domingo, 28 de fevereiro de 2010

Histórias de carnaval 2

(Primeira parte aqui.)


Carnaval é época de cantadas; das melhores àquelas bem ruins:

— Oi! Olha, eu não quero ficar com você hoje, tá? Só amanhã.

— Então, até amanhã!


— Oi, gata.

— Oi. — Ela aponta pro braço dele, que está com um band-aid. — O que é isso?

— Uma feridinha. — Ele aponta pros seios dela. — E o que é isso?

— Rapaz, se você não sabe, você tá fodido.


— Com licença.

— Sim?

— É que estou meio perdido. Esse lugar não tem nenhuma sinalização, a gente não tem idéia de pra onde vai ou por onde volta... E depois que toma umas, já viu, né.

— Verdade.

— Então, você pode me dar uma informação?

— Claro.

— Qual é o seu nome?


Devido a um calo inesperado, minha amiga acabou tendo que comprar um rolo de esparadrapo. Depois de usado somente no calo, o dito-cujo acabou por ficar passando de mão em mão, sem que ninguém quisesse segurá-lo durante as subidas e descidas das ladeiras. Eis que um amigo meu encontra a solução perfeita: um menino de uns dez anos, vendendo cerveja.

— Ei, boy! Troca uma cerveja nesse esparadrapo aqui? Tá novinho, só tem uma volta usada.

O garoto não respondeu, mas a cara dele foi impagável.


Mais uma vez no taxi, desta vez depois da folia. Fome do cão. Bêbado ensinando o caminho:

— Ei, moço, tem alguma comida aí na mala, pra gente?

— Rapaz, até uma hora atrás tinha uma jaca.

— Sério, uma jaca? Que ducarai! Pega lá pra gente!

— Não dá, deixei na casa da sogra.

O bêbado pegou ar:

— Porra, moço! Casa da sogra? Me estressei com o senhor. Fale mais comigo não.

— Sim, qual é o caminho mesmo?

— É na próxima rua à esquerda, mas fale mais comigo não.


O mesmo bêbado, depois da corrida:

— E aí, o senhor aceita pagamento em cerveja?

— Não, desculpe. Só dinheiro.

— Dez reais dá, o quê, três cervejas? Dou quatro e fica tudo certo.

— É que estou dirigindo, sabe como é.

— Olhe, eu prometo que esqueço até da minha jaca, que o senhor deu pra sogra.


No carnaval, sempre há muitas pessoas vestidas com fantasias diversas. E pessoas sem fantasia também; como um senhor, que estava de camiseta regata e tinha pêlos nos ombros estilo Tony Ramos, só que bem mais comprido. Do tipo que daria para fazer tranças.

— Aquele ali tá vestido de homem-velcro.

— Mas daqueles velcros bem gastos, né?


Mais histórias aqui.

sábado, 20 de fevereiro de 2010

Histórias de carnaval

Taxista, levando a gente pra folia, no típico #calordosinfernos:
— Eita, esqueci de perguntar. Querem que eu ligue o ar condicionado?
— Ar condicionado? Cara, era uma boa…
— Pois é, não tem.

A turma sentada no meio-fio, esperando algum transporte passar pra nos levar pra casa. É quando passam dois amigos com um celular, comentando:
— Porra, caraaa! Breno casou!
Minha amiga, se intrometendo, fala:
— Parabéns pra ele!
Os amigos prontamente voltam e estendem o celular pra gente:
— Fala aí com ele, fala!
A gente pega o telefone e, sem hesitar:
— SE FODEEEEEEEU!
Os caras, claro, amigos do peito que são:
— AEEEEEEE!! BRENO SE FODEU! BRENO SE FODEU!

Banheiro para mulheres, no carnaval, é sempre um suplício…
A menina bebeu todas. Tinha ido ao banheiro umas cinco vezes e já estava procurando outro, urgentemente, sem encontrar pelo caminho um que não pagasse (estava lisa) ou que estivesse em condições de, pelo menos, ter o chão pisado. Nada. O mais barato estava um nojo só.
No auge do desespero, ela reclama:
— PORRA, QUERIA TER UM PÊNIS!
Quem pode imaginar os comentários que a coitada ouviu depois dessa?

Dois amigos conversando:
— Olha lá, você viu?
— Vi o quê?
— O cara tá usando a cantada da jibóia.
— É? E como é?
— Ele pega, abraça com força e não larga até a mulher ceder.

Imagine a cena: o cara passando por uma das principais ruas, no fim da noite já, olhando pro chão. Poucas pessoas perceberiam a presença de uma singela moeda de um real, no meio dos paralelepípedos. Mas ele viu.
"Oba! Dá pra completar a cerveja."
Veja bem, uma moeda de um real num chão normal é uma coisa; uma moeda de um real no chão em pleno carnaval é outra bem diferente. Observando que ninguém dava por falta dela e sentindo que era seu momento de sorte, o sujeito prontamente se abaixa pra pegar, mas a moeda não sai. Insistente, tenta tirá-la dali com a unha. Quando percebe que está colada, ele olha em volta, desconfiado.
Um monte de gente já se estrebuchando no chão, de rir da cara dele. Poucas coisas são tão divertidas no carnaval que ver o povo pagando mico. Mesmo quem não tem intenção de pagar. Ele sai rindo, claro, sem graça. E nós ficamos lá, esperando a próxima vítima.

