Tinha acabado de chegar com meu pai ao culto ecumênico de formatura da minha prima, filha do irmão dele. Chegamos bem atrasados e perdemos grande parte dos sermões, ficando apenas com as considerações finais dos palestrantes religiosos convidados. Permanecemos de pé, um pouco atrás, e eu comecei a tentar entender o assunto abordado. Eis que vejo um rosto familiar entre os palestrantes.
— Ei, painho. Vê como aquele pastor parece com tio Tato.
Tio Tato é o irmão dele, pai da minha prima formanda.
— É...
Silêncio. Ou melhor, o padre falava para os formandos alguma coisa sobre a importância da profissão deles para o mundo. Eu olhei o pastor com mais atenção.
— Ô, painho... Tio Tato é pastor?
— Acho que é.
A mulher do cerimonial começa a cantar uma música de igreja ao microfone. Olho pro meu pai com a maior cara de "¬¬".
— Painho. Aquele é tio Tato.
Pior mesmo foi, depois de tudo terminar, fingir que achamos lindo e inspirador o sermão a que nem sequer tínhamos presenciado. Eu, sem saber onde enfiar a cara e ensaiando a minha melhor expressão de "pff, lógico que eu vi e achei perfeito", na mais perfeita rasgação de seda. Nem desconfiaram. Eu espero.