terça-feira, 29 de junho de 2010

Um quarto de cem

"Eu vou pensar que é festa, vou dançar, cantar.
E vou contagiar diversos corações com minha euforia."

... então festa será. Uma, ou 25.

terça-feira, 22 de junho de 2010

Mentiras

Era mentira, eu bem sabia. Quanto mais ele falava, mais eu tinha certeza. Começou com uma história frouxa sobre problemas no carro, depois seguiu com uma lembrança vaga de ter se esquecido de abastecer. Arrematou com a desculpa da chuva. Sempre a chuva. Coitada da chuva.

Eu olhava aqueles olhos, que não mais sequer desviavam dos meus ao inventar acontecimentos, e cogitava há quanto tempo vinham tentando me enganar. Nunca conseguiram. Conhecia-os desde sempre; reconhecia-os no menino travesso da minha infância, que mentia pra mãe, pro pai, pra avó, pra professora. Naquela época, já ensaiava as histórias que diria, encontrava provas para incrementar, testemunhas para comprovar. Naquele tempo, eu era cúmplice das histórias, ria com elas, ajudava a criar. Éramos amigos. Acabei gostando dele assim. Desse jeito, mentiroso, impossível. Não sabia que passaria de companheira de aventuras a pessoa feita de idiota.

E eu fui idiota, desde o começo. Jamais o imaginei diferente, apenas não pensei nas consequências. Quanto à mentira, não foi a primeira e não seria a última. E sempre que, ao fim de tudo, ele dizia "te amo", eu pensava "não ama". Mas sorria. Quem o podia culpar?


"E tu és a mentira mais gostosa
De todas as mentiras que tu dizes"

Imagem: stock.xchng

terça-feira, 15 de junho de 2010

Crédito ou débito?

Estava pagando a conta, no fim de uma festa, e entrego o cartão ao caixa. Vem a pergunta:

— Crédito ou débito?

— Débito.

— Quer dividir?

— Quero. Você paga metade e eu, a outra metade.


Outro dia, estava no Drive Thru da McDonald's. Fiz o pedido, o cara disse o preço. A pergunta:

— Qual a forma de pagamento?

— Dinheiro mesmo.

— Crédito ou débito?

— Crédito. Pago amanhã, sem falta.


"A humanidade não deu certo" (Gordon, Rob)

quinta-feira, 3 de junho de 2010

Acordando acordes

Sempre que ouvia os primeiros acordes do violão, ela corria para a varanda. Morava ao lado, a uma parede de distância; não podia vê-lo. Mesmo assim, sentava-se no chão frio e acompanhava o dedilhar das notas, quase visualizando a figura sentada numa cadeira, braços em volta do violão, olhos fechados, o som produzido desenhando uma paz evidente em sua expressão.

Podia imaginar os dedos longos tocando cada corda com firmeza, sentindo a tensão de cada uma, como se fizessem amor. Parecia conhecer cada acorde, cada som, como se o violão fosse parte dele. Tocava cada compasso como se os dedicasse a alguém. E ela gostava de sonhar que era pra ela. Que cada declaração feita pela melodia era pra ela.

Declarações, mas nem sempre havia letra. Era como um exercício, que ele repetia vez após outra. Estava claro que queria memorizar a sequência, mas parecia que tinha intenção de fazer o ar da noite decorar também. Ela não era o ar da noite, mas sabia tudo de cor. E continuava ali, invisível. Só queria que ele soubesse...

E ele, abraçado ao seu violão, alheio ao fato de que povoava os pensamentos de alguém sentado muito próximo, cantava um sentimento que não conhecia. Não sonhava com esse amor eterno de que falava a canção, só queria encontrar alguém que entendesse sua música.

"Se, algum dia, eu vier ao clarão do luar
Cantando, e aos acordes de uma canção te acordar..."