Ele era o tipo de pessoa que só dizia o necessário. Ela, pelo contrário,
falava tanto que dizia até mesmo o que não devia. Eram diferentes, ao
mesmo tempo em que se completavam. Os intermináveis monólogos dela
preenchiam os momentos de silêncio em que ele tentava não pensar nos
próprios problemas. E ria das queixas dela, das histórias, do sarcasmo.
Sorria, quando devia estar aborrecido com os acontecimentos do dia.
Engraçado que nunca tinha sido um bom ouvinte, mas descobrira que a voz
dela o acalmava como nenhum outro tranquilizante.
Ela sabia que ele não era de muitas palavras, mas não porque não tivesse
o que dizer. Sabia, porque ele opinava algumas vezes, quando discordava
de uma colocação qualquer, ou quando falava sobre alguma coisa que
precisava ser resolvida. Mas geralmente deixava que ela falasse. Ela
nunca tinha certeza se ele estava realmente ouvindo, mas seus olhos eram
sempre atentos. Ele sabia que ela descarregava as preocupações falando,
que conseguia um alívio momentâneo, mesmo que não pensasse realmente
tudo o que deixava escapar. E, por isso, ele ouvia. Sem mudar de
assunto, sem interromper.
Às vezes, ela achava que o chateava com a falação constante. Certo dia,
encontrou-o com olhar tão distante que, no nervosismo de tentar fazê-lo
sorrir, desandou a falar demais. Depois, considerou que devia ter
perguntado se ele queria dizer algo. Sabia que ele era uma pessoa de
poucas palavras, mas falaria com ela, se precisasse. Certo?
Neste dia, torturou-se tanto que jurou por tudo ficar calada por um mês
inteiro. Então percebeu um pequeno bilhete grudado na geladeira, escrito
em post it amarelo. Apenas duas palavras:
Elas bastavam.
Elas bastavam.
"More than words to show you feel
That your love for me is real"
Texto publicado em 2010.
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