terça-feira, 7 de abril de 2009

Janela

Aqui, do outro lado do mundo, trancado num cubículo frio e úmido, meu olhar se mantém fixo na única luz presente — uma janela acesa, no meio da escuridão. O único ruído audível é o dos meus dedos alcançando as teclas de um piano sem som. Apenas palavras são possíveis naquele angustiante contato; palavras silenciosas. Mas quase sinto a textura das suas mãos, quase sinto tocar seu rosto e ouvir seu riso fácil. E através daquela janela iluminada, posso ver seus olhos, numa foto tirada recentemente.
Levanto-me, abro um livro. Está escuro demais para ler. Olho o violão, mas desisto. Faltam-lhe duas cordas. Volto à janela e encaro seus olhos outra vez. Faço-lhe uma pergunta, mas a resposta não vem. Espero, assim como você sempre me esperou. Como anda sua vida? Seus amigos ainda devem insistir que não temos futuro; você deve estar cansada disso. Será que ainda espera? Você sabe que foi a necessidade que nos manteve separados, todo esse tempo, com tanto mar entre nós. As pessoas dizem para desistir, que a saudade tende a diminuir com o tempo. Bem, não a minha. Mas nada posso dizer quanto a sua.
A resposta não chegou. Talvez a rede tenha caído. Se eu tivesse outra coisa para fazer, talvez a angústia não me invadisse daquela maneira. Angústia e dúvida. Esperarei você voltar. E, um dia, serei eu a atravessar tanto mar só para vê-la, apenas mais uma vez. Mesmo que você não queira mais me ver.


"Sei que há léguas a nos separar
Tanto mar, tanto mar…
Sei também como é preciso
Navegar, navegar…"

19 comentários:

Marina disse...

Ah, mas talvez saudade seja mesmo uma janela a contemplar algo que demora chegar, quando vem.
Beijos.
Magna
Magna | Homepage | 04.07.09 - 10:53 pm

Marina disse...

"O único ruído audível é o dos meus dedos alcançando as teclas de um piano sem som"

tocante, o seu texto...silencioso entro, silencioso saio...

besos
Álisson da Hora | Homepage | 04.07.09 - 11:51 pm

Marina disse...

Cifradíssimo esse texto, mas bonito, bonito. Como sempre, dona Marina.. um beijo.
andréia | Homepage | 04.08.09 - 1:46 am

Marina disse...

Bacana o texto, a metáfora Eu cheguei a ler de outra forma,mas depois saquei :D
Será que alguém vai passar sem captar a mensagem, honorável guru?
ZeH | Homepage | 04.08.09 - 2:50 am

Marina disse...

Num traço de avião, desvendo o teu rosto,
Rosto de nuvem em céu azul, luz do infinito…
Infinito desfasamento de Poalhas em fundo fosco,
Fosco cálice vazio que cala a voz de um grito!

Grito queimado nas cinzas de um cinzeiro,
Cinzeiro apagado de um quarto de hotel perdido…
Perdido por um ardente amor, enamorado por inteiro!
Inteiro o calor de um corço que arde consumido.

Que nesta Páscoa receba muitas bênçãos,
Que esta passagem lhe traga
Muito amor, saúde, paz e esperança…

Lhe desejo
Uma FELIZ PÁSCOA!
Bem-haja!

O eterno abraço…

-MANZAS-
Manzas | 04.08.09 - 2:24 pm

Marina disse...

o sentimento de incerteza é massacrante né? mas esperoq melhore. beijocas e tenha um bom feriado. tem post novo lá no meu cantinho. beijocas!
Elaine Cristina | Homepage | 04.09.09 - 10:45 pm

Marina disse...

nem sei o que importa mais: a saudade, a solidão. sei o que sentem os que sentem, mas não faço ideia o que acontece com o contrário. temos dois tipos de janela: a da verdade, que vem de dentro, e a das casas, físicas e opacas.
gosto dos seus textos, marina!
um beijo.
Léo | Homepage | 04.10.09 - 3:40 am

Marina disse...

Que texto lindo!Amei! Faz tempo que não venho aqui, mas hoje achei um tempinho para visitar seu blog e também para desejar que tenha uma Feliz Páscoa! Bjos!
Clécia | Homepage | 04.10.09 - 11:06 pm

Marina disse...

Isso é para ser um tipo de "lamento da internet discada" ou algo assim?
Eu não pude deixar de captar um certo tom de humor no texto, um tanto subentendido pela situação. O imediatismo contra a conexão ruim, falta de paciência, a conexão que a internet nos permite, mesmo para pessoas tão distantes.
Muito interessante a questão da janela. Do msn, icq? hehehe
Gostei. Achei que o tom melodramático deu essa pitada de humor super leve.
Claro, pode ser só a minha leitura, mas eu abri um sorriso no final. hehehe
Abraços.
Marcelo | Homepage | 04.11.09 - 1:41 pm

Marina disse...

Esse texto ficou com um ritmo diferente, como se fosse a descrição de um sonho, principalmente o primeiro parágrafo.
A distância é muito dura, nos deixa sem saber das coisas. Não apenas saber por si só, mas aquele que só a nossa pele sabe.
Rômulo | Homepage | 04.11.09 - 2:54 pm

Marina disse...

Que maravilha de texto... emocionante por demais...

quem dera não houvesse tanto mar para nos separar de quem amamos.

Beijos querida e uma doce e feliz Páscoa!
Layla | Homepage | 04.12.09 - 12:51 am

Marina disse...

cada vez mais sua escrita se supera!
parabéns!
abraços libertários
pensador made in vaso | Homepage | 04.13.09 - 1:36 pm

Marina disse...

Que lindo Marina.

Grande beijo.
Gaby | Homepage | 04.13.09 - 8:20 pm

Marina disse...

se eu fosse voce eu atravessava
cruela cruel | Homepage | 04.13.09 - 10:05 pm

Marina disse...

Um beijo na tua procura
Um coração cheio de formosura
Uma paixão envolta na palavra feliz
Este orvalho feito da água mais pura

Nascido da alma de um deus
Solto dos olhos, derramados num céu de mágoas
Um anjo distraído caiu na terra
Uma Lagoa acolheu-o nas suas águas

Boa semana

Mágico beijo
Anonymous | 04.15.09 - 7:45 pm

Marina disse...

Seria uma grande coincidência você colocar um verso de "Tanto Mar", ou você se lembrou da música quando eu disse que estava aprendendo a cantá-la no coral? rs

Escreva mais, etê!! :P
Helo | 04.16.09 - 1:57 pm

Marina disse...

Tenho pensado muito nessa música nas últimas semanas. Ela tem um significado grande, sabia? E aqui, através das tuas palavras, encontro para ela um outro significado. Afinal, as canções, como qualquer coisa, são assim: donas de significados múltiplos que se mostram, ora um, ora outro, conforme o olho de quem vê.
Abraços!
Eduardo Trindade | Homepage | 04.17.09 - 9:29 pm

Marina disse...

muito bonito esse post.

gosto de tanto mar.

bj
tarcisio buenas | Homepage | 04.20.09 - 12:16 pm

Marina disse...

Engraçado, lembra de longe o conto que escrevi ontem, digo, a continuação que haverá dele.

Mas amores que pertencem às memórias longínquas são sempre um bom tema.
v.h. | Homepage | 05.02.09 - 7:15 pm