terça-feira, 16 de julho de 2013

Resenha: A Obscena Senhora D

Quase me envergonho de ter demorado tanto tempo para acabar de ler este livro: ele tem só 90 páginas. Fora que é aquele tipo de livro sem capítulos, escrito num fluxo incessante de pensamentos, que torna difícil retomar a leitura, depois de interrompida, mesmo que por apenas alguns minutos. O problema é que essas interrupções aconteceram com bastante freqüência, esses dias. Coisas da vida.

A história é sobre Hillé, ou senhora D. D de “derrelição”, ou abandono, solidão. É uma mulher de 60 e tantos anos que perdeu o marido e — não se sabe se por isso ou pela própria personalidade dela — começou a apresentar sinais de insanidade, chegando a assustar os vizinhos. E a senhora D passa o livro divagando, fazendo questionamentos e considerações sobre a vida; às vezes bem malucos, mas bastante interessantes. Uma mulher incomum para a época, uma mulher que pensava e, mesmo quando ainda era jovem e sã, acabava por afastar as pessoas, por causa das suas incômodas perguntas sobre o sentido da vida.

A maior dificuldade na leitura era descobrir quem diabos estava falando, naquele momento; se a senhora D, o marido dela, o pai, os vizinhos, Deus... Os vizinhos eram os mais fáceis; eles não eram adeptos de grandes filosofias, ao contrário do resto. Como bem disse a pessoa que fez a sinopse da edição que eu li, há uma grande economia de recursos na escrita. O que eu devia odiar, visto que adoro textos bem redondinhos, parágrafos, travessões, parênteses. Mas terminou que eu achei uma das grandes sacadas. Não apenas ficou um formato interessante — uma coisa meio “poesia em prosa” —, como também ilustrou a loucura da personagem principal. Como se tudo se passasse dentro da cabeça dela, numa confusão que só faz aumentar ao longo do livro. A narrativa e o livro inteiro terminam sendo tão loucos quanto ela.

Então, você inicia o livro meio tonto e sem entender nada de nada. E talvez passe boa parte do livro assim. E vai embarcando nas loucuras e bizarrices da senhora D, rindo dos palavrões, achando graça dos sustos que levavam os vizinhos, nas vezes que ela abre a janela. Até perceber que é uma história bem triste. Sobre derrelição, ou abandono, solidão.

Essa foi a minha primeira experiência com Hilda Hilst e eu só fiquei pensando se os outros livros dela são tão tristes e loucos quanto este. Pelo sim ou pelo não, pretendo procurar outros dela, porque achei fantástico.

* A todos aqueles que acham que o Brasil não tem escritores excelentes, vale lembrar que ela é brasileira.

5 comentários:

Mói de Fichas disse...

Lesse por alguma indicação? Se sim, devias jurar amor eterno por tanta consideração. Prova de amor pura, se foi indicacão huahue

Marina disse...

Metido ¬¬'

Andréia Pires disse...

Quanto teeeempo que eu não via um post teu! Hilst é tri. :)

Bruno Portella disse...

Nunca li Hilst, parece bom pelo que disse. Vou buscar algo pra conhecer.

Our Brave New Blog disse...

Com esse nome eu jamais imaginaria que ela seria brasileira gente... Gostei muito da sua resenha. Confesso que amo personagens "problemáticos" e principalmente quando um autor joga milhões de informações na nossa cara como forma de transmitir o fluxo de pensamentos, às vezes conturbado, que o protagonista possa ter.
Fiquei muito interessada!! Vou dar uma procurada por ele depois :)

(Carol)