Não era noite, não era uma festa. Sequer era um dia incomum. Havia acordado com muito sono e cumpria minha rotina, como sempre. No lugar onde eu chegava, as pessoas não se olhavam, nem conversavam. Não havia muitas pessoas; ainda era cedo. Era uma sala de espera. Fria e branca. Estéril. Desinteressante.
Eu saía do corredor, quase correndo, atrasada, pensando no pouco tempo que teria para tomar banho e chegar ao trabalho. Percorri a sala até a metade, quando vi um olhar, por trás de uma folha de jornal. Um olhar desconcertante. Continuei andando, sem conseguir desviar o olhar e sem tampouco conseguir enfrentar. Abri a porta e saí para a rua.
Ostentava minha rotineira cara de sono e não estava bem vestida. Usava uma velha roupa de ginástica e os cabelos precariamente presos numa trança. Olheiras, cara lavada. Sem adereços. Um guarda-chuva, uma agenda e um celular na mão. E aquele olhar no pensamento.
Não me apaixonei, nem parei ou voltei para ver se algo acontecia. Mas admito que fiquei pensando e revivendo aquela cena. Ninguém nunca me olhara daquela maneira antes.
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