quinta-feira, 31 de julho de 2014

Esportes: Quadribol através dos séculos

Eu tinha uns 12 anos quando comecei a ler a série Harry Potter. Ainda não era modinha aqui no Brasil, ainda nem estavam gravando os filmes; embora já fosse famoso lá fora. Eu não era leitora de fantasia; achava que ia ser uma babaquice essa coisa de bruxinhos 'do bem' indo à escola e combatendo o mal. Eu lia infanto-juvenis, livros de Pedro Bandeira e os da coleção Vaga-Lume, mas nunca tinha enveredado pelas terras da fantasia. Terminou que devorei os três primeiros livros, os únicos lançados até então, e acabei com meu preconceito com fantasia.

No Desafio deste mês, acabo com outro preconceito: o dos spinoffs da série Harry Potter. Talvez nem tenha sido preconceito; o fato é que nunca antes tive interesse por eles. Então, como o desafio do mês é sobre esportes e o único "esporte" pelo qual me interessei a vida inteira foi o ballet (e eu não encontrei nenhum livro interessante, não-técnico, para ler), acabei tendo a ideia de 'ver qual era' a do livro sobre Quadribol.

Para quem nunca leu a série, Quadribol é o esporte mais famoso entre os bruxos do mundo inteiro e é muito jogado em Hogwarts, a escola de bruxaria em que Harry e os amigos estudam. Como o diretor da escola, Alvo Dumbledore, diz no prefácio do livro, o livro Quadribol através dos séculos que encontramos nas livrarias é uma cópia do exemplar original pertencente à biblioteca de Hogwarts, cedido muito a contragosto pela bibliotecária, e vendido pelo mundo para que nós, os "trouxas", possamos ler. Ainda acho que a minha cartinha de admissão não chegou porque todas foram para Harry, no ano em que ele entrou em Hogwarts.

O livro começa falando das vassouras e dos vários esportes jogados em cima de vassouras. Então, com muito bom humor, explica como se deu o surgimento do Quadribol e de cada uma das suas quatro bolas. Explica também as regras e as faltas mais comuns no jogo, uma vez que todas as faltas não poderiam ser divulgadas para "não dar ideias". Depois de falar bastante sobre o jogo, o autor começa a falar dos times do Reino Unido e depois da disseminação do esporte pelo mundo. Fiquei curiosa sobre o que seria dito sobre o Brasil, obviamente, e fiquei rindo quando li que o Brasil chegou às quartas de final na Copa Mundial. Só acho que não perdeu de 7 x 1.

O livro é bem curto, leve e engraçado. J. K. Rowling, sob o pseudônimo de Kennilworthy Whisp, sabe lidar com a narrativa e as esquisitices bruxas de uma maneira natural, já vista nos outros livros da série, e inventa fatos engraçados e exagerados na medida certa, sem cansar demais. Para mim, ela nunca deveria ter escrito outra coisa a não ser fantasia. Sim, eu li os outros livros "para adulto" dela e achei bem ruins, apesar de ela aparentemente estar apostando bastante no detetive Cormoran Strike, do Chamado do Cuco. Acho que ela escreve bem para adultos (oi, eu sou adulta), quando escreve para crianças. Harry Potter é uma série que qualquer um que goste de ler poderia aproveitar bem, sem achar besta demais. Claro, ela tem todo o direito de escrever os livros de adulto que ela quiser. Eu só não gostei. Achei besta demais. Ops.

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Esta é uma resenha para o Desafio Literário do Tigre 2014, do blog Elvis Costello Gritou Meu Nome. O tema de Julho é "Esportes & Esportistas": ler e resenhar um livro que diga respeito a algum esporte. Para saber mais sobre o desafio, entre na fanpage ou saiba mais no blog.

quarta-feira, 23 de julho de 2014

Imortal

"João foi um pobre como nós, meu filho, e teve que suportar as maiores dificuldades numa terra seca e pobre como a nossa. Pelejou pela vida desde menino, passou sem sentir pela infância, acostumou-se a pouco pão e muito suor. Na seca, comia macambeira, bebia o suco do xique-xique, passava fome.

E, quando não podia mais, rezava. E quando a reza não dava jeito, ia se juntar a um grupo de retirantes que ia tentar sobreviver no litoral. Humilhado. Derrotado. Cheio de saudade.

E logo que tinha notícias da chuva, pegava o caminho de volta, animava-se de novo, como se a esperança fosse uma planta que crescesse na chuva. E quando revia sua terra dava graças a Deus por ser um sertanejo pobre, mas corajoso e cheio de fé."


Ariano Suassuna: imortal como Pernambuco, a terra que ele chamou de sua.

terça-feira, 22 de julho de 2014

Fato aleatório sobre mim #1

Eu amo hambúrguer e batata frita

Numa conversa com uma amiga, no meu consultório:
— Ontem, eu ia sair. Um amigo me ligou e chamou para ir ali comer um hambúrguer com batata frita.
— Você não foi?
— Não, eu estava me sentindo mole, com dor de dente.
— Mas era hambúrguer com batata frita! Eu iria para qualquer canto por um hambúrguer com batata frita.


Mesma conversa, pouco depois:
— Encho tanto teu saco com esses dentes, né?
— Que nada. E isso que eu te passei vai resolver.
— Se resolver, sei nem o que eu faço.
— Me paga um hambúrguer com batata frita.

