— James, seu veado idiota, desocupa logo esse banheiro!
— Não enche o saco, Sirius!
— Faz uma hora que você tá aí!
— Dá licença? Eu quero tomar meu banho
sossegado.
— Eu já lhe digo onde é que você vai tomar,
seu…
O rapaz enfezado
gritava, praguejava e esmurrava a porta sem pena, causando um barulho que ecoava pelo corredor inteiro. Várias cabeças saíam das portas dos dormitórios mais próximos, para espiar quem estava fazendo aquele escândalo, mas ele não se importava. Era conhecido na escola por fazer badernas muito maiores que aquela, juntamente com James. Podia não parecer, naquele momento, mas eles eram ótimos amigos.
Sirius continuava batendo na porta e proferindo uma série de palavrões. O chuveiro, no entanto, continuava jorrando
água e uma cantoria tranquila vinha lá de dentro. Isso só fazia os gritos
aumentarem, dando uma impressão quase certeira de serem ouvidos pelo castelo inteiro.
— Sabe, Padfoot, eu não sei
por que você ainda se irrita com ele. — De dentro do quarto quase à frente do
banheiro, um outro rapaz, já vestido, arrumava uma pilha de livros pesados na
mochila. — Todo dia é a mesma coisa. Da próxima vez, por que não faz como eu e
acorda mais cedo?
— Acordar mais
cedo? Vou perder cinco minutos de sono por causa desse imbecil?
— Bem, eu estou
indo. — Ele pendurou a mochila pesada nos ombros, curvando-se um tanto para
trás no processo. — Acho bom você descer e tomar café antes, para já ir adiantando.
— Uma ova que eu desço de pijama pro salão! Esse idiota vai ter que sair daí alguma hora.
— Você vai acabar perdendo a primeira aula — o outro advertiu. — Quero ver como você vai
explicar pra McGonnagal que se atrasou porque Prongs estava no banho.
Sirius virou-se para
o amigo, entrando no quarto com uma expressão aborrecida.
— Sabe, Remus,
eu já estou com mau humor o bastante, sem que você me encha o saco também.
O amigo revirou os
olhos.
— Tá, você é quem
sabe. — Ele debruçou-se para pegar um frasco pequeno de uma poção de cor cinza dentro da gaveta do criado-mudo,
cambaleando com o peso da mochila. — Peter não vai para a aula hoje?
Sirius deu de ombros,
olhando o amontoado inerte de lençóis em cima de uma das quatro camas do quarto.
— Sei lá.
Remus inclinou-se e puxou o cobertor, descobrindo uma cabeça com fios claros, finos e emaranhados.
— Peter, acorda. Aula de Transfiguração, esqueceu?
Sem abrir os olhos,
o rapaz sonolento murmurou alguma coisa incompreensível e depois se virou na
cama. Sirius riu, sentando-se na própria cama vazia.
— Ele é que é
esperto. Eu também devia ter ficado dormindo. Pelo menos não tenho que esperar
a veela ali terminar de se embelezar.
— Eu já lhe digo quem é a veela.
Era James. Ele saía
do banheiro já com os óculos equilibrados no rosto e vestindo um roupão que exibia o símbolo de Gryffindor, trazendo
atrás de si um denso vapor e o cheiro de sabonete. Sirius virou-se para ele, com
expressão de profundo sarcasmo.
— Ah, quer dizer
que a noivinha terminou de se enfeitar? O que foi, foi difícil demais tirar o laquê que faz seu cabelo ficar em pé?
— Pelo menos eu tomo
banho — James retrucou. — Você não passa cinco minutos embaixo do
chuveiro.
— Como
qualquer pessoa normal.
— Pior que ele acredita mesmo que é normal — James comentou com Remus,
enquanto caminhava até seu baú de roupas. — Deve ter até pulgas.
— Sério, eu não vou
me admirar se um dia você chegar qualquer dia com uma poção para "hidratar a cútis do rosto". — As últimas palavras foram ditas com certa afetação. — Você
precisa conviver mais comigo, sabe? Essa moda metrossexual só funciona pros trouxas. Deve ser por isso que Lilly nem olha
para você.
