quinta-feira, 19 de setembro de 2013

Egoísta

Hoje comecei a me perguntar se estou fazendo as coisas pelos motivos certos. E percebi que, depois de a vida me dar tanto caldo, terminei ficando um pouco egoísta. Ou melhor, terminei me dando o direito de ser egoísta. Porque eu já era, mas tinha vergonha. Agora, sinto que não é errado pensar em si, em ter uma boa vida, se você lutou tanto por isso. Não falo em passar por cima de ninguém; apenas de cuidar da própria vida, pensar em ter um bom salário. Em não ter vergonha de cobrar um preço que valha o seu esforço, seu estudo. Sem viver fazendo caridade, pensando que receber dinheiro por um trabalho é errado.

É muito desse pensamento que existe nas profissões de saúde. Você é ensinado a fazer bem um trabalho, a trazer saúde para alguém; mas nunca ensinam a receber com orgulho por isso. As faculdades nos ensinam a ser idealistas e fazer saúde pelo prazer de curar. É lindo isso e não censuro. Mesmo porque vejo que, mesmo com esses belos ensinamentos, muitas pessoas saem de lá pensando em ficar ricos.

O problema está em não ensinar nada sobre gerenciamento, impostos, gastos. Saímos da faculdade achando que vamos mudar o mundo e acabamos sem um centavo, pensando no que podemos ter feito de errado. Porque cobrar é errado e cobrar acima da concorrência é mais errado ainda, mesmo que sua estrutura seja de primeira qualidade, que os materiais sejam os melhores, que você gaste pequenas fortunas em tecnologia e funcionários. É errado trocar saúde por dinheiro. Você diz o preço de um trabalho com a cabeça baixa, já pensando no desconto que pode fazer, com vergonha de precisar receber por isso. Levei muito tempo — um curso de gestão e muito tempo — para entender que isso daí é que é errado. Tive que refazer totalmente a minha cabeça para entender que é justo receber por um trabalho. Que eu tenho dívidas, contas, como todo mundo. Uma vida, como todo mundo.

Faz alguns anos que decidi assumir meu lado egoísta. Eis que hoje, sei lá por que, me peguei pensando se faço isso pelos motivos certos. Se é que existe um motivo certo, ou minhas ideologias é que o fazem ser certo. E acho que vem aí toda uma reflexão pela frente, que não consegui ainda colocar em palavras, porque me preocupei mais em justificar o meu egoísmo. Reflexão que eu tinha a esperança de colocar neste texto, mas não tive sucesso. Talvez no próximo.

Imagem: GettyImages

terça-feira, 3 de setembro de 2013

Não aprendi a dizer adeus

Cada partida, um parto. Nunca fui boa com despedidas, desde a época em que minha mãe me deixava na escola. Cada uma daquelas partidas, todos os dias, dois corações partidos: o meu e o dela. Logo esquecidos pelos afazeres de estudante, ou pelo estresse do trabalho. Com o tempo, tornou-se mais simples e menos doloroso.

No decorrer da vida, são várias as partidas. Algumas para sempre. A gente aprende a conviver, esperando pelo dia em que elas se tornem mais fáceis. Ou, pelo menos, distantes. Ou menos dolorosas. Porque a volta quase nunca é tão certa como o adeus. E a única certeza que temos é que sempre haverá mais um. O último.

E sempre que ele vai embora, uma dor nova, logo esquecida. Ou substituída pela saudade.

"Mas deixo você ir sem lágrimas no olhar..."
Imagem: GettyImages