segunda-feira, 17 de novembro de 2008

Pão e Circo


E lá ia ela, passeando pela calçada de sua casa, mal se agüentando em cima das pernas rechonchudas e pálidas. Tinha formas bem roliças, de modo que a pele ficava esticada por cima de todo aquele tecido adiposo em excesso. Era visível o esforço que fazia para equilibrar-se e mais óbvio ainda era o motivo pelo qual ela era tão branca: levantar-se para caminhar ao sol devia ser um martírio sem tamanho.

Mesmo assim, com um legging justo, moletom extra G e tênis, ela caminhava. Sabia que era um hábito saudável e, juntamente com a saladinha do almoço e as barras de cereal, faria muita diferença na bastante divulgada dieta que começara no início da semana. Desta vez, optara por uma dieta mais radical: suco de laranja no café da manhã, salada verde no almoço, barra de cereal no lanche e sopa de verduras no jantar. Nada de pães, bolos ou doces. E adeus, chocolate.

Eu diria que ela logo passaria mal, se eu não soubesse que a famosa dieta é uma farsa, desde que começou. É de dar pena a maneira como ela passa fome na frente das pessoas, enquanto se esconde para comer os bombons que comprou mais cedo. Ainda no primeiro dia, passou na padaria, encheu uma sacola de pães doces e levou para casa. Virou motivo de gozação no bairro.

E lá ia ela, caminhando pela rua de sua casa, com um pacote de doces embaixo do braço e a equivocada certeza no sucesso do número que montou no picadeiro de sua vida.


* Não perca a continuação do projeto Palavras de Papel.

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