
— Você não confia em mim?
— Em você, sim. Não confio no amor. Ele inventa novidade demais.
"A gente ri, a gente chora
E joga fora o que passou..."
Tenho mania de guardar coisas. Mesmo velhas, usadas e gastas; algumas nem funcionam mais. Mantenho todas numa estante, ou em alguma gaveta, só pelas lembranças que elas me trazem. O problema de tudo termina sendo o espaço, ou a falta dele. É quando eu não vejo outra escolha a não ser me desfazer de algumas das minhas preciosidades.
Todo dia de faxina é uma novela; dói quando separo as coisas que não prestam das que ainda me servem. Com lágrimas nos olhos, jogo no lixo as que ficaram no primeiro grupo. Tem que ser, afinal não vale a pena guardar só para poder contemplá-las, enquanto elas só fazem juntar poeira, entulhar, atrapalhar a passagem. Tem que existir uma reciprocidade.
Há algum tempo, joguei muitas das minhas tralhas fora. As lembranças ficaram, agora sem ocupar espaço, sem interferir na minha vida. Hoje, encontrei uma delas fora do lixeiro e, do nada, ela começou a funcionar, como se tivesse se arrependido de ter quebrado. Fiquei feliz em colocá-la outra vez em seu lugar, para exercer a função que tinha antes. Mas, me pergunto, quanto tempo será que durará agora? Para sempre?
O Palavras de Papel está de volta, com muitas cartas e a história que continua.