quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015

Resenha: Pornô

Desde que comprei meu e-reader, vi muita utilidade nele. Entre elas: não carregar livros pesados para todo lado; não comprar muitos livros físicos e, finalmente: não ter que ficar respondendo a mil perguntas sobre tal livro de título ou capa estranha. No caso de Pornô, de Irvine Welsh, eu tive que respirar fundo toda vez que alguém lançava um olhar mais agudo para o título ou a capa: "Não, não é um livro erótico". Desejei várias vezes ter comprado a versão em e-book, para não ter que carregar peso, nem responder a essas perguntas.

A história é a continuação de Trainspotting, um livro que fala basicamente da vida de alguns jovens escoceses viciados em heroína. Inclusive, Trainspotting virou um filme muito interessante com Ewan McGregor e um elenco competente. Costumo brincar dizendo que juntaram Obi-Wan jovem, Sherlock Holmes (de Elementary), Rumpelstiltskin (de Once Upon a Time) e Poseidon (de Percy Jackson)* para fazer o filme.

Nesta continuação, da qual também estão gravando um filme, as drogas são meio deixadas de lado e o assunto do momento é a produção de filmes pornográficos. Dez anos se passaram e os personagens agora estão diversificando seus interesses. Não mais jovens inconsequentes, agora eles precisam pagar contas e pensão de filhos. Além dos protagonistas que já conhecemos - Sick Boy, Renton, Spud e Frank -, somos apresentados a Nikki, uma universitária britânica, que está estudando cinema na Escócia e trabalha numa casa de massagem para conseguir pagar suas contas. Termina que eles são envolvidos na produção de um filme pornográfico, produzido por Sick Boy.

Assim como em Trainspotting, ninguém avisa quem está narrando a história, mas a gente termina descobrindo pela narrativa. Para mim, essa é a mágica da série: a habilidade de Irvine Welsh de escrever várias narrativas diferentes, de maneira que faça o leitor perceber quem está narrando. E o final, claro, o final. Tem sempre alguma coisa incrível no final dos livros dele. Mal posso esperar para ler o terceiro, Skagboys, que se passa antes de Trainspotting

Pornô é um livro genial, recomendo a qualquer um que goste do estilo. Inclusive, ele poderia figurar em várias categorias do Desafio, mas acabou que coloquei na categoria "com mais de 300 páginas", porque não sei se vou conseguir ler muitos livros longos este ano.

* Eu não assisto Grey's Anatomy, mas, antes que os fãs da série me xinguem, vou adicionar a nota: Poseidon também pode ser o médico Owen Hunt.


Essa é uma resenha para o mês de fevereiro do Desafio Literário do Tigre de 2015, do blog da Tadsh: um livro com mais de 300 páginas. Para saber mais sobre o desafio, entre na fanpage ou saiba mais no blog.

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

Coisas que eu fiz nesse carnaval

- Fui direto de Olinda pro Recife Antigo.
- Dancei frevo até ter cãibra.
- Comi salsichão de almoço.
- Tirei selfie com dois Spider Men e um Superman
- Passei mal de calor.
- Abri uma roda de ciranda gigante no meio da Praça do Arsenal.
- Abri uma roda menor dentro dessa roda gigante com duas menininhas, para elas não serem pisoteadas.
- Fiz xixi só duas vezes em um dia só, mesmo bebendo cerveja o dia todo. Desidratei ou não?
- Construí um dispositivo para fazer xixi em pé.
- Caí de uma escada.
- Arrumei vários hematomas e só me lembro desse da escada.
- Dancei um ritmo de música que até hoje não sei o que é.
- Tomei Heineken em Olinda.
- Tomei duduroskas de tangerina, maçã verde e limão.
- Dancei brega.
- Tomei picolé/paleta mexicana de kiwi.
- Quase bati num idiota que quis me beijar à força.
- Encontrei na ladeira um amigo de Fortaleza que eu nem sabia que estava aqui.
- Fiquei bêbada.
- Escorreguei numa ladeira, mas não caí.
- Conheci gente muito massa.
- Comi escondidinho de charque.
- Dancei com uma amiga que estava de muleta.
- Fiquei presa na multidão do Marco Zero.
- Quase tive que entrar no meio de uma briga, para segurar um amigo.
- Segurei vela.
- Seguraram vela.
- Fui pro carnaval com um grupo e voltei com outro.
- Me perdi do grupo.
- Tomei milk shake.
- Tive dores em músculos da perna que nem sabia que eram capazes de doer.
- Comi churrasco.
- Comi vinagrete agridoce.
- Vi um arco-íris.
- Falei besteira.
- Tomei chuva.
- Gargalhei.
- Cortei o pé.
- Não me lembro de como voltei pra casa.
- Estive com as melhores pessoas do mundo. As minhas pessoas. E é disso que o carnaval é feito. Das melhores pessoas. Não importa o lugar, o calor, a chuva, a multidão, os idiotas. Só as pessoas.

