domingo, 9 de novembro de 2008

Esperança


O vento brincava com seus cabelos, enquanto ela esperava em cima da rocha, com o olhar fixo no horizonte. A qualquer momento um navio, jangada, caiaque, ou quem sabe uma garrafa apontaria naquelas águas turvas e agitadas do oceano ilimitado. Traria uma mensagem singular, enigmática, mas que ela compreenderia, como se fosse falada ao seu coração. Fosse em italiano, alemão, élfico ou russo, ela entenderia. Não havia ainda um código no mundo que um coração não decifrasse e que não traduzisse para uma só linguagem. A dos sentimentos.

Ela sabia que essa mensagem viria. Não importava quantos já esperaram por ela e acabaram desistindo no decorrer do tempo. O tempo era relativo; aliás, ele não existia naquele lugar. Ali só havia um intervalo entre uma existência e outra, não se podendo chamar de tempo. Tempo era só depois; tempo se passava. Tempo se media no relógio. O intervalo era interminável, quase infinito. O infinito não se conta. Os números que o contariam, decidiram-se por ser infinitos.

Sem nem sequer um estímulo para continuar, nenhum recado, nenhum aviso, nenhum e-mail, ninguém entendia como ela não desanimava, como prosseguia com tamanha coragem naquela espera eterna. Embora pudesse desistir e, quem sabe, devesse desistir, ela sentia que não havia escolha. Era seu propósito, sua missão. Sonhara com aquilo desde quando descobrira o sentido. O que significava para ela; talvez não o mesmo que significasse para outros tantos que desistiram. Talvez por isso abatiam-se, abandonavam a espera. Desistiam, porque não o desejavam como ela.

Outros tantos, enlouquecidos na espera sem futuro, lançaram-se apenas com o corpo de cima das pedras, mergulhando à procura da almejada resposta. Nadando de encontro às ondas inquietas, de onde não retornava nenhum alento. Depois das ondas, só o vazio. Pereceram dessa maneira, mas ao menos puseram um fim ao sofrimento. Na angústia de submeter-se a tal destino oco. Sem expectativa, sem futuro. Sem nada.

Mas ela continuava impassível em seu posto de vigília, em cima da rocha, a esperar… A crer… A sonhar… Eternamente.


* Não percam as mensagens e as respostas às cartas no Palavras de Papel.

* Escrevi este texto em 2006. Encontrei aqui e resolvi compartilhar.

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