
É muito desse pensamento que
existe nas profissões de saúde. Você é ensinado a fazer bem um trabalho, a
trazer saúde para alguém; mas nunca ensinam a receber com orgulho por isso. As
faculdades nos ensinam a ser idealistas e fazer saúde pelo prazer de curar. É
lindo isso e não censuro. Mesmo porque vejo que, mesmo com esses belos
ensinamentos, muitas pessoas saem de lá pensando em ficar ricos.
O problema está em não ensinar
nada sobre gerenciamento, impostos, gastos. Saímos da faculdade achando que
vamos mudar o mundo e acabamos sem um centavo, pensando no que podemos ter
feito de errado. Porque cobrar é errado e cobrar acima da concorrência é mais errado
ainda, mesmo que sua estrutura seja de primeira qualidade, que os materiais
sejam os melhores, que você gaste pequenas fortunas em tecnologia e
funcionários. É errado trocar saúde por dinheiro. Você diz o preço de um
trabalho com a cabeça baixa, já pensando no desconto que pode fazer, com
vergonha de precisar receber por isso. Levei muito tempo — um curso de gestão e
muito tempo — para entender que isso daí é que é errado. Tive que refazer
totalmente a minha cabeça para entender que é justo receber por um trabalho.
Que eu tenho dívidas, contas, como todo mundo. Uma vida, como todo mundo.
Faz alguns anos que decidi
assumir meu lado egoísta. Eis que hoje, sei lá por que, me peguei pensando se
faço isso pelos motivos certos. Se é que existe um motivo certo, ou minhas
ideologias é que o fazem ser certo. E acho que vem aí toda uma reflexão pela
frente, que não consegui ainda colocar em palavras, porque me preocupei mais em
justificar o meu egoísmo. Reflexão que eu tinha a esperança de colocar neste
texto, mas não tive sucesso. Talvez no próximo.
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