sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Mais

Se em 2010, eu vivi tanta coisa, em 2011, eu quero apenas mais. Mais carnavais tão divertidos como os passados, um pouco mais de amor sem muitas palavras. Quero continuar vivendo do meu trabalho, quero nunca desistir. Quero também tirar mais dias para não me pertencer, para tirar umas férias de mim, para apenas fechar os olhos e deixar o relógio girar um pouco sem minha ajuda.
Quero aprender mais, de odontologia, de idiomas, de dança, de música. De vida. Não desejo entender tudo, apenas o necessário para fazer sentido. Quero caminhar, se puder, sem medo, sem mentiras. Sem figuras de linguagem. Livre. E, assim, ter mais momentos para lembrar. E para escrever, sem medo de páginas em branco. Quero viver de me encontrar desencontrando e depois ver a luz além da escuridão.
Quero voar sem asas, viajar, conhecer gente, coisas novas. E amigos, os melhores. Quero não me deixar dominar por preconceitos. Quero não me deixar dominar pela minha eventual insensibilidade. Quero não deixar morrer minha juventude, apesar das velas apagadas. Quero não me deixar abater pelas injustiças da vida.
Quero tanta coisa, que um ano apenas não seria suficiente. Mas, sem pressa, pois estamos só começando. E esses são apenas planos. Nada mais que sonhos.

Só não tenho pretensões de ir a um show melhor que o de 2010. Aí já seria demais.


"People say I'm lazy dreaming my life away"
#MemeDasAntigas: Dia 31/12 - E 2011?

Imagem: GettyImages

quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Watching the wheels

"I'm just sitting here watching the wheels go round and round
I really love to watch them roll"

#MemeDasAntigas: Dia 30/12 - Uma foto minha em 2010

quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

O bom de 2010 foi...

... Abrir a agenda, ler as anotações, os pensamentos, as letras de músicas, os meus comentários sobre os livros que li, os filmes que vi, ver as fotos dos melhores momentos do ano. E perceber que foi um ano significativo e que não apenas passou por mim, sem deixar nada para o futuro. Iniciei muita coisa em 2010, muita coisa importante que vai continuar nos anos seguintes.
Foi o início de amizades valiosas; pessoas sem as quais não consigo mais me enxergar hoje. E o início de promissores projetos de amizade. Foi o ano em que voltei a dançar, o que cada dia mais me traz uma felicidade infinita, nos meus pequenos progressos. Foi também o ano em que comecei a minha especialização, onde consegui fazer parte de uma das melhores turmas que poderiam existir. Ano de aprender mais sobre o que eu escolhi fazer da vida. Foram novos projetos, sonhar com a reforma do meu consultório, implantar mudanças que jamais esperei conseguir. Ano de ir ao primeiro congresso de ortodontia da vida e admitir que adoro tudo aquilo, que faço o que gosto.
Foi o ano de uma das melhores viagens da minha vida, com amigos, com degustação de cerveja, com parques de diversões, com conhecer pessoalmente um dos meus mais queridos amigos. Foi o ano da realização do sonho de ir ao show de Paul McCartney. Foi o ano do melhor carnaval, das melhores festas estranhas, das melhores histórias que ficaram pra posteridade.
E agora, 2010 se despede. Foi uma bela performance.


#MemeDasAntigas: Dia 29/12 – O bom de 2010 foi...

terça-feira, 28 de dezembro de 2010

O problema de 2010

Este ano foi mais um ano de aprendizado e conquistas. Ano de amigos, muitas festas, bebedeiras (sim, eu pulei o "momento Heleninha Roitman" do meme porque seria muito constrangedor falar disso aqui), viagens, dança, música, shows inesquecíveis. Mas também foi um ano de muito trabalho, reuniões até as 2h da manhã, trabalho no sábado, recomeçar tudo do início, pouco sono, problemas financeiros, problemas com funcionários, problemas judiciais, brigas em família, perdas inesperadas. Coisas que acontecem na vida de todo mundo.
Não foi um ano fácil. Feliz mesmo era a época em que minha única preocupação era se conseguiria estudar todo o assunto a tempo da prova. Ou se conseguiria me formar. Mas não foi um ano ruim. Ouso até dizer que foi um ano bom. Porque, entre mortos e feridos, ainda estamos aqui, prontos para começar um novo ano. Mesmo com tantos obstáculos, pudemos terminar o ano com a velha união intacta.


Agora só resta esperar que o meu estômago chegue a 2011 intacto também. Quem manda tomar quase dois litros de Coca Cola depois de uma noite de tequila, vinho e cerveja?

#MemeDasAntigas: Dia 28/12 – O problema de 2010 foi...

sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

Believe

É triste ouvir tanta gente dizer que não gosta do dia de Natal. Até entendo que a magia que existia quando a gente era criança tenha ido embora. Entendo que não exista mais a espera do bom velhinho da sacola de presentes. Entendo que montar a árvore, colocar a meia na janela não tenha mais tanta graça quanto antes. Entendo. Eu também sinto isso, a velha melancolia dos Natais passados.
Véspera de Natal. Lembro-me de que, nesse dia, a gente já ficava de olho nas sacolas vermelhas, embaixo da árvore da minha avó, procurando uma etiqueta com o nosso nome. Presentes de toda família num pacote só. Eram Natais mágicos, aqueles. O de esperar os guizos tocarem e cair no sono antes disso. De assistir o especial de Xuxa, sonhar com o dia seguinte. E acordar com um presente aos pés da cama.
O Natal acabou só porque nós crescemos? O sentido do Natal se perdeu? Fico pensando o quanto o sentido do Natal tem a ver com acreditar em Papai Noel. Não devia ser assim. Hoje é, sim, um dia especial, porque é o aniversário daquele que morreu para nos salvar. Um Feliz Natal para todos aqueles que acreditam.


"When it seems the magic slipped away
We find it all again on Christmas Day.
Believe."

