É
preciso ter sangue frio. Ser calculista e, acima de tudo, não se deixar
abalar por sentimentalismos inúteis. As emoções não devem existir;
pena, compaixão, arrependimento. A única coisa que se permite sentir
pela vítima é desprezo. Talvez um prazer insano durante o ato, típico
daqueles que estão acostumados a tirar vidas.
É
o que sinto agora, enquanto corto cada parte de seu corpo, separando os
pedaços, retalhando. É mais interessante quando é violento, sangrento.
Você agoniza, mas não morre. Ainda. A lâmina afiada torna a investir
contra o seu corpo, repetidamente, com força, com insistência. Minha
expressão continua impassível, mesmo quando cravo os dentes na pele,
estraçalhando a carne. O sangue continua a jorrar e se espalha pelo
chão, manchando tudo em volta com um curioso tom de vermelho-berrante.
Um
sorriso amargo surge em meu rosto. Sei que está morrendo. Quero que
esteja; preciso que esteja. Apesar disso, sinto ainda o pulsar da vida
dentro do corpo frágil. Cerro os dentes. Não sei mais o que fazer.
Matar você dentro de mim tem sido uma tortura. Dói mais em mim que em você.
"I've learned to live half alive" |
*Texto publicado pela primeira vez em 2008
2 comentários:
Talvez esta seja uma das mais difíceis e dolorosas forma de matar alguém: "matar alguém dentro de você".
No fim alguma coisa acaba morrendo.
Postar um comentário