James tinha acabado
de alcançar a camisa do uniforme, quando seu rosto ficou vermelho e sua expressão tornou-se irritada, pela
primeira vez. A tampa do baú bateu, com um estrondo. Sirius ria, desdenhoso,
sabendo que conseguira aborrecer o amigo.
— Tire a Evans dessa história.
O que só fez o
amigo rir mais alto.
— Aceite a verdade, Prongs. As mulheres percebem quando os caras são meio assim, afeminados, como
você. Não tenho nada contra, vou sempre ser seu cão fiel.
Remus revirou os
olhos, exasperado.
— Sirius, francamente.
Ele só estava fazendo a barba.
— Conversa! Eu vi
um monte de potinhos de poção cremosa na mochila dele, outro dia.
— Era uma encomenda
da mãe dele.
— Deixa, Moony —
James interrompeu, ainda com o cenho franzido. — Ele só está nervosinho porque
teve que me esperar usar o banheiro.
— Nervosinho está
você, porque eu falei da Evans — Sirius rebateu.
— Mas que inferno,
eu nem gosto dessa menina! — James declarou com exasperação.
A gargalhada de
Sirius foi alta e irônica.
— Certo, agora
conta aquela do hipogrifo.
— Ah, vá se foder!
— A escola toda
já percebeu, amigo — ele comentou. — A ruiva deixa você mais
mexido que vitamina de abóbora. Pena que ela te odeia.
James já preparava
uma resposta ácida, mas Remus impediu-o.
— Ei, parem com
isso, senão daqui a pouco vou ter que apartar sozinho a briga dos dois, já
que o inútil aí não abre nem os olhos. — E apontou para a cama de Peter.
James mostrou a Sirius seu dedo do meio e voltou-se para o seu baú outra vez.
— Salvo pelo gongo, pulguento — ele murmurou, pendurando a camisa nos ombros, enquanto tirava uma gravata vermelha e dourada da gaveta.
— Como se eu
tivesse medo de você, veadinho — veio a resposta.
Remus suspirou. Esses
dois não paravam. Como conseguiam provocar tanto alvoroço antes mesmo do desjejum? Pronto para ir embora, ele baixou-se para recolher algumas meias espalhadas, antes de chegar à porta do quarto. Sirius viu-o equilibrar a mochila.
— Não é à toa que
você vive reclamando de dor nas costas, Moony. Com esse saco de chumbo
pendurado nos ombros, você parece um testrálio de carga.
— Você não estava
atrasado? — ele falou, ignorando o comentário, antes apanhar uma pena preta do chão e guardar num bolso
externo.
— Ainda estou.
— Então por que não
aproveita e toma logo seu banho?
Sirius, que voltara a
deitar na cama, levantou-se num pulo.
— É mesmo! Tinha
esquecido.
Remus passou
pela cama de Peter e resolveu chamá-lo mais uma vez.
— Ei, rato vagabundo! Levanta
e vai estudar... — Ele interrompeu-se. — Ué...
James, que terminava
de se vestir, voltou-se:
— O que foi?
— Engraçado... Ele
estava aqui neste minuto...
Um palavrão alto e
grosseiro veio do corredor. Os dois correram para ver Sirius esmurrando a porta
do banheiro mais uma vez.
— Peter,
seu inútil! Abra essa porta agora!
A voz vinda lá de
dentro veio abafada:
— Peraí, Padfoot! Acho que a torta de pernil de ontem me fez mal...
— Espero uma p...!
James não conteve a
risada de escárnio, fazendo Sirius se enfurecer ainda mais e querer partir pra
cima dele. Remus pegou a mochila do chão e deu de ombros.
— Bom, boa sorte
pra vocês. Eu vou pra aula.
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2 comentários:
Que massa!!! Amei!
Hauehwusheuw muito boa! Queria que esse quarteto tivesse sido mais explorado nos livros <3
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