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Resenha: A Fronteira das Almas


No dia 07 de novembro de 2010, o talentoso escritor Douglas MCT, a quem eu tenho o privilégio de chamar de amigo, publicou o primeiro volume da sua fenomenal série Necrópolis. Posso afirmar que é fenomenal porque fui uma das leitoras beta, uma das primeiras, e apesar de ter sido mudada muita coisa na edição, já comprei meu exemplar (ainda não autografado) de Necrópolis - A Fronteira das Almas e comecei a ler. Não perdeu nada do brilho, muito pelo contrário.
A história é sobre um rapaz chamado Verne, que perde o irmão num incidente suspeito e depois descobre que aquela alma tão querida pode desaparecer para sempre no Abismo da Fronteira das Almas. Para isso não acontecer, Verne precisa ir a Necrópolis, um outro mundo, para resgatar a alma do irmão. E ele vai precisar de toda ajuda que conseguir obter, entre elas: um ladrão bastante rápido, um monge exilado, uma mercenária charmosa e um corujeiro — espécie estranha, de um povo que vive acima nas nuvens. Não a única espécie estranha residente em Necrópolis.
Repleta de criaturas curiosas — e algumas conhecidas —, acontecimentos sombrios, mistérios nas entrelinhas, um prólogo arrepiante e um final primoroso, que deixa o gancho para o próximo volume, a série de dark fantasy virou uma das minhas preferidas. E, qual não foi a minha surpresa quando, ao abrir um dos capítulos, vi uma pequena homenagem à minha pessoa? Eu parecia uma idiota rindo sozinha na livraria.
Necrópolis poderia ser o melhor livro de 2010, mas eu o li em 2007 e ainda não terminei de ler o meu volume publicado. Então, resolvi fazer uma resenha neste post aqui. Porque tenho muito orgulho em ver esse livro tão querido fazendo esse sucesso todo, com todos os exemplares esgotados já nas primeiras semanas de publicação.

#MemeDasAntigas: Dia 23/12 – E o troféu me mata de orgulho de 2010 vai para...

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Relato de um assassino

É preciso ter sangue frio. Ser calculista e, acima de tudo, não se deixar abalar por sentimentalismos inúteis. As emoções não devem existir; pena, compaixão, arrependimento. A única coisa que se permite sentir pela vítima é desprezo. Talvez um prazer insano durante o ato, típico daqueles que estão acostumados a tirar vidas.
É o que sinto agora, enquanto corto cada parte de seu corpo, separando os pedaços, retalhando. É mais interessante quando é violento, sangrento. Você agoniza, mas não morre. Ainda. A lâmina afiada torna a investir contra o seu corpo, repetidamente, com força, com insistência. Minha expressão continua impassível, mesmo quando cravo os dentes na pele, estraçalhando a carne. O sangue continua a jorrar e espalha-se pelo chão, manchando tudo em volta com um curioso tom de vermelho-berrante.
Um sorriso amargo surge em meu rosto. Sei que está morrendo. Quero que esteja; preciso que esteja. Apesar disso, sinto ainda o pulsar da vida dentro do corpo frágil. Cerro os dentes. Não sei mais o que fazer.

Matar você em mim tem sido uma tortura. Juro que dói mais em mim que em você.

"You know she's a little bit dangerous"

#MemeDasAntigas: Dia 21/12 - Em 2010 eu quis matar...

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segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Descoberta

Depois de passar tanto tempo com gente à sua volta, ela desfrutava um pouco dos seus próprios pensamentos. Coisa que raramente conseguia, nos últimos dias. Não tanto pela presença constante dos amigos, que era confortante, mas pela falta de vontade de ficar só.
Teria acabado tudo antes; mas, por conveniência, costume ou outra desculpa qualquer, permitiu que durasse mais. Namoro de muito tempo tem disso; você termina confundindo coisas simples, como respeito e admiração com amor, intolerância com TPM. Passara uns bons meses pesando os próprios sentimentos, sem conseguir confiar nas próprias decisões e só agora, semanas depois do fim, tinha plena certeza de que estivera certa.
Liberdade: linda, promissora. Ainda que intimidante. Depois de passar tanto tempo se aborrecendo com a própria presença, ela descobria que podia ser feliz sozinha.

"Quem foi que disse que é impossível ser feliz sozinho?"
#MemeDasAntigas: Dia 20/12 – Em 2010 eu descobri que...
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domingo, 19 de dezembro de 2010

Em 2010 eu quase...

... Zerei LEGO Batman no Wii. Mas tem uma fase na neve que é muito chata de pegar todos os itens. Aí eu e meu irmão desistimos e começamos a jogar LEGO Star Wars episódios 4, 5 e 6.

#MemeDasAntigas: Dia 19/12 – Em 2010 eu quase...

sábado, 18 de dezembro de 2010

Inveja?

Às vezes, escrevo sobre coisas que não entendo. Essa é uma delas. Mas confesso que estou com inveja de quem mora em São Paulo e não precisa gastar tanto para ir aos melhores shows do Brasil. Teria com certeza ido a Bon Jovi e Avantasia, se não fosse tão dispendioso.


#MemeDasAntigas: Dia 18/12 – Em 2010 tive inveja de...

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Se eu cair, conto até dez

Fazia tempo que espiava as apresentações alheias, sem coragem de tentar de novo. Um mundo de pares de pés cobertos por sapatilhas cor-de-rosa, saias volumosas e arranjos de cabelo perfeitos, confundindo-se em pas de bourrée, glissade, gran jeté e demi plié. Então, reverence. E fim do espetáculo. Ela não queria apenas ficar admirando a dança dos outros. Na verdade, tinha saudade da época em que conseguia, com um mínimo de esforço, se equilibrar na ponta dos pés.

Talvez fosse preguiça. Preguiça de começar tudo outra vez, de aprender tudo outra vez. De reconhecer as próprias limitações e trabalhar duro para superá-las. Ou falta de paciência, vai saber. Ou a consciência errônea de que já fazia tanto tempo que estava naquela inércia que não mais poderia trazer de volta a dança para sua vida.

