domingo, 24 de abril de 2016

Castelos de areia

É incrível como, quando nós crescemos, esquecemos de coisas que sabíamos quando crianças. Peguei-me pensando nisso, quando me deparei com uma imagem no Instagram @afeminista com uma citação que falava sobre sororidade. A citação em questão dizia "Paremos de foder com a vida umas das outras". A frase não usa palavras comportadas, mas não espelha menos que a realidade. O que mais existe, hoje em dia, são mulheres fodendo com a vida das outras; chamando outras de vadias por algum motivo idiota, apontando os defeitos, rindo da maneira que a outra se veste. E cobiçando o namorado, noivo, marido alheio. Traindo outras mulheres.


Quando eu era criança e chegava a algum lugar cheio de gente, eu sempre procurava alguma menina para brincar. O lugar, antes hostil, imediatamente se tornava mais agradável, porque agora eu tinha uma cúmplice. Não importava o que o resto do mundo estava fazendo, agora nós podíamos inventar nossas próprias brincadeiras, contar histórias fantásticas, fingir sermos outras pessoas, subir em goiabeiras, construir castelos de areia. E reconstruir sempre que eles fossem derrubados pelas ondas ou pisados só de maldade por algum moleque. Naquela época, ninguém nos podia alcançar.

Então, nós crescemos e nos foi dito que amizade entre mulheres não existe, que é marcada por inveja e competição. Era sempre uma tentando derrubar a outra. Tínhamos que ser a mais bonita, a mais inteligente, a mais magra. Tínhamos que não apenas ser interessantes para os homens, mas ser a mais interessante, mesmo que para isso passássemos por cima de alguém. Por cima de outra mulher. Por cima do nosso amor próprio.

Sendo que nada disso é verdade, Não precisamos agradar ninguém, a não ser a nós mesmas. E toda a cumplicidade que tínhamos com as mulheres da nossa infância, é essa que precisamos lutar para recuperar. Porque somos as nossas maiores aliadas. Imaginem um mundo onde mulheres não se julguem e não se condenem. Um mundo em que mulheres se recusem a fazer mal às outras por causa de homem, um mundo em que não seriam traídas. Um mundo em que mulheres não fodam com a vida das outras. Não usamos palavras comportadas, porque não nos interessa ser "moça direita" para outras pessoas. Seremos quem nós quisermos, para nós mesmas. Não digo que vamos conseguir erradicar o mal totalmente, mas o quanto não poderíamos diminuir isso somente se nos respeitarmos? Se nos dissermos todos os dias que ninguém passará por cima da nossa sororidade?

Nós não somos apenas amigas, somos irmãs. Unidas somos mais fortes. E uma vez que mais mulheres amarem umas às outras, poderemos construir o nosso mundo, o nosso castelo. E, desta vez, ele não será de areia.

terça-feira, 19 de abril de 2016

Todo leitor odeia

Eu sei, estou bem atrasada no meu Desafio Literário. Fiquei esse tempo todo ocupada com meu livro e em escrever aqui que não tenho lido mais nada. Uma vergonha. Mas agora voltei a ler e voltamos também com as blogagens coletivas literárias. Afinal, apesar de parada, ainda sou uma leitora de respeito. Haha!

Como leitora, vou listar 10 coisas que eu odeio. E acho que todo leitor também odeia.

1. Ser julgado pelo que está lendo
Nas minhas pesquisas para o meu livro, acabei lendo muita coisa que não leria normalmente. Sério, gente, a gente deve ler o que quiser. Que mania das pessoas de acharem que alguns estilos são inferiores. O importante deveria ser ler sempre, independente do estilo. Se você tem preferência por um, continue lendo ele. Só não se feche para os outros, a gente sempre pode encontrar alguma novidade boa, entre o que não se conhece.


2. Gente que usa a orelha da capa como marcador
Agora, vamos falar dos vandalismos. Aí você empresta o livro a um coleguinha e ele, por não ter marcador de página na hora, prontamente usa a orelha do livro. Você pega de volta o livro e ele está todo amassado, as orelhas rasgando. Eu já não amo emprestar meus livros, a pessoa ainda me dá mais motivos.


3. Gente que grifa ou dobra páginas
Outro vândalo. Uma vez, conheci uma pessoa que só conseguia ler grifando, acompanhando as palavras com um lápis. Você ia pegar o livro e ele estava todo grifado. Coloco no mesmo saco as pessoas que acham citações e passagens bonitas e grifam. Amigo, arruma um post it, um pedaço de papel, anota no bloco de notas do celular, MAS NÃO ESCREVE NO LIVRO.


4. Adaptações decepcionantes
Todo leitor já passou por isso. Anunciaram que aquele livro amado vai ser adaptado para o cinema e você já fica se tremendo; de alegria e medo. No fundo, você já tem certeza de que vão acabar com sua história favorita, mas você vai ver mesmo assim, porque a curiosidade é maior. E porque você quer ver qual ator será aquele personagem, como serão os cenários, como será aquela cena, como vão conseguir transformar palavras em imagens. Mas, então, você se depara com aquela péssima adaptação da Bússola de Ouro, ou a de Percy Jackson. Bate aquele desgosto pela vida.


