Aqui, do outro lado do mundo, trancado num cubículo frio e úmido, meu olhar
se mantém fixo na única luz presente — uma janela acesa, no meio da
escuridão. O único ruído audível é o dos meus dedos alcançando as teclas
de um piano sem som. Apenas palavras são possíveis naquele angustiante
contato; palavras silenciosas. Mas quase sinto a textura das suas mãos,
quase sinto tocar seu rosto e ouvir seu riso fácil. E através daquela
janela iluminada, posso ver seus olhos, numa foto tirada recentemente.
Levanto-me,
abro um livro. Está escuro demais para ler. Olho o violão, mas desisto.
Faltam-lhe duas cordas. Volto à janela e encaro seus olhos outra vez.
Faço-lhe uma pergunta, mas a resposta não vem. Espero, assim como você
sempre me esperou. Como anda sua vida? Seus amigos ainda devem insistir
que não temos futuro; você deve estar cansada disso. Será que ainda
espera? Você sabe que foi a necessidade que nos manteve separados, todo
esse tempo, com tanto mar entre nós. As pessoas dizem para desistir, que
a saudade tende a diminuir com o tempo. Bem, não a minha. Mas nada
posso dizer quanto a sua.
A
resposta não chegou. Talvez a rede tenha caído. Se eu tivesse outra
coisa para fazer, talvez a angústia não me invadisse daquela maneira.
Angústia e dúvida. Esperarei você voltar. E, um dia, atravessarei esse tanto de mar só para vê-la, apenas mais uma vez. Mesmo que você
não queira mais me ver.
"Sei que há léguas a nos separar
Tanto mar, tanto mar…
Sei também quanto é preciso
Navegar, navegar…"
Texto publicado pela primeira vez em 2009
Um comentário:
Belo texto, Mah!
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