Mesmo assim, tomou coragem. Com collant, meias, sapatilhas, voltou a dançar. Bem mal, por enquanto. Mas sempre progredindo. Porque, mesmo longe, mesmo sem dançar, a alma de bailarina sempre estivera ali, escondida no fundo do seu coração.

Este ano, eu voltei a dançar.


#MemeDasAntigas: Dia 17/12 – Em 2010 eu consegui...

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

My Blueberry Nights

"Querido Jeremy,


Nos últimos dias, tentei aprender a não confiar tanto nas pessoas e estou feliz em ter fracassado. Às vezes, dependemos de outras pessoas como um espelho para nos definir e nos dizer quem somos. E cada reflexo me faz parecer um pouco mais comigo mesma.

Você sabe, voltei aqui na noite em que parti, mas não passei da porta da frente. Quase entrei, mas sabia que se o fizesse, eu seria somente a mesma velha Elizabeth. Eu não queria mais ser aquela pessoa.

Espero que goste.

Elizabeth"

#MemeDasAntigas: Dia 16/12 – Em 2010 eu tentei...


quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Livre, enfim

Meias, toalha, escova de dente... Estava tudo ali. Desistira de levar a boneca no momento em que tocara seus braços de pano e os sentira frágeis. Não sobreviveria, aqueles olhos azuis de botão, os cabelos de lã castanha. Não seria feliz longe dali. Ela, sim, era forte, era de carne e osso. Não podia levar nada consigo, apenas o necessário. A boneca não era mais necessária; servia apenas para amenizar a solidão. Não precisaria dela aonde estava indo.

Não pensou em nada, enquanto descia as escadas, contando os degraus, como de hábito. Mas sonhava com a liberdade havia muito tempo. Uma vez fora daquela casa, seria tão livre quanto jamais sonhara. Nada mais de todo mundo lhe dizendo o que fazer, o que comer, o que vestir. Aonde não ir, quando e com quem não sair, mantendo-a presa como em uma jaula. Um bicho selvagem numa jaula. Sem nunca sorrir. Precisava partir naquele instante.

Não queria pensar em ninguém, enquanto pulava a janela da sala. Mas, intimamente, sabia que daria tudo para ver a cara dos pais tão ausentes quando, provavelmente dias depois, sentissem a sua falta e descobrissem que ela não estava mais lá. Estava livre.


"She's leaving home after living alone
For so many years..."


#MemeDasAntigas: Dia 15/12 – Em 2010 eu pensei em fugir para...

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terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Em 2010 eu pela primeira vez...

Fiz um brinde com polenta frita.

#MemeDasAntigas: Dia 14/12 – Em 2010 eu pela primeira vez...

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Melhores dias

Com amigos, qualquer dia é bom. Mas viajar com amigos é a melhor coisa do mundo.

#MemeDasAntigas: Dia 13/12 – Meu melhor dia de 2010

domingo, 12 de dezembro de 2010

#Fail

O ano de 2010 começou da seguinte maneira: a festa de reveillon foi fantástica, como sempre é em Neverland, apesar de ter chovido bastante. O problema foi o almoço, quando eu inventei de comer um peru de Natal com fio de ovos estragado. Percebam, do Natal. Eu não sabia que era tão velho. Claro que não deu muito certo.

Lá por volta das seis da noite, eu comecei a passar mal. Quando meu pai, enfim, resolveu me levar para um hospital no Recife, a uma hora dali, a praia toda já estava sabendo e, como todo mundo acha que tem uma veia para a medicina, eu já tinha tomado todos os tipos de remédios, chás milagrosos e soros caseiros. E vomitado tudo.

Pior era a dor. Fui passando mal a viagem toda; meu estômago contraía sem ter nada mais para expulsar. Tive que ser carregada para uma cadeira para tomar soro e, depois de desmaiar na cadeira (não apaguei de verdade, mas não conseguia ficar ereta), fui levada para uma cama gelada e sem cobertor. Eu estava desidratada, então sentia mais frio que o normal. A cada enfermeiro que passava, eu mendigava um lençol. Seria até cômico, se não fosse trágico. Ou não fosse comigo.

Dois tubos de soro e eu tentei ir embora, mas voltei a desmaiar. Mais furos e mais um tubo de soro e, depois, fui liberada. Eram três da manhã. Aí você pensa: o que se pode esperar de um ano que começa assim?


#MemeDasAntigas: Dia 12/12 – Meu pior* dia de 2010

*Este não foi O PIOR dia de 2010, mas não quis escrever sobre coisas tristes.

Imagem: GettyImagens

sábado, 11 de dezembro de 2010

Comprinha

Como muita gente sabe, sou meio viciada em comprar livros. Sério, não é viciada em ler, é em comprar. Mas a minha primeira — e melhor compra — de 2010 foi meu netbook. Virou instrumento de trabalho (para planejar meus casos de ortodontia), diversão (para ler blogs no trabalho) e indispensável nas viagens do ano. Foi um pesinho a mais, mas bem mais leve que um notebook.

