quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Poliglota

Eu nunca disse que as pessoas aqui de casa eram normais. Na verdade, para ninguém ter falsas esperanças, sempre conto histórias confirmando que são bem pouco mentalmente sãs. Dessa maneira, é até aceitável que quem conviva conosco seja um tanto diferente também. É o caso do meu cachorro, Willy, um yorkshire tamanho mínimo, de pelos caramelos e pretos, com alguns fios brancos típicos da idade, e focinho gelado.

Quando adotamos Willy, ele parecia um cachorrinho normal. Talvez até fosse, vai saber. Ele chegou bem jovem, assustado, como se por instinto já soubesse que havia algo bizarro por aqui. Em poucos dias, como qualquer cachorro comum, ele aprendeu a latir. Foi quando percebeu que aquela era uma língua bastante inútil numa casa de humanos e, sem nada melhor para fazer, começou uma busca incessante por outros dialetos.

Pouco tempo depois, Willy estava miando. Sabe Deus onde, mas ele também adquiriu o costume de lamber as patas e se engasgar com bolas de pelos. Mas não havia gatos nesta casa e Willy ficou triste por ter feito tanto esforço para nada. Ele, então, aprendeu a arrulhar, ficar empoleirado na barreira que separa a sala da cozinha e a gostar de se equilibrar em lugares altos. Mas, ainda, ele não encontrou ninguém com quem pudesse trocar duas palavrinhas e, mais uma vez, voltou à sua procura pelo idioma apropriado.

Hoje, Willy tem seis anos — mesmo que sua estatura seja a mesma de sempre — e fala pelo menos umas dez línguas, que vai de mugido a algo parecido com lamúria de almas do outro mundo. E meu irmão jura que há algum tempo o ouve falar “ossinho”, sempre que tem frango pro almoço.


Willy, triste, quando ainda não sabia falar “ossinho”.

13 comentários:

Marina disse...

Lanie também fala. Aliás, ela resmunga e muito! Fala não, ela. Quando ela está irritada e a gente fica forçando a coitada a dar beijinhos, ela começa a resmungar algo muito parecido com um "Nom nom nom nom"... hahahahahahaha

Mas ela ainda não adquiriu caracterí­sticas suicidas, como gostar de altura - na verdade, acho que ela tem medo. Quando ela sai na sacada e eu estou lá, ela pede colo e se aninha nos meus braços, como se com medo de cair... auhauhauaha

Willy é um fofo! Quero tanto conhecê-lo =~
Helo | Homepage | 08.19.09 - 10:45 pm

Marina disse...

Hummm... Fiquei com vontade de bater um papo com o Willy. Será que a conversa evoluiria para algum tema filosófico?
Muito boa tua crônica, leve, divertida e bem escrita. Parabéns.
Eduardo Trindade | Homepage | 08.19.09 - 10:52 pm

Marina disse...

O pró são esses teu irmaos, cada um mais mongolo-abestalhado que o outro, com uma irma besta! =P Essa do "ossinho" foi pal!
Se foi Lel que disse isso jah sei que eh pela mongolisse! Se foi Guto, tira 98% da veracidade da hist que isso eh "gutada" na certa!!!
HUAhuahuahau
Mari Matos | 08.20.09 - 1:38 am

Marina disse...

ahahahahahahahahahahaha O meu cachorro (que Deus o tenha) também resmungava algumas coisas...mas nada como "ossinho"...
Álisson da Hora | Homepage | 08.20.09 - 2:10 am

Marina disse...

Aqui em casa Freud também fala muito, mas não explica nada. É no mínimo inusitado vê-lo em muda expectativa esperando por um pouco de comida enquanto jantamos, ainda mais para um boxer de 5 anos. Vou prestar mais atenção, vai que ele também fale "ossinho".
Luciano A.Santos | Homepage | 08.20.09 - 9:41 am

Marina disse...

Que quadro! Uma graça teu cachorro...
andréia | Homepage | 08.20.09 - 10:37 am

Marina disse...

Que figurinha! Ainda bem que minhas duas aqui não falam... Eu estaria perdido!
Leonardo | Homepage | 08.20.09 - 12:00 pm

Marina disse...

Você pode fazer como o Rob Gordon: ensinar o cachorro a escrever. Só tome cuidado para ele não se vingar de você
George Marques | Homepage | 08.20.09 - 7:37 pm

Marina disse...

Então esse é o famoso Willy. Pelo jeito é um cachorro esperto!

Quem sabe daqui um tempo ele já não esteja pedindo carne, leite e outras guloseimas além de ossinho? Num futuro distante, se vc não tomar cuidado, ele vai estar ao telefone pedindo comida chinesa e quem vai ter que pagar a conta é você!
v.h. | Homepage | 08.20.09 - 8:57 pm

Marina disse...

Aqui em casa eu grito como uma capivara para me comunicar com meus semelhantes.
Bjs
Rafael | Homepage | 08.21.09 - 1:22 am

Marina disse...

Divertidíssimo, Marina. Esse Willy, pelo jeito, é uma figura.
Eu, até hoje, tive um cachorro que, além de latir, uivava. Mas, isto não é tão alarmante, né? A diferença é que ele uivava junto comigo.
Pois é, tem dono que também aprende outras línguas.
Beijo.
Magna
Magna | Homepage | 08.21.09 - 10:14 pm

Marina disse...

"....ele aprendeu a latir. Foi quando percebeu que aquela era uma lí­ngua bastante inútil numa casa de humanos e, sem nada melhor para fazer, começou uma busca incessante por outros dialetos."

Ri alto nessa parte! Sensacional! A Besta-fera não domina tantos idiomas, mas fala uns três, além da língua-mãe canina.

(Mas só um conselho: jamais dê osso de frango pra ele, é perigosíssimo. pq o osso é "oco" e pode se partir no meio, furando o estômago dele. Conheço gente que já perdeu o cão por isso
Sempre dê osso bovino, sempre.)

Beijos!
Rob Gordon | 08.22.09 - 12:52 am

Marina disse...

hauhuahaua Besta-Fera vai ficar com inveja! Daqui a pouco o Willy (Wonka) vai ligar pra pizzaria, rs
Dalleck | Homepage | 08.23.09 - 3:10 am