Quando ouvi dizer que o Muro de Berlim caíra, minha primeira reação foi de alívio; mas então pensei: e se existisse uma jovem que passou anos — metade da sua vida — pintando naquele muro?
Pintando uma mensagem, ou uma imagem.
Se todas as manhãs ela se levantasse bem cedo, fosse até lá e pintasse um ou dois traços no muro. Todos os dias, na chuva, no frio, às vezes até no escuro. Era seu grito contra a opressão. Seu protesto contra o muro.
Ela estava quase terminando quando tudo foi demolido.
As pessoas poderiam ir e vir livremente. O muro contra o qual ela protestava não existia mais, assim como sua criação, desfeita em pedaços, vendida a um colecionador particular...
Tento imaginar como ela se sentiu. Espero que não tenha ficado desanimada.
Eu teria ficado.
*Trecho do livro Sinal e Ruído, de Neil Gaiman.
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