My precious:


#MemeDasAntigas: Dia 11/12 – Minha compra de 2010

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Amigo é para essas coisas

— Salve!
— Como é que vai?
— Amigo, há quanto tempo!
— Um ano ou mais...
— Posso sentar um pouco?
— Faça o favor.
— A vida é um dilema.
— Nem sempre vale a pena...
— Pô...
— O que é que há?
— Rosa acabou comigo.
— Meu Deus, por quê?
— Nem Deus sabe o motivo.
— Deus é bom.
— Mas não foi bom pra mim.
— Todo amor um dia chega ao fim.
— Triste...
— É sempre assim.
— Eu desejava um trago.
— Garçom, mais dois.
— Não sei quando eu lhe pago.
— Se vê depois.
— Estou desempregado.
— Você está mais velho.
— É...
— Vida ruim.
— Você está bem disposto.
— Também sofri.
— Mas não se vê no rosto.
— Pode ser...
— Você foi mais feliz.
— Dei mais sorte com a Beatriz.
— Pois é... Pra frente é que se anda.
— Você se lembra dela?
— Não.
— Lhe apresentei.
— Minha memória é fogo!
— E o l'argent?
— Defendo algum no jogo.
— E amanhã?
— Que bom se eu morresse!
— Pra quê, rapaz?
— Talvez Rosa sofresse.
— Vá atrás!
— Na morte a gente esquece.
— Mas no amor a gente fica em paz.
— Adeus.
— Toma mais um.
— Já amolei bastante.
— De jeito algum!
— Muito obrigado, amigo.
— Não tem de quê.
— Por você ter me ouvido.
— Amigo é pra essas coisas.
— Tá...
— Tome um cabral.
— Sua amizade basta.
— Pode faltar.
— O apreço não tem preço, eu vivo ao Deus dará.

Amigo é para essas coisas - MPB4
#MemeDasAntigas: Dia 10/12 – Minha música favorita em 2010

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

In the stand of the sports arena...

Eram exatamente nove e trinta e cinco da noite, quando ele surgiu diante dos meus olhos cansados. Que se esqueceram do cansaço na mesma hora para começar a derramar lágrimas sem que eu percebesse. Eu sabia que ia chorar, até avisei antes; mas não pensei que fosse com a simples visão dele. Pensei que choraria com os acordes iniciais de The long and winding road ou Hey Jude. Mas as coisas não foram assim tão racionais; acho que, até aquele momento, ainda não estava acreditando.

Foi quando caiu a ficha: ele estava mesmo ali. Eu o estava vendo. Eu o estava ouvindo. E, mesmo que tenham dito que ele não tinha a mesma voz de outrora, nenhuma daquelas 64 mil pessoas pulando, aplaudindo, gritando, de olhos encharcados de emoção, se importou, ou mesmo percebeu. Pessoas de todas as idades, de pé desde cedinho apenas para vê-lo. Não o show, mas ele. Sem todos aqueles fogos, telões, luzes, estariam todos lá da mesma maneira.

Sim, eu entre elas. E pude ver que ele não era só mais uma estrela ali em cima do palco, diante de todas aquelas pessoas; era alguém nitidamente encantado com a imensa quantidade de gente esperando por ele há horas, dias, meses, anos. A vida inteira. Eu vi um ser humano tentando se comunicar com uma nação toda num idioma estranho a ele, mesmo que suas músicas já o tenham feito bem antes. Vi a humildade de alguém que jamais se esqueceu dos seus grandes amigos, igualmente aclamados, infelizmente ausentes, lembrados em lindas homenagens. Vi uma verdadeira lenda ser muito mais simples que muito artista chinfrim por aí.

Eu vi um Beatle. Mais do que isso: eu vi Paul McCartney.


#MemeDasAntigas: Dia 09/12 – Meu show preferido de 2010

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Neverland

Não saberia dizer o meu lugar preferido deste ano. Só consigo dizer o meu lugar preferido de todos os anos, todos os tempos. Um lugar querido é aquele onde você se sente bem mesmo quando está só, sem internet ou telefone; mas que é igualmente agradável quando você leva os amigos ou fica com a família.

O meu lugar preferido é logo ali, na minha bela praia, que tem um nome, mas eu prefiro chamar carinhosamente de Neverland. Justamente porque não tem internet nem telefone; é só um paraíso isolado onde você pode escolher entre ficar só e estar rodeado por pessoas queridas. Ou dormir o dia todo, tanto faz.

#MemeDasAntigas: Dia 08/12 – Meu lugar preferido em 2010

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

For life

Este é um texto sobre amizade. Um dos raros textos pessoais e, por isso mesmo, difícil de escrever.

Foi num dia qualquer — numa noite, mais precisamente — que um amigo chegou à minha casa e me apresentou uma pessoa. Ela sentou-se à minha frente e começamos uma conversa meio sem assunto, mas que fluía com facilidade. Depois ela foi embora e a amizade ficou em suspenso. Não vingou. Ninguém insistiu.

Anos se passaram; anos de desencontros e reencontros, sem muito interesse de nenhuma das partes. Possivelmente por culpa de primeiras impressões, mal entendidos e observações de outros. Mas a vida nunca é muito racional: depois de um tempo, e de uma turma construída e desfeita num instante, em que sobraram apenas retalhos de carinho e admiração por todos os lados, amizades foram findadas, outras mantidas e outras conquistadas. Como moedas de valores diversos jogadas ao alto, que a gente corre e apanha o que der. Eu não tive dúvidas.

Escolhi o riso fácil, a mente aberta, o coração enorme, a ausência de frescura e papas na língua, a conversa fácil, a confiança total, o senso de humor refinado, o papelzinho de enrolar prego. Escolhi o que eu admirava. Somando a força em tempos difíceis e a presença incondicional em todos os momentos, bons ou ruins, importantes ou só para fazer nada junto. O sorriso em troca do mau humor. Os dezesseis sachês de ketchup de presente de aniversário.

Não sei como fiquei tanto tempo sem essa presença. Hoje, eu xingo os mal entendidos, mas sei que o tempo estava apenas nos preparando para essa amizade num momento em que pudéssemos compreendê-la. Não faz muito tempo, eu compreendi. E foi este ano que a amizade tornou-se o que é. Algo que jamais poderia ser posto em palavras, embora eu tenha tentado.

Este é um texto sobre amizade. E este é para você, Mari. Amiga e companheira de sonhos, viagens, perdas, sorrisos. E cerveja, claro.


