— Oi.
Com o susto, os olhos úmidos da menina se arregalaram e procuraram nervosamente a origem da voz. Vinha do outro lado da cerca, de onde aparecia somente a cabeça de um menino de cabelos lisos despenteados e olhos cinzentos. Ela não gostava de chorar na frente das pessoas e ficou com vergonha do seu espectador.
— Quem é você?
— Sou seu vizinho. Meu nome é Lucas.
Ela não disse nada. Com os olhos, procurou sua babá, que havia desaparecido, antes do surgimento da cabeça inconveniente por cima da cerca-viva.
— Qual é o seu nome?
Ela voltou a olhar para ele, sentindo-se um pouco contrariada, tanto pela insistência do garoto, quando pelo sumiço da babá.
— Cecília.
— Seu irmão está doente, não é?
Os olhos de Cecília encheram-se de água e ela mordeu o lábio, fazendo força para não chorar.
— Não, ele está bem — ela disse, com grosseria.
Lucas ficou confuso.
— Não foi o que a minha mãe disse.
— Ele só está dormindo — Cecília apressou-se a explicar. — Ele vai acordar logo.
E com a escassa sabedoria de sua pouca idade, Lucas entendeu. E teve pena.
— Claro que vai.
— Ele sempre dorme muito, é normal.
— Ele deve gostar muito de você.
— Não sei, ele gosta de esconder minhas bonecas.
— Ah, aposto que é só de brincadeira. Pode perguntar à sua mãe, ela vai dizer.
O bico que Cecília fazia para não chorar ficou maior.
— Minha mãe não fala.
Lucas inclinou a cabeça pro lado.
— Ela é muda?
— Ela não fala nada desde que Nathan começou a dormir.
"Menininha, você e eu sabemos
Que as tristezas vêm e vão e só as cicatrizes ficam
Você voltará a dançar outra vez
E a dor terá fim."
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