terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Sempre em frente

Estava passando por uma rua movimentada, nos confins da minha cidade, quando o vi. Era um senhor idoso; os cabelos bem brancos, raros em algumas partes da cabeça, corpo magro, rosto enrugado. Vestia uma roupa de fazer exercícios e um tênis com meias brancas. Não me chamaria maior atenção, não fosse o modo como ele caminhava. Andava curvado, ofegante, uma perna mancando ligeiramente, as mãos se movendo como se procurassem apoio. O mais incrível é que, mesmo assim, ele seguia em frente.

A calçada não era exatamente uma pista de cooper; cheia de buracos e mato crescendo em alguns locais, postes surgindo quando se menos esperava. Vi-o tropeçar uma vez e apoiar-se no primeiro poste que encontrou. Parecia extremamente cansado, como se a evidente carência de músculos na perna não fosse dar conta dos ossos e estes fossem se partir a qualquer instante. Mas não parava de andar.

Pensei nas vezes em que me senti cansada, depois de um dia de trabalho. Pensei nas tantas vezes em que me cansei da vida. Pensei até nos instantes em que a inspiração para criar me falta. A gente não consegue — nem precisa — estar feliz em todos os momentos. Aquele senhor não parecia feliz. Mas seguia sempre em frente.


"Anyway the wind blows
Doesn't really matter"

Imagem:
"Old man walking in a rye field" de Lauritz Ring

quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

Natais passados

É triste ouvir tanta gente dizer que não gosta do dia de Natal. Até entendo que a magia que existia quando a gente era criança tenha ido embora. Entendo que não exista mais a espera do bom velhinho da sacola de presentes. Entendo que montar a árvore, colocar a meia na janela não tenha mais tanta graça quanto antes. Entendo. Eu também sinto isso, a velha melancolia dos Natais passados.

Véspera de Natal. Lembro-me de que, nesse dia, a gente já ficava de olho nas sacolas vermelhas, embaixo da árvore da minha avó, procurando uma etiqueta com o nosso nome. Presentes de toda família num pacote só. Eram Natais mágicos, aqueles. O de esperar os guizos tocarem e cair no sono antes disso. De assistir o especial da Xuxa, sonhar com o dia seguinte. E acordar com um presente aos pés da cama.

O Natal acabou só porque nós crescemos? O sentido se perdeu? Fico pensando o quanto o sentido do Natal tem a ver com acreditar em Papai Noel. Não devia ser assim. Hoje é, sim, um dia especial, porque é o aniversário daquele que morreu para nos salvar. Um Feliz Natal para todos aqueles que acreditam.


"When it seems the magic slipped away
We find it all again on Christmas Day
Believe."

Imagem por: Fotolia

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Problemas técnicos

Amigos, alguns devem estar achando estranho o fato de todos os comentários terem sumido, mas é que houve um problema com o sistema de comentários que eu usava e tive que voltar às pressas para o sistema original do blogger. Ainda consegui salvar todos os comentários e estou, aos poucos, arrumando tudo em seus devidos lugares, mas acabei perdendo os links com os endereços de cada um.

Alguns, eu já acompanhava e sei de cor; outros eram novos e eu, infelizmente, não assinei o feed, nem pude retribuir a visita a tempo. Peço a essas pessoas que, se porventura voltarem aqui, me perdoem. E, claro, deixem um recado com os endereços.

Beijos a todos!

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Pela janela


Passarinhos passeiam toda manhã, pela minha janela. Voejando, cantando, beijando as fartas flores cor-de-rosa da árvore ali em frente. Consigo sorrir àquela visão, mesmo sendo bem cedo, mesmo estando bem quente, com bastante trabalho a me esperar. Mas como me privar de sorrir, se eles parecem pedir para que eu sorria?
Vejo-os ali, empoleirados nas fiações do poste, como numa fila, como esperando que cada um tivesse sua vez junto às flores. E voam, um por um, de dois em dois, bando em bando, e todo o resto aguardando nos fios de energia. Numa barulheira animada, de quem espera horas e reclama: "vai logo, ô, tartaruga!", mas sem se incomodar realmente com a demora. Afinal, que pressa eles poderiam ter, se não tem trânsito para pegar, contas para pagar? E se o trabalho deles é apenas beijar aquelas flores? Eu penso… Talvez só estejam reclamando do intenso calor.
O sol que tem feito me levou a desejar chuva. A chuva veio, de fato, e os passarinhos foram-se embora. Não voltaram, nem quando a chuva se foi; a elegante árvore das flores cor-de-rosa foi derrubada, com o temporal. E, agora, toda manhã eu suspiro: onde estarão meus passarinhos?

"Quero ver você voando
Quero ouvir você cantando
Quero paz no coração"*
 *Música: Canta coração