"Friends for life, not just a summer or a spring"


#MemeDasAntigas: Dia 07/12 – Meu parceiro/a de 2010

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Resenha: A Cor da Magia

Você sabia que a cor da magia é uma cor chamada octarina, um curioso tom de roxo amarelo esverdeado fluorescente? E que o número da magia é oito? É o que diz o mago Rincewind neste excelente livro de ficção fantástica. A Cor da Magia é o primeiro livro da série Discworld, de Terry Pratchett. São livros raros de encontrar no mercado; só tenho esse volume graças a meu amigo Alexandre, que achou numa livraria por aqui e me deu de Natal — três meses depois, como de hábito.
A série é a respeito de um mundo em forma de disco sustentado por quatro elefantes equilibrados no casco de uma tartaruga gigante. O livro começa quando um turista excessivamente ingênuo chamado Duasflor chega a uma cidade e conhece o já citado mago Rincewind, um feiticeiro com tanto talento para magia quanto um físico, mas que tem uma habilidade especial para falar vários dialetos. É assim que ele conhece o turista e termina se vendo na obrigação de acompanhá-lo pela sua viagem ao longo do disco.
O humor de Terry Pratchett já aparece na simples maneira de criar os personagens, desde seus nomes às suas personalidades. Mas o que dá o toque especial ao livro é a ironia com a qual ele é narrado, comparável talvez ao Guia do Mochileiro das Galáxias. Sem falar nas teorias mirabolantes, nas explicações sobre as estações do ano, escritas no rodapé da página — ocupando mais da metade dela —, num baú de viagem extremamente voluntarioso e nas traduções hilárias do idioma do turista para o do mago. Sério, as traduções me fizeram passar horas rindo sozinha.
O livro A Cor da Magia está classificado no meu skoob como um dos meus livros favoritos. Agora, só me resta encontrar os outros da série.

#MemeDasAntigas: Dia 06/12 – Meu livro favorito em 2010

domingo, 5 de dezembro de 2010

Acapella

O vídeo fala por si mesmo.


#MemeDasAntigas: Dia 05/12 – Um vídeo do YouTube em 2010

sábado, 4 de dezembro de 2010

Blog do ano

Um blog maravilhoso que comecei a acompanhar desde o ano passado — mas passei a ver com mais frequência este ano — e mostro por aí sempre que encontro uma oportunidade é o blog Casos e Coisas da Bonfa, da Katia Bonfadini. É um blog que não tem muito a ver com o meu; não tem contos, nem poemas, mas fala de arte como nenhum outro. A Katia é designer e fundou o blog em 2009. Eu comecei a acompanhar desde o começo, quando ela anunciou no Criative-se que começaria um blog individual. Daí em diante, sempre que aparece uma atualização no meu leitor de feeds, eu corro para ler. Como minhas leituras de blogs quase sempre acontecem perto da hora do almoço, eu termino quase babando em cima dos petiscos que ela inventa por lá. Só coisas lindas e apetitosas, entre elas: decoração, verrines e comidinhas fáceis de fazer, viagens, reuniões de amigos temáticas, drinks e um espaço para convidados. Através dele, acabei conhecendo também outros blogs bem legais sobre culinária e decoração.

Convido todos a conhecer o Blog da Katia, o meu eleito "blog do ano". E parabéns à Katia por um blog tão lindo/útil/delicioso.


#MemeDasAntigas: Dia 04/12 – Meu site/blog preferido em 2010

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

O filme do ano

Não vi muitos filmes em 2010. Pensando bem, este e o ano passado foram anos particularmente vazios de filmes para mim, que mal pude dar uma passadinha no cinema de vez em quando. Estranho para uma pessoa que ia uma ou duas vezes ao cinema por semana. Deixei de ver vários filmes que estavam em cartaz pela simples falta de oportunidade.

Mesmo assim, dos filmes que eu vi, Tropa de Elite 2 está, sem dúvida, entre os melhores. O primeiro da série foi um marco pra minha turma da faculdade, pois foi base para as gravações do filme da aula da saudade. Como minha turma era meio revolucionária, usamos a nossa afinidade com o filme, de ir contra o sistema, para fazer um filme contra o sistema comum nas faculdades públicas. O primeiro Tropa de Elite foi um filme que, por mais que fosse violento, ou talvez por isso mesmo, nos dava esperanças de que havia jeito para o Brasil. Até sair o segundo.

Sem grandes spoilers, farei só umas pequenas considerações sobre subtítulo do filme: O inimigo agora é outro. O fato é que, quando mudaram o inimigo, mudou tudo, inclusive a nossa crença tão idealista de que um homem — no caso o Capitão Nascimento — podia fazer a diferença. Com esse outro inimigo, a gente se vê de mãos atadas, sabendo que somos nós mesmos que lhe damos poder. Esse inimigo pode ser aquele palhaço analfabeto que elegeram "por protesto". Ou aquela ex-guerrilheira eleita "apenas por nordestinos". Ou tantos outros que não sabem localizar os estados brasileiros no mapa. E eu fui ver o filme no dia anterior ao segundo turno das eleições presidenciais. Foi aquele famoso "voto no ruim ou no pior ainda?" Como diria o Capitão: "O sistema é foda". Mas a gente tem que participar dele e acreditar que ele pode mudar.

Por ser real, cruel, verdadeiro, o filme é demais. Tropa de Elite 2, o filme do ano.


#MemeDasAntigas: Dia 03/12 – Meu filme preferido em 2010

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Ainda este ano

— Que é isso que você está fazendo?

— Isso aqui? É só uma lista.

— Lista? De quê?

— Umas coisas que eu ainda tenho que fazer este ano.

— Presentes de Natal?

— Ahn... Não.

— Compras para a ceia? Roupas de fim de ano?

— Não...

— Então, o que é? Deixa eu ver.

— Não é nada, são só umas coisas que...

— Hein? Aprender a tocar guitarra... Entrar num curso de alemão? Curso de fotografia? Cara, que é isso, afinal?

— Já disse, são só umas coisas que eu percebi que sempre quis fazer e nunca tive tempo. Aí tenho que dar um jeito até o fim do ano.

