De repente, ouço um barulho. Fiquei quieta, não queria que ninguém atrapalhasse o santuário de solidão que eu tinha construído naquela madrugada. Mas parece que eu não era a única que não conseguia dormir. Olhei pra perto da porta e consegui ver quem era. Henrique e seus fascinantes olhos negros. Mas não estava sozinho. Flávia estava pendurada pescoço dele, puxando-o para si. Eles estavam em trajes de banho e iam para a piscina. Comecei a me sentir mal. Deveria ter ido dormir, como todo mundo, em vez de ficar curtindo a usual insônia. Agora teria que esperar e ser obrigada a assistir ao romance dos dois.
Flávia pulou na piscina e Henrique fez o mesmo. Mergulharam e ela o abraçou, mas ele soltou-se sutilmente e nadou para o outro lado. Ela logo o alcançou e prendeu-o contra a borda. Os corpos estavam molhados e unidos. Os gestos dela deixavam claras suas intenções e ele não me pareceu querer recusar. Afinal, ela era tudo o que ele poderia querer, não? Era tudo o que um homem poderia querer.
Ela estava de costas para mim e Henrique de frente para ela. Falavam baixo, sussurrando. Como crianças. Ou amantes. Meu coração pareceu perder um compasso e eu comecei a sentir minha respiração faltar. Antes que pudesse presenciar algo que não me interessava nem um pouco, aproveitei um instante em que eles estavam distraídos e corri para dentro da casa. Antes de fechar a porta, porém, não consegui evitar e arrisquei um olhar para trás. Não tenho certeza, mas tive a impressão de ver dois olhos muito negros me fitarem. Preferi não pensar; entrei no quarto depressa e, debaixo do meu cobertor, respirei fundo.
E comecei a chorar.
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