Achei que não iria completar a tag "Lançado no mês" do Desafio, porque não sou muito atenta a lançamentos. Acontece que encontrei um aplicativo no celular chamado Wattpad e, nele, uma fanfiction chamada After. A fanfic virou uma série de livros e o segundo volume foi lançado este mês. E eu acabei de ler os dois primeiros volumes.
After começou como uma fanfic da boyband One Direction, da qual eu conhecia bem pouco, para não dizer nada. Agora, sei quem são os componentes e sei que eles saíram do reality show The X Factor. Para publicar o livro, a autora mudou os nomes do pessoal da banda. Pessoalmente, acho que deveria também ter diminuído a quantidade de confusões, mas OK.
A história é sobre um tumultuado romance entre Tessa e Hardin (personagem inspirado em Harry Styles). Bem, talvez tumultuado seja o eufemismo do século. De modo geral, achei o livro muito semelhante a 50 tons de cinza e à série Crepúsculo, talvez porque seja uma espécie de fanfic desses dois também. Ou seja, é um romance, é fácil de ler, flui com facilidade, prende a atenção, mas não é nem de longe bom. Não tem um enredo, apenas um conjunto de coisas acontecendo a toda hora, sem descanso, e os personagens são extremistas em tudo que fazem. E não é lá essas coisas na escrita também; não que eu pudesse exigir muito, ou mesmo que tivesse a impressão de que seria algo grande. Foi apenas uma ótima distração nos meus momentos de folga do trabalho, mesmo que muitas vezes me deixasse com muita raiva.
Um dia desses, eu li um artigo em que uma autora criticava a relação abusiva narrada no livro "50 tons de cinza" e eu achei exagero. Primeiro porque, na ficção, pode-se narrar até estupros e assassinatos e não é por isso que todo mundo vai sair reproduzindo na vida real. E, até mesmo pelo público-alvo, mulheres adultas, não achei que influenciaria muita gente a sonhar com um homem controlador, machista e doente. Hoje, eu critico a relação de After. Ao contrário de 50 tons, After foi escrito para fãs de One Direction, ou seja: adolescentes. Mais especificamente: mulheres adolescentes. Fora que a relação deles é mil vezes mais abusiva - eu diria até assustadora - que a de 50 tons. Enquanto lia no Wattpad, vi vários comentários de meninas sonhando com o bad boy Hardin e xingando a Tessa, quando ela achava ruim as situações absurdas pelas quais passava e queria deixá-lo. Eu me vi torcendo para que ela fosse embora para sempre e procurasse algo saudável para a vida dela, mesmo sabendo que não ia acontecer. Não sou a favor de se tirar lições de obras de ficção - até mesmo porque quem mais lê livros junks sou eu -, mas como posso aguentar ver meninas que nunca tiveram uma relação de verdade na vida defendendo absurdos como esses? Posso vê-las, no futuro, aguentando um monte de merda dos companheiros e achando lindo, esperando fazer o outro mudar por elas, porque o amor vence tudo. Como já dizia House: "people don't change".
Tive raiva dessas coisas, mas não abandonei a leitura, porque as partes de romance são bem bonitinhas e fazem você querer saber como vai acabar. Mas sempre tinha algo mais que Hardin fazia e muitas das coisas me deram náuseas. Muitas vezes, esperei que ele fosse preso, morresse ou algo assim. Muitas vezes, joguei o meu kobo longe. Não, gente, não é normal. Gostaria muito de dizer isso para as meninas que estavam achando tudo lindo. A vida já é complicada o suficiente para ainda ter que lidar com merdas desse tipo. A gente precisa de pessoas boas e relações saudáveis à nossa volta, para aguentar tudo. Não de pessoas destrutivas que vivem exaurindo a nossa energia.
Acredito que a autora quis fazer um paralelo com Wuthering Heights e o romance doentio de Cathy e Heathcliff. Para mim, o final é perfeito; mas duvido que aconteça algo assim no final da série After. Uma pena. Ou não. Vamos aguardar o terceiro volume.
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Essa é uma resenha para o mês de março do Desafio Literário do Tigre de 2015, do blog da Tadsh: um livro lançado no mês. Para saber mais sobre o desafio, entre na fanpage ou saiba mais no blog.