— Mas são cursos longos e o ano já está terminando. Por que você tem que fazer isso tudo agora? Não é melhor deixar pra começar em janeiro?

— Não, tem que ser este ano.

— Por quê? Você vai morrer quando o próximo ano começar?

— Mais ou menos. Vou me casar.


"Just get me to the church on time"



#MemeDasAntigas: Dia 02/12 - Mas 2010 ainda não acabou, vou tentar...

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Peraí... 2010 tá acabando?

Vai chegando o final do ano e eu sempre acabo encontrando uns memes legais pela blogosfera. Este ano vou de #MemeDasAntigas, do Max Reinert, do blog Pequeno Inventário de Impropriedades. O meme consiste em postar loucamente em todos os dias de dezembro, coisa que eu acho impossível, mas não vou deixar de tentar. Ou seja, pretendo floodar meu próprio blog e fazer isso ser divertido.

É... 2010 acabando. O dinheiro também... E pra quem não tem 13° e ainda foi pro show de Paul McCartney de pista Prime, fica só a xepa do ano.



#MemeDasAntigas: Dia 01/12 - Peraí... 2010 tá acabando?

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Página em branco

O que antes me inspirava, hoje me causa medo: a página em branco, o papel que não será preenchido com nada. Torna cada vez mais real o vazio, a ausência de vida dentro de um corpo. A página de vida em branco. Pavor de parar em frente a um papel e me perder na ausência de linhas, na necessidade vã de expressão, nas minhas próprias ideias. Volta, inspiração. Não me deixa aqui sozinha, sem pensamentos bonitos, ou mesmo feios; sem sentimentos felizes ou tristes. Sem sentir. Sem palavras.

Saudade de escrever em qualquer pedaço de papel, no guardanapo do bar, no post it do escritório. Saudade de julgar-me livre. De compor uma letra de música sem muito esforço, sem parar para sentir, ou me perceber sentindo. Sim, saudade de não precisar sentir, mas sentir tudo intensamente e deixar transparecer sem saber, em cada letra desenhada. Saudade de ter palavras na ponta da língua. Do lápis. Dos dedos. Do coração.


Saudade dele. Do causador da página em branco.


"Saudade... Quero arrancar essa página da minha vida."

Imagem: GettyImages

terça-feira, 9 de novembro de 2010

But still...

Injusto é ter procurado tantas maneiras de viver, mudar de atitude, mudar o modo de pensar, ver o mundo girar tantas vezes e descobrir que esteve apenas sobrevivendo. Injusto voltar ao mesmo caminho e partir outra vez do início. Como se nada tivesse valido a pena. Apenas voltar ao mesmo caminho, só que com mais cicatrizes. No mínimo, injusto.


"But still they lead me back
to the long winding road..."

Imagem: stock.xchng

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

No coração do Brasil


Eu não deveria, mas vou dizer algumas palavras sobre essa onda xenofóbica que acometeu o país desde que "os nordestinos" elegeram a primeira presidenta do Brasil. Já formulei milhares de argumentos para ridicularizar essa afirmação, mas não pretendo entrar na questão da política do Nordeste aqui, tampouco vou sair discutindo as questões que levaram o Brasil a eleger Dilma Rousseff.

O fato é que, depois de voltar do feriado, abri o twitter e me deparei com inúmeros comentários absurdos em relação aos nordestinos. Vou dizer uma coisa a vocês: nunca neste Brasil alguém vai chegar ao Recife com um sotaque diferente e ser ridicularizado por este motivo. Ou pior, ser agredido fisicamente. É porque os cariocas, os paulistas, os gaúchos são melhores que a gente? Desde pequena eu aprendi que ninguém é melhor que ninguém, seja branco, preto, azul, gay, mulher, alemão, soropositivo. É estranho crescer e perceber que, na vida real, não é bem assim. É triste pensar que nasci neste país e que poderia ser maltratada numa das suas muitas cidades simplesmente por me julgarem menos do que eu sou. Depois perguntam por que nordestino é tão orgulhoso. É o preconceito alheio, que faz com que procuremos força em nós mesmos contra o resto do mundo.

Está além da minha capacidade entender por que, num mesmo país, se acostumou a separar pessoas ao invés de unir. Logo hoje, nesta geração globalizada, em que importamos cultura até mesmo de outros países. Quer dizer que receber estrangeiros na sua cidade perfeita está ótimo, mas aturar "cabeças-chatas" é trabalho demais?

Menos do que raiva, sinto pena dessas pessoas limitadas. São pessoas que nunca vão conhecer o carnaval do Recife ou o de Salvador com o coração aberto das pessoas livres. Nunca vão aprender a apreciar a simplicidade das músicas de Luiz Gonzaga e Dominguinhos, ler um livro de Ariano Suassuna, ou entender um filme como Lisbela e o Prisioneiro. Nunca vão conhecer as praias de Pipa, ou de Porto de Galinhas. Nunca, mas nunca, vão admirar as peculiaridades da diversidade cultural brasileira, que tantos já cantaram. E nunca vão entender um nordestino que foi capaz de cantar tão bem as belezas de uma terra que não era sua.

Imagino que seja cansativo conviver com todas essas restrições e esse coração pesado por toda a vida. Prefiro viver em paz, livre dessas coisas que, no final, não tem valor nenhum.


"Sem lenço e sem documento
O peito cheio de amores vãos.
Eu vou, por que não?"