Imagem: Flickr - Creative Commons

terça-feira, 15 de julho de 2014

Momentos e música

Uma vez, alguém me disse: "não associe uma música a alguém" e eu sempre soube que essa pessoa tinha razão. Mas é difícil; a gente termina associando tudo nessa vida e eu sou dessas que associa tudo a música. Então basicamente esse é um desafio que eu nunca cumpri. E esse é um dos motivos pelos quais eu choro por tudo, por nada. Esse e o fato de eu ser mole mesmo. O problema é que, por já ter nela meio intrínseco esse componente emocional, a música meio que preenche as lacunas de sentimento que falta na vida. Aí a gente traz para junto, para dentro, para a vida. Associa. Perde e chora.

Uma vez, aconteceu de eu gostar muito de uma pessoa que me emprestou um CD. Só que a pessoa não gostava tanto assim de mim e isso foi bem ruim. Foi embora, mas as músicas do CD ficaram. Passei muito tempo para conseguir dissociá-las da pessoa, ainda mais porque elas só falavam em sentimentos fortes, amor e perda. Consegui, enfim, desligar as músicas da pessoa, mas elas ficaram irrevogavelmente ligadas àquele momento.

Hoje, eu sinto um grande carinho pelas músicas. Hoje, elas não machucam. Acho que ligar música a momentos faz essa coisa de associar música a pessoas daquele momento ser mais suportável. Momentos criam saudades saudáveis, fazem parte da nossa vida e, mesmo que doa, a dor ameniza e a lembrança fica. A música fica e adquire um sabor melancólico. A música fica com o momento e permanece. E os momentos são nossos. As pessoas, elas nunca são de ninguém.

"And the songbirds are singing
like they know the score"


Imagem: Flickr - Creative Commons
Música: Songbird

sexta-feira, 4 de julho de 2014

Autores Queridos: The Absolute Sandman

Quando soube que o tema do Desafio para o mês de junho, mês de aniversário, era “autores queridos”, fiquei animada, afinal seria o mês de saborear e resenhar sobre algum autor que eu amo. Só que começou junho, eu fiquei sem conseguir me decidir sobre qual autor seria, fiquei deixando para depois e acabou que, na última semana de junho, ainda não tinha começado nada. Claro que pensava em ler outros livros, fora o do desafio, mas a única coisa que eu li o mês inteiro foram coisas do trabalho e alguns capítulos do segundo volume de Game of Thrones. Só posso explicar essa ausência literária como sendo um bloqueio mesmo. Mas enfim...

O que me fez sair dessa inércia foi Gaiman. Eu tenho vários autores queridos, mas o problema é que não estava com nenhuma vontade de ler nenhum deles. Aí me lembrei de um certo “livro” que ganhei no meu aniversário do ano passado; que eu já comecei uma vez, quando peguei emprestado de um amigo, mas o meu mesmo nunca tinha aberto direito, que não fosse só para admirar. Não é bem um livro, é uma série de histórias em quadrinhos. Sandman.


A primeira coisa que eu li de Neil Gaiman, foi o primeiro volume de Sandman. Mas não continuei os outros, porque eu não tinha (este volume aqui, The Absolute Sandman vol 1, tem os três primeiros volumes das edições antigas, se não me engano). E desde aquela época, eu já tinha percebido o quanto eu iria amar um livro normal escrito por Gaiman. Depois disso, eu saí procurando e confirmei essa suspeita.

Sandman é Sonho, ou Morpheus, um dos Perpétuos, as entidades mais poderosas no universo do livro. Os outros Perpétuos são Morte, Destino, Desejo, Destruição, Desespero e Delírio; em inglês, todos começam com a letra D. Todos têm um reino ou domínio e exercem uma função, que lhes toma a maior parte do tempo. Sandman controla o reino dos sonhos, regulando-os e vigiando-os. Quando um perpétuo não exerce sua função, os aspectos daquela existência se tornam aleatórios, sem uma entidade para regular. É o que ocorre no início da história, quando Sonho é capturado.

Como não quero dar mais spoilers que este, porque Sandman é uma das melhores criações de Gaiman e eu recomendo fortemente que, se houver alguém que não conhece, que procure conhecer (se não for uma daquelas pessoas que só lêem livros sérios); então vou apenas dar minhas impressões.

Achei muito bom ter voltado a ler Sandman, depois desse tempo todo só lendo histórias escritas de Gaiman. Quem já leu alguma história sabe que as coisas que Gaiman escreve são meio difíceis de serem imaginadas, porque ele mistura imagens com cheiros e formas impossíveis de serem associadas para descrever uma coisa e é bem interessante ver essas formas desenhadas ali para serem compreendidas. Além disso, como ele não escreveu mais nenhuma série fora Sandman (mentira, ele escreveu Os Livros da Magia e outras que eu ainda não consegui encontrar para ler, mas... garimpando e sempre), os livros acabam sendo curtos demais para o que se propõem, para explicar todo um universo diferente e estranho, criado no meio do mundo que já conhecemos. Exceto Deuses Americanos, que acho que foi explorado demais, num livro longo demais, desnecessariamente.

Sandman é aquele universo que nunca é explorado demais, tanto que existem vários spinoffs e livros de outros autores baseados na série. Gaiman é um dos meus autores queridos, que me deixam feliz e com vontade de guardar pra depois, quando encontro alguma coisa que ainda não li. Foi o caso com The Absolute Sandman. Sorte que ainda existem mais dois volumes e vááários spinoffs. E espero que nunca acabem.

"What power would Hell have if those here imprisioned were not able to dream of Heaven?"

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Esta é uma resenha para o Desafio Literário do Tigre 2014, do blog Elvis Costello Gritou Meu Nome. O tema de Junho é "Autores Queridos": ler e resenhar um livro de algum autor que você adore. Para saber mais sobre o desafio, entre na fanpage ou saiba mais no blog.