5. Gente que acha que você está desocupado quando está lendo
Sempre tem aquela pessoa que senta do seu lado do ônibus e resolve puxar conversa quando você está na melhor parte do livro. Ou sua mãe que pede para você ir ao supermercado, já que está ali "só" lendo. Mas não tem problema, não é? Porque todo mundo só lê quando não tem nada melhor para fazer. Só que não.

6. A discussão paperback x ebook
Já deu, né? Vamos concordar em discordar que cada pessoa tem um formato de leitura preferido. Ninguém é melhor leitor que o outro porque lê de tal maneira. A galera roots tem essa mania de se achar superior porque gosta de pegar nos livros, de sentir o cheiro das páginas, de preencher estantes. E a galera ambientalista se acha superior porque comprar ebooks faz derrubar menos árvores.


7. Livros que, em vez do resumo na contracapa, tem frases do New York Times BestSeller
O fato é que, quando eu vou a uma livraria, eu quero pegar um livro e ler algo sobre ele, para poder decidir se vale a pena gastar meu tempo com ele ou não. Eu não estou interessada em saber se ele é "Eletrizante", ou um "Thriller policial emocionante". Na verdade, isso só vai me fazer perder o interesse pelo livro.


8. Gente que diz que conhece uma história, mas só viu o filme 
Esse fato aconteceu uma vez, quando eu estava num bar com amigos. Estava um cara na mesa e começou a discutir Harry Potter comigo. Eu estava tentando falar sobre alguma coisa e ele não concordava de jeito nenhum, dizendo que eu estava errada. Então, quando eu estava quase baixando o livro inteiro no meu celular, para mostrar alguma passagem em específico, ele admite que só viu os filmes. Quase foi expulso da mesa, é claro.


9. Livro com a capa do filme
Existe coisa mais chata que você estar procurando uma edição legal de um livro para comprar e só encontrar as edições com a capa do filme?


10. Não poder ler o dia inteiro
Para terminar, vamos imaginar aquele domingo cansado, em que você passou o dia inteiro lendo e está numa parte interessante do livro. Mas aí já passa das 3h da manhã e você tem que trabalhar ou tem aula no outro dia. E já imagina que vai ter que passar a segunda-feira inteira sem saber o final da história. Prontamente, você vira a noite e o sono que se dane.


Estou errada? Falem aí nos comentários: o que mais todo leitor odeia?

sexta-feira, 15 de abril de 2016

The last thing that made me cry

For I'm so easy to laugh and far more easy to cry, the last thing ever that made me cry was a music. Instead of sad films and things involving dogs, not always musics alone make me cry. The only music that ever has make me cry before, out of nowhere, was Slipping Through my Fingers, by ABBA. I say "out of nowhere" because crying with songs in relationship ends and because they make you remember of your deceased grandmother doesn't count. I'm talking of crying with just the song. And still today I cry listening to this ABBA song.

This time, the music was a Simon and Garfunkel song: Wednesday Morning, 3AM. I still don't know what has really taken me down, if it was the lyrics or the melody. That happens, sometimes, the melody reaches me more than the lyrics.



I have to remember not to listen to this song when I'm down.


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Como eu sou muito besta para rir, mas mais besta ainda para chorar, a última coisa que me fez chorar foi uma música. Ao contrário de filmes tristes e coisas que envolvam cachorros, nem sempre músicas por si só me fazem chorar. A única música que já tinha me feito chorar antes, assim do nada, foi Slipping Through my Fingers, de ABBA. Falo "do nada" porque chorar com músicas em finais de namoro ou porque fazem lembrar sua falecida avó não conta. Estou falando de chorar pela música apenas. Ainda hoje eu choro com essa música de ABBA.

Desta vez, a música em questão foi uma de Simon and Garfunkel: Wednesday Morning 3AM. Ainda não sei se o que me derrubou foi a letra da música ou a melodia. Acontece isso, às vezes, da melodia me atingir muito mais que a letra.

Tenho que me lembrar de nunca escutar num momento down.

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Essa é uma postagem para a blogagem coletiva do Blogs Up International, com o tema: The last thing that made me cry.

segunda-feira, 11 de abril de 2016

Insensível

Longe de sentir o amor que tentei sugerir todo o tempo, senti apenas tédio. Olhei teu rosto, vi tuas lágrimas e não senti nada. Não menti, admiti a verdade: não te amo mais. Não te amava mais há muito tempo. Não pude esconder nada, naquele momento. Acuse-me de tudo, menos de ser insincera. Pudeste ler tudo em meu rosto e, ao perceberes minha expressão indiferente, terminaste indo-te embora. E eu, que não te amo, permaneci ali.