Imagem: GettyImages


- Textos muito bons relacionados: Vida Seca e Calem a boca, nordestinos

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Insensível

Longe de sentir o amor que tentei sugerir todo o tempo, senti apenas tédio. Olhei teu rosto, vi tuas lágrimas e não senti nada. Não menti, admiti a verdade: não te amo mais. Não te amava mais há muito tempo. Não pude esconder nada, naquele momento. Acuse-me de tudo, menos de ser insincera. Pudeste ler tudo em meu rosto e, ao perceberes minha expressão indiferente, terminaste indo-te embora. E eu, que não te amo, permaneci ali.
De longe, te vi lamber as feridas e tentar superar a dor. Aquela que tu sentiste e foi ínfima demais para me alcançar. A que surge quando o amor acaba, pondo fim a promessas e expectativas, planos e "felizes para sempre". A causadora da lágrima que cutucou o meu ombro, disse "adeus" e caiu aos meus pés.
Naquela despedida, eu estava distante. Sabia que me amavas e eu te feria. E de onde estava, só queria que tudo acabasse logo e me deixasse só, com meus pensamentos. Não tardou, tive meu desejo satisfeito: fiquei completamente sozinha, eu e meu coração de pedra.
E eu, que não mais te amava, chorei.


"And in her eyes, you see nothing
No sign of love behind the tears cried for no one"*

*Música: For no one

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Voar sem asas

Já andei até cansar os pés e criar bolhas. Houve dias em que a estrada não foi o bastante. Subi em árvores até esfolar os joelhos e sujar as mãos. Sempre me faltavam galhos. Fiz castelinhos de areia e castelinhos de cartas. Ruíram. Aprendi a construir castelos com materiais mais sólidos. Fui rainha, brinquei de faz-de-conta da vida real. Destronada embora, sempre brincando de ser feliz.

Houve dias em que voei sem asas. Hoje, arrumei asas para voar. Só volto daqui a dez dias.

"Brinquei de ser seu coração..."

Imagem: GettyImages

terça-feira, 21 de setembro de 2010

Desencontros

— E então, posso entrar?
— Espera. Ele já está indo embora.
— Desse jeito, eu vou acabar me atrasando.
— São quatro e meia ainda. Agora fica quieto que eu quero ouvir.
— Ele disse alguma coisa?
— Sempre fala pouco, ela muito menos. Deixou-o entrar sem nem trocarem uma palavra. Só olhares e sorrisos. E beijos e abraços. Isso me distrai, sabe, observar amantes se encontrando no meio da madrugada.
— Deve ser bonito.
— É sim. Sei que tive alguma influência no início romance desses aí, e certamente ainda ajudo bastante. É engraçado: sempre que vai saindo, ele assovia uma música, feliz. Então, olha para mim e sorri. Como um agradecimento.
— Gostaria de poder chegar mais cedo para ver.
— E quando ele volta, você já foi embora.
— Vivo ocupado, você sabe. Seu turno é mais tranquilo que o meu. E você tem folga uma semana inteira a cada mês.
— Temos obrigações diferentes. — Ela suspirou. — Não é ruim passar a noite aqui, só posso me queixar da solidão. E quanto mais vejo amantes felizes sorrindo para mim, mais esse sentimento me aperta. Sinto inveja. Sinto sua falta.
— Eu também. Gostaria de poder vê-la mais vezes. Nos vemos tão pouco.
— Parece que é nosso destino viver de desencontros. Meu destino, velar encontros alheios. Se pudesse morrer de saudade...
— Calma. Não demora, haverá eclipse.
— Parece uma eternidade.
— Mas é bom ter pelo que esperar. Bem, cinco horas, minha hora. Boa noite.
— Bom dia, meu amor.

"Rest your head and go to sleep
'Cause, my child, this is not our farewell"*

Imagem: GettyImages
Música: Our farewell

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Escuridão

Não me lembro de quanto tempo passei confinada naquele lugar abafado e claustrofóbico. Perdi as contas quando se acabaram os dedos. Pensei em contar fios de cabelo, mas já tinha arrancado todos. Comecei a contar carneirinhos, mas nem dormir conseguia mais. Dias escuros, que se arrastavam, como se recusando a terminar. Sem dormir nem viver.

Quando, finalmente, consegui fechar os olhos, percebi que a escuridão era tanta que não fazia diferença. Abria, fechava. Nada. Eu, no meu canto sombrio, sem conseguir distinguir uma escuridão da outra. Talvez tenha sonhado de olhos abertos ou vivido de olhos fechados. Não tinha diferença. Vai ver, tenha apenas sonhado que vivia. Ou vinha vivendo a sonhar.

Era a escuridão eterna. Tanto que não acreditei quando vi a luz. Era pouca, mas cegava, de uma maneira que me fez perceber o quanto estive cega durante esse tempo. A gente nunca percebe isso antes de enxergar. Não via nada e, ao mesmo tempo, via tudo. Tudo agora importava, nada mais importava. Tudo tão diferente de antes. Queria que a escuridão nunca mais voltasse.

Mas ela volta. Sempre volta. Um dia, volta.

"Open up your mind, let your fantasies unwind
In this darkness that you know you cannot fight"

Imagem: GettyImages

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Breve comentário

Sabem qual é o item que considero mais importante num blog? O post, você diria? Não; são os comentários. O post não é assim tão importante. Não precisa ser longo, não precisa ser escrito com palavras complicadas, não precisa ser escrito com orações longas. Não precisa sequer ser escrito. Não precisa fazer sentido. Um post pode ser uma frase, um pensamento, uma imagem. Uma tirinha. Uma simples palavra pode ser um post.

E os comentários? Os comentários são como posts publicados no blog de outra pessoa. São uma demonstração de que você leu o texto, gostou e tem algo a dizer sobre ele. Ou será que não tem nada a dizer? Como bem disse o Tyler no twitter, uma vez: "quando o post tem poucos comentários, você fica com a sensação de que ele não agradou". É como uma piada sem risadas. Ou um concerto sem aplausos.

Eu acho engraçado que as pessoas tenham tanto a dizer no twitter — às vezes, uma besteira maior que a outra — e não tenham nada a dizer de textos que leem em blogs. Bons textos de excelentes blogs. Comentários são incentivos. Nem todo mundo precisa de incentivos para continuar um projeto. Mas é sempre bom.



"O autor daquele blog é alguém que, muitas vezes, passou horas escrevendo o melhor texto possível, com o objetivo de fazer você gargalhar na hora do almoço, chorar no meio da madrugada, aprender algo novo ou passar o resto do dia pensando em algo que você nunca tinha percebido antes.

