A história é sobre Hillé, ou
senhora D. D de “derrelição”, ou abandono, solidão. É uma mulher de 60 e tantos
anos que perdeu o marido e — não se sabe se por isso ou pela própria
personalidade dela — começou a apresentar sinais de insanidade, chegando a
assustar os vizinhos. E a senhora D passa o livro divagando, fazendo
questionamentos e considerações sobre a vida; às vezes bem malucos, mas bastante interessantes. Uma mulher incomum para a época, uma mulher que pensava
e, mesmo quando ainda era jovem e sã, acabava por afastar as pessoas, por causa
das suas incômodas perguntas sobre o sentido da vida.
A maior dificuldade na leitura era descobrir quem diabos estava falando, naquele momento; se a senhora
D, o marido dela, o pai, os vizinhos, Deus... Os vizinhos eram os mais fáceis;
eles não eram adeptos de grandes filosofias, ao contrário do resto. Como bem
disse a pessoa que fez a sinopse da edição que eu li, há uma grande economia de
recursos na escrita. O que eu devia odiar, visto que adoro textos bem
redondinhos, parágrafos, travessões, parênteses. Mas terminou que eu achei uma
das grandes sacadas. Não apenas ficou um formato interessante — uma coisa meio
“poesia em prosa” —, como também ilustrou a loucura da personagem principal.
Como se tudo se passasse dentro da cabeça dela, numa confusão que só faz
aumentar ao longo do livro. A narrativa e o livro inteiro terminam sendo tão
loucos quanto ela.
Então, você inicia o livro meio
tonto e sem entender nada de nada. E talvez passe boa parte do livro assim. E
vai embarcando nas loucuras e bizarrices da senhora D, rindo dos palavrões,
achando graça dos sustos que levavam os vizinhos, nas vezes que ela abre a
janela. Até perceber que é uma história bem triste. Sobre derrelição, ou
abandono, solidão.
Essa foi a minha primeira
experiência com Hilda Hilst e eu só fiquei pensando se os outros livros dela
são tão tristes e loucos quanto este. Pelo sim ou pelo não, pretendo procurar
outros dela, porque achei fantástico.
* A todos aqueles que acham que o Brasil não tem escritores excelentes, vale lembrar que ela é brasileira.
* A todos aqueles que acham que o Brasil não tem escritores excelentes, vale lembrar que ela é brasileira.
5 comentários:
Lesse por alguma indicação? Se sim, devias jurar amor eterno por tanta consideração. Prova de amor pura, se foi indicacão huahue
Metido ¬¬'
Quanto teeeempo que eu não via um post teu! Hilst é tri. :)
Nunca li Hilst, parece bom pelo que disse. Vou buscar algo pra conhecer.
Com esse nome eu jamais imaginaria que ela seria brasileira gente... Gostei muito da sua resenha. Confesso que amo personagens "problemáticos" e principalmente quando um autor joga milhões de informações na nossa cara como forma de transmitir o fluxo de pensamentos, às vezes conturbado, que o protagonista possa ter.
Fiquei muito interessada!! Vou dar uma procurada por ele depois :)
(Carol)
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