Ali adiante: uma casa. Casa
grande, rodeada de árvores frutíferas. Em boas épocas, podia-se ver a mangueira
carregada, muitos cachos de jambo, goiabas enormes e o chão repleto de
azeitonas roxas que se espatifavam de maduras. As lagartas-de-fogo infestavam o
cajueiro, à procura de cajus maduros. Em época de aulas, terminava o dever de
casa rápido e brincava de subir nas árvores. Nas férias, a brincadeira começava
mais cedo. Lembro bem de todas aquelas árvores altas, iluminadas por um dia de
sol. Mas me encantavam especialmente as gotas de chuva pingando das folhas
verde-claras e o tronco escuro e escorregadio do pé de carambola.
Havia um campo de areia fina e cinzenta.
Quando chovia, formava uma poça enorme cor-de-lodo que nunca atrapalhou os
jogos de queimado, mas que fazia o estoque de remédio para bicho de pé na casa
aumentar. Quando era tempo de sol, marcávamos campeonato de vôlei nas
sextas-feiras à noite. Ou jogos de futebol de areia nas tardes de férias. Ou
campo minado, enterrando mini-bexigas coloridas cheias de água, antes de
brincar de barra-bandeira, só de sacanagem.
Havia também um parquinho,
instalado quando eu tinha pouco menos que três anos de idade. Era todo
colorido, uma gangorra azul, um balanço verde, um escorregador vermelho. Foi
palco de muitas brincadeiras, com os irmãos, os primos, os vizinhos e os amigos
de escola. A gangorra quebrou, depois de alguns anos de uso e uns quilos a mais
de cada lado. O escorregador oxidou, depois de alguns anos de chuva. O balanço
resistiu ao tempo e funcionava bem, apenas rangia demais, na última vez em que
tentei balançar, antes de ir embora para sempre.
Ali adiante: uma árvore, um balanço, um campo de areia. O cenário de uma infância que foi feliz, mesmo que todas aquelas cores tenham desbotado com o passar do tempo.
"All alone with the memory
Of my days in the sun"*
Imagem: stock.xchng
Música: Memory
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