém, nem comenta sobre a vida do velho antes daquela pescaria. É só aquele momento e a luta entre o velho e o peixe. Fora que o velho é uma pessoa bem humilde e não se detém em divagar sobre a vida, o universo e grandes pensamentos filosóficos. Apenas o beisebol, que ele acompanha através de jornais velhos e do menino.

Então, se você espera grandes acontecimentos deste livro, esta é apenas a história de uma pescaria e um homem que viveu para aquele ofício. E a beleza dele. E a escrita inigualável de Hemingway, que, como sempre, não consegue ser ignorada.

sexta-feira, 19 de julho de 2013

Desilusões

É difícil manter o ânimo quando nada dá certo. Quando você colocava toda sua fé numa última esperança e ela começa a dar sinais de fracasso. Nunca consegui entender como planos que têm tudo para dar certo conseguem dar tão errado; como uma coisa que parecia tão certa termina não sendo tão certa assim.

Agora, só resta começar de novo. Mais uma vez, de novo. Como uma criança, na beira do mar: nem bem consegue ficar de pé, uma onda vem e a derruba de novo. E ela se levanta. Porque ficar ali, caída, só vai fazê-la engolir mais água.

Talvez, uma vez de pé, ela consiga se firmar e vencer as ondas. Ou cair mais uma vez. Não é a primeira, nem será a última.

"As they tear your hope apart

As they turn your dreams to shame"
Imagem: GettyImages
Música: I dreamed a dream

terça-feira, 16 de julho de 2013

Resenha: A Obscena Senhora D

Quase me envergonho de ter demorado tanto tempo para acabar de ler este livro: ele tem só 90 páginas. Fora que é aquele tipo de livro sem capítulos, escrito num fluxo incessante de pensamentos, que torna difícil retomar a leitura, depois de interrompida, mesmo que por apenas alguns minutos. O problema é que essas interrupções aconteceram com bastante freqüência, esses dias. Coisas da vida.

A história é sobre Hillé, ou senhora D. D de “derrelição”, ou abandono, solidão. É uma mulher de 60 e tantos anos que perdeu o marido e — não se sabe se por isso ou pela própria personalidade dela — começou a apresentar sinais de insanidade, chegando a assustar os vizinhos. E a senhora D passa o livro divagando, fazendo questionamentos e considerações sobre a vida; às vezes bem malucos, mas bastante interessantes. Uma mulher incomum para a época, uma mulher que pensava e, mesmo quando ainda era jovem e sã, acabava por afastar as pessoas, por causa das suas incômodas perguntas sobre o sentido da vida.

A maior dificuldade na leitura era descobrir quem diabos estava falando, naquele momento; se a senhora D, o marido dela, o pai, os vizinhos, Deus... Os vizinhos eram os mais fáceis; eles não eram adeptos de grandes filosofias, ao contrário do resto. Como bem disse a pessoa que fez a sinopse da edição que eu li, há uma grande economia de recursos na escrita. O que eu devia odiar, visto que adoro textos bem redondinhos, parágrafos, travessões, parênteses. Mas terminou que eu achei uma das grandes sacadas. Não apenas ficou um formato interessante — uma coisa meio “poesia em prosa” —, como também ilustrou a loucura da personagem principal. Como se tudo se passasse dentro da cabeça dela, numa confusão que só faz aumentar ao longo do livro. A narrativa e o livro inteiro terminam sendo tão loucos quanto ela.

Então, você inicia o livro meio tonto e sem entender nada de nada. E talvez passe boa parte do livro assim. E vai embarcando nas loucuras e bizarrices da senhora D, rindo dos palavrões, achando graça dos sustos que levavam os vizinhos, nas vezes que ela abre a janela. Até perceber que é uma história bem triste. Sobre derrelição, ou abandono, solidão.

Essa foi a minha primeira experiência com Hilda Hilst e eu só fiquei pensando se os outros livros dela são tão tristes e loucos quanto este. Pelo sim ou pelo não, pretendo procurar outros dela, porque achei fantástico.

* A todos aqueles que acham que o Brasil não tem escritores excelentes, vale lembrar que ela é brasileira.