quarta-feira, 26 de maio de 2010

For no more farewell

Há não muito tempo, o vi sofrer como nunca antes. E o sofrimento dele doeu em mim como uma dor física, como um punhal atravessando meu peito, como um nó na garganta impedindo a voz de sair. Naquele dia, pensei que, se pudesse, roubaria todas as dores dele só para não vê-lo daquele jeito nunca mais. Só para vê-lo fazer as mesmas brincadeiras de antes. Só para vê-lo sorrir outra vez.

Esperei dias por aquele sorriso. Várias vezes tentei provocá-lo, sem muito sucesso. Conseguia, por vezes, um riso pela metade, uma semigargalhada, mas não aquela sincera e contagiante. Não havia mais as risadas no almoço ou as chateações na hora do jantar. Ou a "xepa" da madrugada. Uma das minhas alegrias havia sumido sem deixar pistas. Achei que talvez ele houvesse finalmente crescido e que, então, nunca mais sorriria daquela maneira.

O tempo foi passando e as feridas cicatrizando. Algo mudou, claro, algo sempre muda. A tristeza ainda não foi embora. Talvez nunca se vá. Mas ele continua com aquele jeito divertido e imaturo de fazer piada até quando não é necessário. Foi um período de sombras, difícil. Mas ele ainda sorri como antes. E eu também.

"Staring up to the clouds above
Children - so little and sad...
Brother, tell me where have you been"

Imagem: stock.xchng

segunda-feira, 24 de maio de 2010

Por medo


Tinha medo de não ser aquilo que ele esperava

Terminou não sendo nada

Por medo.


"I am not afraid to try it on my own"

quarta-feira, 12 de maio de 2010

Um mundo em duas palavras

Ele era o tipo de pessoa que só dizia o necessário. Ela, pelo contrário, falava tanto que dizia até mesmo o que não devia. Eram diferentes, ao mesmo tempo em que se completavam. Os intermináveis monólogos dela preenchiam os momentos de silêncio em que ele tentava não pensar nos próprios problemas. E ria das queixas dela, das histórias, do sarcasmo. Sorria, quando devia estar aborrecido com os acontecimentos do dia. Engraçado que nunca tinha sido um bom ouvinte, mas descobrira que a voz dela o acalmava como nenhum outro tranquilizante.
Ela sabia que ele não era de muitas palavras, mas não porque não tivesse o que dizer. Sabia, porque ele opinava algumas vezes, quando discordava de uma colocação qualquer, ou quando falava sobre alguma coisa que precisava ser resolvida. Mas geralmente deixava que ela falasse. Ela nunca tinha certeza se ele estava realmente ouvindo, mas seus olhos eram sempre atentos. Ele sabia que ela descarregava as preocupações falando, que conseguia um alívio momentâneo, mesmo que não pensasse realmente tudo o que deixava escapar. E, por isso, ele ouvia. Sem mudar de assunto, sem interromper.
Às vezes, ela achava que o chateava com a falação constante. Certo dia, encontrou-o com olhar tão distante que, no nervosismo de tentar fazê-lo sorrir, desandou a falar demais. Depois, considerou que devia ter perguntado se ele queria dizer algo. Sabia que ele era uma pessoa de poucas palavras, mas falaria com ela, se precisasse. Certo?
Neste dia, torturou-se tanto que jurou por tudo ficar calada por um mês inteiro. Então percebeu um pequeno bilhete grudado na geladeira, escrito em post it amarelo. Apenas duas palavras:
Elas bastavam.

"More than words to show you feel
That your love for me is real"*
*Música: More than words

quarta-feira, 5 de maio de 2010

Eu não sou daqui

Olho pros lados

e tenho certeza.

Dúvida:

Será que

somente eu vejo?

Se não sou diferente

Por que

ninguém mais

parece enxergar?

Por que,

sem mais,

tudo passa?

Nenhum grito,

nenhuma palavra

Sinal de fumaça

Sou

certamente

de outro lugar

de outro planeta

Ou do mar...


"Minha vida é diferente da sua
Estou aqui de passagem
Este mundo não é meu"