quinta-feira, 5 de março de 2009

Compre um gato

Há algum tempo eu tenho estado meio estressada. Os motivos não importam; mas penso que não tem como você permanecer com todo o bom humor do meu Brasil, nessas condições. Quem me conhece sabe que eu não costumo ser uma pessoa mal educada, mesmo sob pressão, ainda mais com mais velhos. Mas esta semana eu tive uma vontade absurda de ser.

Minha mãe também anda bem estressada, possivelmente com as mesmas preocupações que eu e um pouco mais. E ela é de falar pelos cotovelos dos problemas dela. Até aí, tudo bem. Ela foi falar com uma senhora que eu sempre achei legal, mas que é cheia dos conceitos de certo e errado. Gente com muitos conceitos costuma ser um pé no saco, quando se intromete na sua vida. Acontece que, quando alguém fala de seus problemas, imediatamente concede direitos aos ouvintes a darem opiniões. Até aí, tudo bem, pois eu não falo dos meus problemas e não concedo direitos a ninguém, então minha vida continuaria intacta. Mas parece que não é todo mundo que pensa assim.

Sim, porque naquele momento a senhora vira-se para mim e pergunta, em tom de indignada censura:

— E por que você não ajuda a sua mãe?

Certo, eu não estava num bom dia. Foi um erro grave dela se dirigir à minha pessoa quando o sol ainda nem estava alto o suficiente pra meu sono estar suportável. Como assim não ajudo? E o que a leva a pensar que eu não faço merda nenhuma nessa vida? O que ela sabe sobre mim para vir me dar lição de moral? Mil coisas me passaram pela cabeça, mas minha educação falou mais forte e eu, ensaiando um ar de desdém, disse o mais brando dos meus pensamentos:

— Porque eu não tenho tempo.

Claro que ela ficou indignada, afinal me mostrei exatamente como ela pensava que eu fosse: desinteressada e irresponsável. Mas, afinal, mesmo com raiva, eu não ia ofender a mulher, por mais que ela me ofendesse com a pergunta.

Depois, conversando sobre isso com meu irmão, acho que poderia ter falado o que ele sugeriu:

— A senhora tem um gato?

— Um gato? — ela perguntaria. Ou responderia "sim" ou "não". Enfim, tanto faz.

— É, um gato tem logo sete vidas pra senhora cuidar.

Meu irmão é um gênio, às vezes.

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