Já tinha assistido ao filme de
Kubrick, há alguns anos, e sempre pensava em ler o livro, mas ficava de ler,
ficava de leeer e nunca colocava o plano em prática. Está certo que eu nem
tinha o dito-cujo, mas isso era fácil de arranjar. Certo dia, fui à livraria e
vi essa edição linda e fiquei louca, pensando seriamente em comprar. Terminei
comprando mesmo, só que de presente para um amigo, de aniversário. Confiava o
bastante no livro, afinal o filme já era genial. Então, apareceu a oportunidade
para ler, no desafio, e eu peguei emprestado do meu namorado e li. Não a edição
linda, pela qual me apaixonei, mas foi uma edição legal; com um prefácio legal, nota do tradutor e o
glossário atrás. Mas eu não o usei. Não muito. Não a hora toda. OK, só algumas
palavras.
Laranja Mecânica, de Anthony
Burgess, é uma história narrada por Alex, um adolescente vivendo num ambiente futurista,
com gírias próprias e uma tendência grande à violência. Quando Alex é preso,
ele vira uma cobaia do governo numa experiência de lavagem cerebral e suposta "cura" da violência. A quem já viu o filme, não tenho muito mais a dizer; não é um
daqueles livros cujo filme muda tudo e faz uma bagunça com a timeline da história. Pelo contrário, o filme enriquece ainda mais a obra, como se ela já não fosse rica o suficiente. Tirando uns poucos detalhes, como a idade de Alex,
o protagonista, e seus amigos (no livro, eles têm uns 15, 16 anos; no filme também, mas Malcom McDowell tinha 28 quando interpretou Alex), assim como
o final da história, o filme só tem mesmo a acrescentar.
Sobre o final da história, como
fiquei sabendo no prefácio, há uma explicação para ter sido diferente. A edição
britânica, e original, do livro tem 21 capítulos. Nos EUA, o livro foi
publicado com 20 apenas; e foi esta versão que acabou virando filme. Alegaram
que "por razões conceituais", o final original mais "otimista" não fazia sentido. Pessoalmente,
eu gosto mais do final americano; mas entendo o final de Burgess. Entendo o
motivo de ele ter escrito o final daquela maneira, de que o livro inteiro trata da passagem de Alex da adolescência para a idade adulta e que essa maturidade só se completa com o último capítulo. Para o contexto todo, de amadurecimento
do personagem, acho justo os 21 capítulos. Mas, como história, e excluindo toda
a questão que Burgess quis abordar, prefiro
o final do filme. Poderia destrinchar mais um pouco o meu pensamento, mas não
encontrei uma maneira de fazer isso sem ser spoiler;
ainda mais porque eu teria que falar sobre o último capítulo, o que só existe
no livro, que nem todo mundo que gosta do filme leu. Então, vamos considerar
apenas que prefiro o final do filme.
O livro, assim como o filme, é estranho
e viciante. Tem aqueles neologismos, as gírias nadsat, que são muito mais complicadas quando você está lendo, do
que no filme, quando se tem imagens para ajudar a entender. Mas, depois que
você pega o embalo, a coisa flui muito rápido. E você fica com aquelas palavras
na cabeça durante bastante tempo. Como se o estranhamento tivesse
passado e, de uma hora para a outra, você estivesse naquele mundo. Aquele
estranho mundo, num futuro estranho, com palavras estranhas. “As queer as a
clockwork orange.”
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Esta é uma resenha para o Desafio Literário do Tigre 2014, do blog Elvis Costello Gritou Meu Nome. O tema de Março é "Filme ou Livro": ler e resenhar um livro do qual você já tenha visto o filme, fazendo as devidas comparações. Para saber mais sobre o desafio, entre na fanpage ou saiba mais no blog.