Já tinha lido um livro de
Hemingway, antes de ganhar este de presente de dia dos namorados do abuso da
minha vida, no ano passado. É daqueles livros que você termina em um dia e,
diferente d’A Obscena Senhora D, eu
acabei em um dia mesmo. Mas também, apesar do livro de Hilst ser meio
“vomitado”, o de Hemingway, assim como todos os livros dele, tem a
característica única de ser incrivelmente fluido.
O velho e o mar conta a história de uma única pescaria, na vida de
um velho pescador. Não conta a história da vida do pescador, mas de um dia
específico em que ele sai para pescar e esta se torna a pescaria mais
importante da vida dele, em que ele passa dias lutando contra um só peixe.
Depois de vários meses voltando para casa sem peixe nenhum, o velho e
experiente pescador tinha ficado desacreditado no vilarejo e apenas uma única pessoa,
um menino, ainda acreditava nele. E, sempre com o pensamento em não desapontar
o menino, o velho partiu em sua pescaria, prometendo a si mesmo — e ao menino —
pegar o maior peixe jamais visto.
Se qualquer um fosse escrever
essa história, não conseguiria encher duas páginas, além do que aposto que
ficaria uma porcaria. É o que eu pensei, antes de começar a ler: sério que o
livro inteiro é a narração de uma única pescaria? Inexplicavelmente, Hemingway
leva 126 páginas discorrendo sobre a pescaria, os temperamentos do mar, o
sofrimento físico do velho, a solidão no barco, algo sobre beisebol... E só. E
até agora, não sei como eu cheguei ao final do livro sem que ele tenha ficado
entediante. Ele não foca na personalidade de ninguém, nem comenta sobre a vida
do velho antes daquela pescaria. É só aquele momento e a luta entre o velho e o
peixe. Fora que o velho é uma pessoa bem humilde e não se detém em divagar
sobre a vida, o universo e grandes pensamentos filosóficos. Apenas o beisebol,
que ele acompanha através de jornais velhos e do menino.
Então, se você espera grandes acontecimentos
deste livro, esta é apenas a história de uma pescaria e um homem que viveu para
aquele ofício. E a beleza dele. E a escrita inigualável de Hemingway, que, como
sempre, não consegue ser ignorada.
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