terça-feira, 10 de março de 2009

Feijoada Completa

Quando éramos pequenos, meu irmão e eu costumávamos nos divertir criando brincadeiras que aproveitassem a imensidão do quintal de casa. Bem, falo por mim; ele se divertia mesmo era com qualquer coisa que incendiasse. Certo dia, ele fez uma fogueira com gravetos e tijolos (e fogo, obviamente) e teve a brilhante idéia de fazer uma feijoada. Como eu era pequena, topava qualquer idiotice que ele sugeria. Peguei feijão na cozinha, ele trouxe a panela e colocamos a água e o feijão, sem esperar ferver. Até que ele se lembrou do tempero.

— Tem que colocar cebola e tomate.

Grande tempero.

— Eu não gosto de cebola — reclamei.

— Tá… — Ele geralmente não aturava as minhas frescurites de pirralha enjoada, mas, como estava querendo minha ajuda ou simplesmente minha cumplicidade na travessura, ponderou. E lhe veio uma idéia: — Então pega jambo. Jambo branco pra ser cebola, jambo rosa pra ser tomate.

— Tá.

Eu aceitaria qualquer acordo pra não ter cebola; mas, na verdade, tinha me animado com a criatividade da coisa. Peguei os jambos e cortei em rodelas, jogando dentro da panela já borbulhante. Até que decidimos que já tinha dado tempo. Ele tirou a gororo… feijoada do fogo, serviu em um dos meus pratinhos de brinquedo e me deu para experimentar.

— Toma.

Olhei o prato com expressão de nojo. Comequié, meu irmão? Eu podia ser jovem e deslumbrada, mas nunca na minha vida fui burra. Eu disse que ele que provasse, mas também não teve coragem. Então, deixamos a gosma esquecida lá e fomos inventar outra brincadeira.

— Poxa… E agora?

— Bora aproveitar a fogueira e fazer pipoca? Ali tem um vidro de maionese.

— Legal! Vou pegar o milho.

Jovens inconsequentes.


"E vamos botar água no feijão."

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