quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Insensível

Longe de sentir o amor que tentei sugerir todo o tempo, senti apenas tédio. Olhei teu rosto, vi tuas lágrimas e não senti nada. Não menti, admiti a verdade: não te amo mais. Não te amava mais há muito tempo. Não pude esconder nada, naquele momento. Acuse-me de tudo, menos de ser insincera. Pudeste ler tudo em meu rosto e, ao perceberes minha expressão indiferente, terminaste indo-te embora. E eu, que não te amo, permaneci ali.
De longe, te vi lamber as feridas e tentar superar a dor. Aquela que tu sentiste e foi ínfima demais para me alcançar. A que surge quando o amor acaba, pondo fim a promessas e expectativas, planos e "felizes para sempre". A causadora da lágrima que cutucou o meu ombro, disse "adeus" e caiu aos meus pés.
Naquela despedida, eu estava distante. Sabia que me amavas e eu te feria. E de onde estava, só queria que tudo acabasse logo e me deixasse só, com meus pensamentos. Não tardou, tive meu desejo satisfeito: fiquei completamente sozinha, eu e meu coração de pedra.
E eu, que não mais te amava, chorei.


"And in her eyes, you see nothing
No sign of love behind the tears cried for no one"*

*Música: For no one

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Voar sem asas

Já andei até cansar os pés e criar bolhas. Houve dias em que a estrada não foi o bastante. Subi em árvores até esfolar os joelhos e sujar as mãos. Sempre me faltavam galhos. Fiz castelinhos de areia e castelinhos de cartas. Ruíram. Aprendi a construir castelos com materiais mais sólidos. Fui rainha, brinquei de faz-de-conta da vida real. Destronada embora, sempre brincando de ser feliz.

Houve dias em que voei sem asas. Hoje, arrumei asas para voar. Só volto daqui a dez dias.

"Brinquei de ser seu coração..."

Imagem: GettyImages