Meias, toalha, escova de dente... Estava tudo ali. Desistira de levar a boneca no momento em que tocara seus braços de pano e os sentira frágeis. Não sobreviveria, aqueles olhos azuis de botão, os cabelos de lã castanha. Não seria feliz longe dali. Ela, sim, era forte, era de carne e osso. Não podia levar nada consigo, apenas o necessário. A boneca não era mais necessária; servia apenas para amenizar a solidão. Não precisaria dela aonde estava indo.
Não pensou em nada, enquanto descia as escadas, contando os degraus, como de hábito. Mas sonhava com a liberdade havia muito tempo. Uma vez fora daquela casa, seria tão livre quanto jamais sonhara. Nada mais de todo mundo lhe dizendo o que fazer, o que comer, o que vestir. Aonde não ir, quando e com quem não sair, mantendo-a presa como em uma jaula. Um bicho selvagem numa jaula. Sem nunca sorrir. Precisava partir naquele instante.
Não queria pensar em ninguém, enquanto pulava a janela da sala. Mas, intimamente, sabia que daria tudo para ver a cara dos pais tão ausentes quando, provavelmente dias depois, sentissem a sua falta e descobrissem que ela não estava mais lá. Estava livre.
"She's leaving home after living alone
For so many years..."
#MemeDasAntigas: Dia 15/12 – Em 2010 eu pensei em fugir para...
Imagem: GettyImages
4 comentários:
hauahuahaua
seria cômico se não fosse trágico.
beijinho***
Entre as melhores músicas já feitas, a que vc escolheu para sua trilha (e que deve ter inspirado, em parte, seu conto)
Mas a gente nunca está livre, né?
Para responder à sua pergunta: plantão de jornalismo. sou jornalista, trabalho sábado e domingo esperando alguma coisa acontecer para eu escrever hehe
(sempre q venho no seu blog durante o #Memedasantigas fico com inveja de vc conseguir responder com contos, como eu queria mas não tenho tempo...)
Excelente!
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