De longe, te vi lamber as feridas e tentar superar a dor. Aquela que tu sentiste e foi ínfima demais para me alcançar. A que surge quando o amor acaba, pondo fim a promessas e expectativas, planos e "felizes para sempre". A causadora da lágrima que cutucou o meu ombro, disse "adeus" e caiu aos meus pés.

Naquela despedida, eu estava distante. Sabia que me amavas e eu te feria. E de onde estava, só queria que tudo acabasse logo e me deixasse só, com meus pensamentos. Não tardou, tive meu desejo satisfeito: fiquei completamente sozinha, eu e meu coração de pedra.

E eu, que não mais te amava, chorei.

"And in her eyes, you see nothing
No sign of love behind the tears cried for no one"
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Essa é uma postagem do tema 251. Seu primeiro término do projeto 642 coisas sobre as quais escrever.

Texto escrito em 2010.

sexta-feira, 8 de abril de 2016

Dias de outono

Dias como aqueles, quando tínhamos tudo. Por que não voltam aqueles dias?

Tínhamos tanta esperança, tantos planos. Eram dias quentes, dias ensolarados, cheio de sorrisos. Costumávamos ir à praia e deitar na rede de frente para o mar. Corríamos na areia, brincávamos de pegar conchinhas. Contávamos estrelas, quando anoitecia. Lembro-me das horas que passávamos deitados, rindo e pensando em como seria nossa vida juntos.

Moraríamos em uma casa com jardim. Teríamos um cachorro e dois gatos. O sol entraria pela nossa janela todas as manhãs e acordaríamos abraçados, como sempre fazíamos. Você sairia para trabalhar bem cedo; eu só uma hora depois. Então, quando chegássemos de volta, contaríamos sobre o nosso dia. Naqueles dias, nada me amedrontava. Éramos gigantes em sermos nós mesmos. Éramos o próprio sol, iluminados.

Se antes conversávamos sobre tudo, agora as conversas são escassas. Não sei nada sobre você, não sei mais quem você é. A luz das nossas vidas desapareceu, como se uma nuvem tivesse montado guarda na frente do sol. Ou o verão tivesse acabado, deixando um clima de início de outono a nos assombrar.

O outono não me assusta. Dias de outono são apenas os dias que antecedem o inverno. Mas já sinto de perto o frio que me envolverá os ossos, quando a última folha cair.

"We had joy, we had fun
We had seasons in the sun"


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Essa é uma postagem para a blogagem coletiva de abril do grupo Blogs Up, com o tema "Dias de Outono".

sexta-feira, 1 de abril de 2016

Trecho de um prólogo qualquer

— Oi.
Com o susto, os olhos úmidos da menina se arregalaram e procuraram nervosamente a origem da voz. Vinha do outro lado da cerca, de onde aparecia somente a cabeça de um menino de cabelos despenteados e olhos cinzentos. Ela não gostava de chorar na frente das pessoas e ficou com vergonha do seu espectador.
— Quem é você?
— Eu moro aqui do lado. Meu nome é Lucas.
Ela não disse nada. Com os olhos, procurou seu anjo, que havia desaparecido, com o surgimento da cabeça inconveniente por cima da cerca-viva.
— Qual é o seu nome?
Ela voltou a olhar para ele, sentindo-se um pouco contrariada, tanto pela insistência do garoto, quanto pelo sumiço do seu anjo.
— Cecília.
— Seu irmão está doente, não é?
Os olhos de Cecília encheram-se de água e ela mordeu o lábio, fazendo força para não chorar.
— Não, Nate está bem — ela disse, com grosseria.
Lucas ficou confuso.
— Não foi o que a minha mãe disse.
— Ele só está dormindo — Cecília apressou-se a explicar. — Ele vai acordar logo.
E com a escassa sabedoria de sua pouca idade, Lucas entendeu. E teve pena.
— Claro que vai.
— Ele sempre dorme muito, é normal.
— Ele deve gostar muito de você.
— Não sei, ele gosta de esconder minhas bonecas.
— Ah, aposto que é só de brincadeira. Pode perguntar à sua mãe, ela vai dizer.
O bico que Cecília fazia para não chorar ficou maior.
— Minha mãe não fala.
Lucas inclinou a cabeça pro lado.
— Ela é muda?
— Ela não fala nada desde que Nate começou a dormir.

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Este não é exatamente um primeiro capítulo, como pede a blogagem coletiva; na verdade é um trecho que eu tinha intenção de colocar no prólogo. A história era uma fantasia sobre anjos, que eu comecei bem antes de livros com essa temática entrarem em moda. Parei porque tinha outra na agulha (sempre escrevo mil histórias de uma vez) e depois não continuei mais porque o tema ficou batido. Mas gosto desse trecho. Gosto do primeiro capítulo também. Talvez eu ainda publique aqui, só que é bem maior, aí achei que ficaria um post grande demais.

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Essa é uma blogagem coletiva de abril do grupo Blogs Up, com o tema "Primeiro capítulo da história que você não terminou (e o motivo de ter abandonado)".

Imagem: Fotolia