No balcão do bar,
ela chorava e ninguém entendia o que se passava. Fora largada ali mesmo
por causa do seu mais insistente defeito. Mais incômodo.
Era
recorrente: de repente, no meio de uma conversa qualquer, ela
simplesmente se distraía com o som de um passarinho, ou de uma melodia
ambiente. Era estranha a relação que ela tinha com a música. Nunca
aprendera nenhum instrumento. Nunca teve talento para canto. Ela apenas
tinha um apreço pela música que era acima do normal. E estaria tudo bem,
se não interferisse na sua vida.
O
problema era que, às vezes, estava realmente fazendo coisas
importantes, quando se distraía com algum acorde. Às vezes, estava ouvindo uma ordem de seu chefe e o celular
de alguém começava a tocar. Música. Perdia o resto da explicação.
Terminava cometendo um punhado de erros, sem nem perceber. Agora, tinha
sido o namorado, que começara uma briga quando, enquanto contava algo de
seu dia, percebeu que ela não mais prestava atenção. E foi embora,
deixando-a sozinha.
Ela
sofria, enquanto considerava. Os namoros nunca duravam. Agora, no bar,
uma ou duas doses de whisky depois, ela chorava a recente decepção.
Então ouviu o som, o mesmo que a distraíra momentos antes. Não era mais
música; naquele seu nível de tristeza, parecia mais que isso. Era lindo.
À medida que as notas prosseguiam, sua tristeza ia diminuindo. E ela
soube: havia um motivo pelo qual a música a distraía tanto. Nunca
encontrara nada tão lindo quanto ela; nem a voz do chefe, nem o
ex-namorado. Nem a dor era tão linda. Esqueceu-os.

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*Texto publicado pela primeira vez em fevereiro de 2011
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