É engraçado espiar nossa própria vida naqueles raros momentos em que nos damos conta de que não temos pensado muito nela ultimamente. Pensar na vida dá preguiça; implica descobrir coisas erradas e que precisam ser mudadas. E mudar dá trabalho, gasta um tempo que nem sempre possuímos. Ou um tempo que está sendo economizado pelo próprio problema. Hoje, percebi que ando vítima da pressa.
Mas não é um problema só meu e, talvez por isso mesmo, seja um problema meu também. Quero dizer, você acaba ficando vulnerável ao meio que frequenta. É como quando você está caminhando, andando na sua marcha normal, então olha em volta e vê todo mundo correndo. Você termina acelerando um pouco, sem perceber e, quando percebe, está desembestado na correria também. Se estiver de carro, se vê buzinando pro veículo à frente poucos milésimos de segundo depois do sinal ficar verde. Se estiver andando na calçada ou no shopping, se encontra impaciente atrás de uma velhinha ou de um casal de namorados que se arrasta pra chegar ao cinema.
É meio cansativo estar sempre correndo. Não falo nem só de correr de verdade; mas da ideia de se pensar em estar sempre perdendo tempo por fazer algo aparentemente inútil: relendo um livro divertido, lendo gibi, jogando videogame ou bebendo e conversando besteira com amigos. Enquanto se poderia estar lendo algo que vá render trocas de ideias interessantes, nos mesmos encontros com amigos, ou estudando, ou trabalhando. Convenhamos, é muito cansativo.
O pior é que, nesse caso, perceber o problema não vai necessariamente me fazer tomar alguma atitude. Pressa é uma mania e, como toda, precisa de um bom motivo para se lutar contra. Mesmo porque ela é quase útil, nesse mundo em que as notícias chegam a nós quase antes do acontecimento
"Pra que tanta pressa de chegar, se eu sei o jeito e o lugar?"
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