quinta-feira, 30 de outubro de 2008

Tal qual o Mar

Tranqüilo mar, de águas rasas e claras. Cálidas, azuis, lúcidas, como um dia fresco de verão. Com mil peixinhos visíveis, contrastando com a areia; a beleza indiscutível de um caleidoscópio de cores. A alegria do sol contribuindo para um cenário perfeito. Como um sorriso caloroso e acolhedor de uma "volta ao lar".

Imprevisível mar, de águas escuras e turbulentas. De gênio inescrutável, temperamental e volúvel. Misterioso, amedrontador. Quem saberá o que se passa nas suas profundezas? Incompreensível, enigmático. Quem pode saber o que dele virá? O vento frio fustigando ainda mais suas furiosas ondas, já bastante sensíveis ao toque de uma mera folha jogada do penhasco. A personificação da cólera. Ofendidas, as águas castigam as pedras do abismo, chocando-se com imensa irritação.

O tempo sempre fecha. Não há o que fazer.


* Lendo o blog de Jéssica hoje, percebi que precisava mudar o visual do blog. Perdoe-me, Jéssica, não foi minha intenção copiar o fato de "mudar", mas fazia tempo que aquela imagem estava me cansando. Hoje tive tempo e alguma disposição. Espero que não se importe.


* Muitas mudanças e mais cartas no Palavras de Papel.

terça-feira, 21 de outubro de 2008

Da série "aparelhos voluntariosos"


Segunda-feira. O despertador do meu celular berrou e eu, ainda morrendo de sono, dei um pulo da cama. Só não corri pro banheiro porque notei algo errado: o relógio da minha cabeceira indicava 6h da manhã, enquanto meu despertador deve tocar às 7h. Decidi logo que o relógio estava atrasado, quando entrei no quarto do meu irmão e vi que o relógio de lá indicava as mesmas 6h.

Calma aí, como assim dois relógios da casa estavam atrasados? Fui à cozinha e também 6h. Quarto dos meus pais: 6h. Hein? Fui olhar meu celular, para procurar o que havia de errado nele e achei a seguinte mensagem: "Horário de Verão".

Não, eu não estou desatualizada; acontece que na minha cidade não tem horário de verão. Meu celular resolveu dar uma de esperto e acabou com o meu melhor soninho da manhã. Madrugar em plena segunda-feira, ninguém merece.

Definitivamente, eu não dou sorte com aparelhos.


* Não perca a continuação do projeto Palavras de Papel.

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Poeta


Ontem me vieram perguntar se sou poeta. Ora, poeta. Poeta é quem rima a vida, quem ri da vida, a cada verso de uma canção. É quem faz das desventuras cotidianas um samba e da tristeza uma bossa. E que vê música no vento que sopra em seus cabelos, sem se irritar com o conseqüente desalinho.
Poeta não é quem chora; é quem escreve sobre lágrimas, mesmo que de seus olhos não saia uma sequer. O poeta não tem medo, mas diz que tem. Chacoalha a vida entre seus dedos, dedilha as cordas do destino, batuca no compasso do tempo. E faz de tamborim seu próprio coração.
Eu não sou poeta. Eu escrevo porque, sem as palavras, não sou ninguém aos meus próprios olhos. Vivo de música porque ela não vive de mim. E sobrevivo da poesia que faço da vida, porque não aprendi a viver na realidade cruel que meus olhos encontraram neste mundo.

"Eu não sou poeta, nem quero ser
A canção, eu fiz para sobreviver..."*


Um poeta teve seus poemas roubados no Palavras de Papel...

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

Cartas


Eu acreditei, acreditei de verdade, quando ele disse que jamais me esqueceria. No início, as cartas eram freqüentes: pelo menos uma por semana. Cheias de declarações, de promessas; eram intensas e completamente fascinantes. Todas elas.

Nunca foram frias, mas tornaram-se escassas. Então pararam de chegar. Das duas, uma: ou ele me esqueceu ou o correio entrou em greve.


"Cartas esperam resposta."

quinta-feira, 2 de outubro de 2008

No jardim ao lado...


Como se fosse dono do mundo, o sorriso dela se exibia com naturalidade e um quê de ingenuidade — que mais parecia presunção, como se soubesse de algo que o resto do mundo ignorava. Era quase arrogante o modo como seus olhos estampavam a felicidade que lhe vinha no íntimo, brilhando desdenhosamente, zombando das desventuras alheias.

Uma leve brisa vinda de fora do jardim brincou com seus cachos rebeldes e dissipou um pouco o calor daquele belo dia de primavera. Ela se encontrava de pé, regando alguns arbustos floridos, perto do portão. Levou as mãos aos cabelos, afastando preguiçosamente algumas mechas do rosto. Sabia que o noivo não tardaria a chegar com uma garrafa de vinho para comemorar a mais recente alegria do casal: um bebê. Ela estava grávida. E não se podia ignorar que estava ainda mais bela naquele estado. Era insuportavelmente irritante.

Iam se casar logo; as bodas estavam marcadas para a semana seguinte. Seria uma cerimônia simples, nem tanto por opção do casal, mas por falta de recursos. Só que isso não parecia abalar a óbvia felicidade dela; pelo contrário, a cerimônia não poderia ser mais adequada. A simplicidade da sua vida era o que mais irritava. Como uma pessoa podia viver com tanta vontade e intensidade sendo tão humilde? Tanta gente por aí ostentando suas imensas casas, pertences de valor e muito dinheiro... Mas não era feliz como ela. Tudo nela traduzia felicidade, alegria, vida. Ela parecia emanar um brilho chamativo de paz e tranqüilidade. Certamente o casamento seria belo. Simples, mas caloroso, acolhedor. E revoltante.

Foram poucas as vezes que a vira chorar. Estranhamente, nem o pranto tinha o poder de deixá-la feia ou digna de compaixão. As lágrimas que porventura cintilassem em seus olhos os deixavam ainda mais azuis, como pequenos oceanos, e o rosto expressivo adquiria uma nuance diferente. Jamais feia. Misteriosa, talvez. Ela podia estar triste, contudo não perdia o encanto. Mesmo assim, sentia um prazer perverso em vê-la daquela maneira. Ao menos parecia que aquela maldita alegria de viver abandonava um pouco seu coração e procurara outras casas para visitar.

Um modesto carro cinza parou em frente à casa e ela virou-se, sorrindo. Largou o regador no meio do jardim e correu para o portão, enquanto o noivo descia do carro com um singelo vaso de margaridas. O beijo que trocaram transbordava aquele sentimento desconhecido. Numa mão, o vaso e, na outra, a mão do noivo; ela guiou-o, sem mais demora, pelo jardim, para dentro da casa.

As cortinas estavam fechadas e não deu para ver mais nada. Tive, então, que escolher entre procurar o que fazer ou espiar a placa de "vende-se" no gramado do jardim. Iam se mudar depois do casamento, sair para sempre daquela casa. Quem sabe assim eu pudesse seguir minha vida.


"After all, you're still you"