Meu amigo, gaiato, fazendo voz de criança:
— Ô, Mari! Por que o povo tá tomando cerveja de um jeito diferente? Olha! Eles botam a boca na latinha, sem virar, e sugam: shhhhhiup!
— É porque, nesse calor, a cerveja tá evaporando.

Leiam também a segunda parte.

sábado, 13 de fevereiro de 2010

Post de Carnaval

Para tantos, o Carnaval pode ser nada mais que um feriado prolongado com músicas irritantes tocando todo santo segundo. Ou mesmo um tempo para se passar na praia, tomando sol e água de coco. Ou para se trancar em casa e ser, eventualmente, incomodado por crianças batendo latinha e reclamando moedas para a La Ursa. Sim, esse é mais um texto sobre Carnaval.

Mas não um texto muito longo, vejam vocês. A maior parte do que eu tenho a dizer já foi dito anteriormente, em Carnavais e posts passados. Mas não poderia deixar uma data tão colorida passar em branco, afinal.

Há quem não goste de Carnaval porque alega que é tempo de drogas, acidentes e tumulto. Mas o meu Carnaval é dançar, é se divertir, é pegar os amigos pela mão e sair pulando ladeira acima. É vestir uma fantasia e brincar de ser outra pessoa. É colocar uma máscara e ser o dono do mundo, se tiver vontade. Meu Carnaval é lindo, alegre, ensolarado. O resto, é coisa de quem não sabe brincar.

Esse é o meu Carnaval. E ele só acaba quando a última latinha parar de bater.


"Dance while the music still goes on
Don't think about tomorrow."

Imagem por: Anibal Ribeiro

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

A espera

Onze horas da noite... Ele estava demorando tanto! Devia chegar por volta das sete, mas ultimamente se atrasava cada vez mais. Ontem, havia sido por causa do chefe, que arranjara hora extra para ele fazer. Anteontem, foi o trânsito que estava parado. O trânsito das seis era mesmo terrível e, naquele dia, um ônibus colidira com outro em pleno cruzamento de uma grande avenida. Ele sempre tinha bons motivos para os atrasos, mas nunca demorara tanto tempo. Nunca chegara depois das dez. Não tinha idéia de a que horas ele viria. Já ligara para o celular, mas só entrava na caixa postal.

Olhou o relógio outra vez. Onze e dez. Não jantara, esperando por ele. A mesa estava posta, impecável, mas a sopa já tinha esfriado há muito tempo. Teria que esquentar outra vez, assim que ele chegasse. Começou a tirar a tigela de sopa da mesa, levando para a cozinha, já à procura dos fósforos para acender o fogão. Derramou o caldo de volta na panela e pegou uma colher de pau para mexer. Não gostava de sopa, fazia por causa dele. Mas estava com tanta fome que até aquela sopa de ervilhas parecia apetitosa. Quem sabe, ele a levasse para jantar em algum restaurante, se não estivesse muito cansado. Ele sempre chegava muito cansado, o trabalho parecia consumir todas as suas energias. Então era só entrar em casa, jantar, tomar um banho e se atirar na cama. Mal tinha fôlego para conversar com ela. E ela tinha tanta coisa para contar... Mas entendia que ele estava exausto.

Onze e vinte. Desligou o fogo. Esquentaria a sopa assim que ele chegasse, decidiu. Dirigiu-se à sala e sentou-se no sofá, com um suspiro. Seu olhar vagou pelo aposento e pousou numa foto sobre a mesinha. Estavam os dois sorrindo, felizes, no dia do noivado. Ele lhe dera um anel de esmeralda, lindíssimo, dizendo que combinava com seus olhos. Mas ela só tinha olhos para ele. O anel tinha sido o item de menor importância naquele dia. A outra foto era do dia de seu casamento. Estavam todos lá; seus pais, sua família, seus amigos. Mas ela mal os notava; o que importava era o sorriso que ela via no rosto dele, quando seus olhos se encontravam. O mesmo sorriso que ele exibira no dia em que se conheceram.

O primeiro encontro. O cinema... Tinham ido juntos ver um romance em cartaz, que ela imediatamente comprou em vídeo, logo que o dinheiro do estágio saiu. O primeiro beijo, a primeira noite. Podia lembrar-se do toque dos lábios dele, de como tinha sido puro. Ele não pedira permissão, nem precisava. Ela quase se oferecera a ele. E foi tão natural, tão certo... Lembrava-se de tudo; de cada palavra, cada conversa, cada presente. Ela sabia que estava apaixonada para sempre. E, num jantar romântico, ele oferecera-lhe o anel de noivado. Ela apenas pôde sentir que nada poderia separá-los.

Como estourando um balão de pensamento, a realidade voltou em forma de uma badalada do relógio do corredor. Meia-noite. Sentiu um aperto no coração. Teria acontecido alguma coisa a ele? O carro quebrara? Estaria ferido? Ferido ou...? Ela cerrou os olhos e levantou-se do sofá, dirigindo-se ao quarto, decidindo ir se deitar. "Nada poderia separá-los..." Sentiu uma lágrima escorrer-lhe pelo rosto, solitária. Tantos dias esperando, uma desculpa esfarrapada após outra. No fundo, sabia que ele estava bem. Bem demais.


"Disillusion
Disillusion is all you left for me"


Imagem por: stock.xchng