E tudo o que ele quer em troca destas horas que ele usou escrevendo para você é um comentário que levará apenas um minuto para ser escrito.

Você não acha que vale a pena?"

Rob Gordon

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

De pressa

É engraçado espiar nossa própria vida naqueles raros momentos em que nos damos conta de que não temos pensado muito nela ultimamente. Pensar na vida dá preguiça; implica descobrir coisas erradas e que precisam ser mudadas. E mudar dá trabalho, gasta um tempo que nem sempre possuímos. Ou um tempo que está sendo economizado pelo próprio problema. Hoje, percebi que ando vítima da pressa.

Mas não é um problema só meu e, talvez por isso mesmo, seja um problema meu também. Quero dizer, você acaba ficando vulnerável ao meio que frequenta. É como quando você está caminhando, andando na sua marcha normal, então olha em volta e vê todo mundo correndo. Você termina acelerando um pouco, sem perceber e, quando percebe, está desembestado na correria também. Se estiver de carro, se vê buzinando pro veículo à frente poucos milésimos de segundo depois do sinal ficar verde. Se estiver andando na calçada ou no shopping, se encontra impaciente atrás de uma velhinha ou de um casal de namorados que se arrasta pra chegar ao cinema.

É meio cansativo estar sempre correndo. Não falo nem só de correr de verdade; mas da ideia de se pensar em estar sempre perdendo tempo por fazer algo aparentemente inútil: relendo um livro divertido, lendo gibi, jogando videogame ou bebendo e conversando besteira com amigos. Enquanto se poderia estar lendo algo que vá render trocas de ideias interessantes, nos mesmos encontros com amigos, ou estudando, ou trabalhando. Convenhamos, é muito cansativo.

O pior é que, nesse caso, perceber o problema não vai necessariamente me fazer tomar alguma atitude. Pressa é uma mania e, como toda, precisa de um bom motivo para se lutar contra. Mesmo porque ela é quase útil, nesse mundo em que as notícias chegam a nós quase antes do acontecimento em si. Mas seria bom um pouco de paz e diversão, para variar. Preciso desacelerar.

"Pra que tanta pressa de chegar, se eu sei o jeito e o lugar?"

Imagem: fotolia

sábado, 21 de agosto de 2010

Nostalgia

Anos depois, nos encontramos. Eu o avistei primeiro, conversando e rindo com um punhado de amigos, do outro lado da calçada. Fazia tempo, então demorei um pouco reconhecendo os traços, analisando a postura, a risada familiar. Era o mesmo som claro e descontraído de que eu me lembrava. Mas eu só tive certeza quando nossos olhares se cruzaram.
Nesse instante, senti tudo voltar. Tudo; nossos planos, nossos sonhos, as noites em claro falando ao telefone. Começávamos sussurrando, para não acordar nossos pais. Levando bronca deles a cada gargalhada alta que saía sem querer. Nunca fomos muito silenciosos, nenhum dos dois. Competíamos pela hora de falar, cada um querendo contar as novidades do dia, mesmo querendo saber do outro. E, na disputa sem sentido, acabávamos aumentando o volume da voz sem perceber. Daqui a pouco, estávamos berrando e gargalhando em plena madrugada.
Nunca fomos discretos. Éramos impossíveis, assim diziam no colégio. Achamos divertido, na época. Nossos sonhos combinavam, assim como nossos temperamentos. Adorávamos a vida, a aventura. Acreditávamos plenamente na felicidade que conquistaríamos juntos. E conquistamos, por algum tempo.
Vi você sorrir tantas vezes, naqueles dias, e vi você sorrir agora, anos depois. Era o mesmo sorriso, embora melancólico agora. Era também o mesmo sorriso que eu sabia tomar forma em meus lábios. Sorrisos de quem tem muita história e nenhum assunto. Foi recíproco, não tentamos nos falar. Apenas nos olhamos, nos reconhecemos e fomos embora. Cada um pensando em como teria sido.

"Já faz tempo, eu vi você na rua, cabelo ao vento, gente jovem reunida
Essa lembrança é o quadro que dói mais"*
Imagem: GettyImages

domingo, 15 de agosto de 2010

Figura de linguagem

Numa conversa no MSN com ZeH, sobre figuras de linguagem (não me perguntem como chegamos a falar sobre isso; só o histórico do messenger sabe), começamos a discutir sobre as figuras de que lembrávamos e procurar outras mais malucas. Dos resultados da pesquisa, as melhores foram "epizêuxis", "matiazite", "lítotes" e "zeugma". E, como em toda pesquisa inútil, nem me lembro mais pra que servem. A única lição que tiramos dessa história foi que, de acordo com figuras como o "barbarismo" e o "idiotismo" não mais se comete erros de português, faz-se uso de figuras de linguagem.

Em algum ponto da conversa, saímos do tema e passamos a reclamar da vida, como de praxe:

— Agora é moda se sentir deslocado. Um estranho na terra.

— É. A pessoa olha pro seu próprio umbigo, olha pro mundo e pensa: "esse mundo tá errado".

— Se antes a ideia era se adequar, agora cool é ser diferente, único.

— Chama-se "umbiguismo".

— É. Só mais uma figura de linguagem.

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Insanidade

Difícil mesmo é decifrar vontades e diferenciá-las daquelas obrigações que se faz tanto que se termina achando que se gosta. Somos mais felizes ou infelizes sem saber? Os pensamentos que ora rondam a minha cabeça não fazem muito sentido. E, mesmo com toda a lógica das palavras, nem mesmo o que eu falo ou escrevo faz o menor sentido.
Às vezes, me sinto um louco que foi privado do manicômio. Ou que foi privado da própria loucura, seu maior vício.

"Deixa a minha insanidade, é tudo que me resta
Só na minha voz não mexa, eu mesmo silencio"