"A gente ri, a gente chora e joga fora o que passou"

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015

Um pouco de confiança

Aí você faz um comentário e é criticada. OK, estamos em uma sociedade, temos regras, temos o politicamente correto, estamos susceptíveis a críticas. Mas é um saco quando isso ocorre entre os seus. Penso que, entre os seus, você pode ser quem você quiser. Falar mal de alguém, ser chata de manhã quando acorda, reclamar dos pais e reclamar da vida, que talvez nem seja tão ruim assim. Mas você está entre os seus, você sabe que vão entender seus motivos, suas reclamações, sua situação. Mas quando não é bem assim, a crítica vem e é pior que qualquer outra. Porque você se importa.

Todo mundo tem problemas e a gente sempre tenta fazer o melhor. Mas nem sempre a gente consegue; nem sempre a gente pode lidar com todas as situações da melhor maneira. Nem sempre a gente precisa. Tem hora que a vontade é de chutar o primeiro balde que aparecer e mandar tudo pra merda. É aceitável até. Ninguém precisa suportar tudo sendo uma lady. Ninguém é santo. E, mesmo que você queira fazer o certo, nem sempre você sabe com o que ele se parece.

O que eu sempre espero é um pouco de confiança. Ninguém precisa agir como você gostaria, você só espera que sim. Acontece que as pessoas têm outras vivências, outros valores, outros objetivos. Elas não lhe prometeram nada, você que teceu expectativas demais. Você tem que esperar apenas que elas façam o melhor que podem, que deem o melhor delas. E você precisa confiar, não julgar. Nem mostrar como faz. Nem interferir, achando que só você sabe o que é bom. Confiar.

Confiança está em falta. Mesmo entre os seus.

Imagem: Flickr - Creative Commons

terça-feira, 3 de fevereiro de 2015

Relato de um assassino*

É preciso ter sangue frio. Ser calculista e, acima de tudo, não se deixar abalar por sentimentalismos inúteis. As emoções não devem existir; pena, compaixão, arrependimento. A única coisa que se permite sentir pela vítima é desprezo. Talvez um prazer insano durante o ato, típico daqueles que estão acostumados a tirar vidas.

É o que sinto agora, enquanto corto cada parte de seu corpo, separando os pedaços, retalhando. É mais interessante quando é violento, sangrento. Você agoniza, mas não morre. Ainda. A lâmina afiada torna a investir contra o seu corpo, repetidamente, com força, com insistência. Minha expressão continua impassível, mesmo quando cravo os dentes na pele, estraçalhando a carne. O sangue continua a jorrar e se espalha pelo chão, manchando tudo em volta com um curioso tom de vermelho-berrante.

Um sorriso amargo surge em meu rosto. Sei que está morrendo. Quero que esteja; preciso que esteja. Apesar disso, sinto ainda o pulsar da vida dentro do corpo frágil. Cerro os dentes. Não sei mais o que fazer.

Matar você dentro de mim tem sido uma tortura. Dói mais em mim que em você.

"I've learned to live half alive"

*Texto publicado pela primeira vez em 2008