É preciso ter sangue frio. Ser calculista e, acima de tudo, não se deixar abalar por sentimentalismos inúteis. As emoções não devem existir; pena, compaixão, arrependimento. A única coisa que se permite sentir pela vítima é desprezo. Talvez um prazer insano durante o ato, típico daqueles que estão acostumados a tirar vidas.
É o que sinto agora, enquanto corto cada parte de seu corpo, separando os pedaços, retalhando. É mais interessante quando é violento, sangrento. Você agoniza, mas não morre. Ainda. A lâmina afiada torna a investir contra o seu corpo, repetidamente, com força, com insistência. Minha expressão continua impassível, mesmo quando cravo os dentes na pele, estraçalhando a carne. O sangue continua a jorrar e espalha-se pelo chão, manchando tudo em volta com um curioso tom de vermelho-berrante.
Um sorriso amargo surge em meu rosto. Sei que está morrendo. Quero que esteja; preciso que esteja. Apesar disso, sinto ainda o pulsar da vida dentro do corpo frágil. Cerro os dentes. Não sei mais o que fazer.
Matar você em mim tem sido uma tortura. Juro que dói mais em mim que em você.
"You know she's a little bit dangerous"
8 comentários:
lindo este post: frio, calculista, mórbido, poético! as palavras ganham força e deixam de ser apenas palavras como na música de Cássia Eler.
Aki no Rio também tem um contador de homicídios, mas não sei aonde ele fica, nem kero saber, pois as vzes a ignorância é a melhor morfina que há.
abraços libertários
pensador | Homepage | 08.30.08 - 8:00 pm
obs: não sou senhor, como vc me tratou no meu blog.Este tratamento é muito formal, muito A-Eu (A=prefixo de negação latino), onde meu ser se desbota, onde abstrato se torna figurativo, o sonho se torna realidade, e o surreal deixa de ser imaginário e irreal, em suma, perde o sentido.
abraços libertários
pensador | Homepage | 08.30.08 - 8:14 pm
Matar alguém dentro de si dói, principalmente quando temos que nos conscientizar de que emoções como "pena, compaixão, arrependimento" não devem existir num momento desses.
Confesso que estava prestes a te chamar de assassina mórbida ao começar a ler. ahaha
Me surpreendi com o final.*__*
Li como uma metáfora, tá? Imagino que foi essa a sua intenção e se sim, foi pra mim extremamente profundo.
"Matar" alguém, deletar de nossas vidas, está sendo devastador pra mim e isto independe de ser em relação a um par, estou fazendo isso com uma grande ex-amiga (que era como uma irmã), mas sobrevivo.
Um grade abraço, Marina!
Um excelente final de semana!
Jéssica Alves | Homepage | 08.30.08 - 9:47 pm
O Sol e a Lua eram dois apaixonados, que viviam a trocar olhares através da Terra. Mas uma fagulha do Sol uma vez acertou a Lua. Um desaforo maior do que a Lua conseguia imaginar, onde já se viu? Provocar tamanha cratera sem mais nem menos?
Dizia o Sol que a Lua teimavam em aparecer mais do que o necessário, nem esperava ele se pôr direito pra começar a chamar a atenção da Terra. A Fagulha foi só um aviso, disse o Sol.
E o meteorito que faltava pra tirar a Lua de órbita. Desde então a Lua faz questão de vez ou outra mostrar sua superioridade ficando bem em frente ao Sol e mostrando sua beleza por completo, atraindo todos os seres da Terra a contemplá-la.
Assim surgiu a Lua Cheia, e ela nunca mais se importou com os olhares do Sol.
Bruno | Homepage | 08.30.08 - 11:09 pm
Ah, o mais difícil do que "matar" alguém que amávamos tanto, é ter que fazer isso frequentando os mesmos lugares que ela.
Sei exatamente como se sente. Vinte anos não são vinte segundos. Vida que segue.
Um beijo e força para nós!
;D
Jéssica Alves | Homepage | 08.30.08 - 11:58 pm
E eu pensando que ia ser o primeiro post sanguinário daqui
Ahh :P
ZeH | 08.31.08 - 2:33 am
Somos verdadeiros psicopatas quando estamos apaixonados. Sentimento estranho. Nos deixa no limite de tudo, da alegria e da tristeza, do amor e do ódio...
Perfeito seu texto Marina.
Bjs.
Berenice
berenice | Homepage | 09.02.08 - 6:36 pm
Adorei o texto!!
beta | Homepage | 09.30.08 - 2:55 pm
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